Às vezes comemos demais e queremos fazer uma limpeza no nosso corpo. Aí entram os tão famosos e aclamados sumos detox. E há já várias empresas próprias para o efeito. Vendem sumos detox de legumes, vegetais e frutas que prometem substituir as refeições durante uns dias, 100% naturais, sem corantes nem conservantes. Há também saladas e sopas e tudo adequado a cada corpo e a cada necessidade. Têm poucas calorias, prometem uma perda de peso rápido e um organismo desintoxicado.
Nos vários sites disponíveis para o efeito, há planos de um até cinco dias, tudo dependendo do gosto e da necessidade do cliente.
Mas serão estes sumos assim tão amigos do nosso corpo?
Daniela Duarte, fundadora da clínica Agita Kalorias, começa por explicar ao i que “é importante perceber que o nosso corpo tem formas de fazer o nosso próprio detox tanto nos rins como o intestino têm o papel de eliminar tudo aquilo que são toxinas a que estamos expostos diariamente” e que, “quando juntamos um sumo de fruta com vegetais, por exemplo, obviamente têm fibras e minerais importantes para a nossa saúde mas não têm um efeito” de emagrecimento rápido.
A responsável desta clínica diz que os alimentos e sumos detox “são apenas um mito da nutrição muito enraizado” e que muitas pessoas os associam “à sua finalidade de ‘limpar’ o organismo e eliminar toxinas e costuma incluí-los na alimentação após férias com mais excessos ou épocas festivas”. Mas não será bem assim: “Na verdade, o nosso organismo, principalmente através do fígado e dos rins, consegue ter esse efeito de desintoxicação”.
E Daniela Duarte alerta também para os riscos que podem ter consequências. “Estes sumos poderão tornar-se um problema para algumas pessoas quando são consumidos em quantidade excessiva”, alerta. E continua: “Se fizer uma ‘dieta detox’ apenas com estes sumos, é verdade que poderá perder peso com alguma facilidade, mas este peso perdido será apenas à custa de perda de água, reservas de hidratos de carbono e fezes que, assim que se retoma a alimentação habitual, regressam à normalidade”. E nem podem ser tomados por todas as pessoas. “Além disso, o consumo exclusivo destes sumos detox está contraindicado para crianças, adolescentes, mulheres grávidas ou a amamentar e pessoas com doenças renais, diabetes ou imunossupressão”.
Ao i, Daniela Duarte deixa ainda outras recomendações no que diz respeito a estes sumos tão aclamados e que são tomados por muitas pessoas, incluindo caras bem conhecidas do público. “É ainda importante considerar que estes sumos com frutas e vegetais perdem uma grande quantidade de fibra quando estes alimentos passam do seu estado natural para sumo e que um copo de sumo poderá conter três a quatro peças de fruta e vegetais, características que retiram algum do interesse nutricional destes sumos”.
E existem outras formas de melhorar o nosso organismo sem termos que beber apenas sumos durante dias. Quais? Daniela Duarte explica. “Fazer uma rotina alimentar regular, iniciar o dia com boas fontes de fibra como os vegetais e alimentos ricos em antioxidantes como os frutos vermelhos, aumentar a hidratação e ser fisicamente ativo”.
Se, por hábito, a pessoa não consome frutas e vegetais de forma regular, “estes sumos poderão ser uma forma prática de obter as vitaminas e minerais fornecidos por esses alimentos. Sendo estes sumos, também, uma fonte de água, se tiver dificuldade em beber água durante o dia e preferir bebidas com algum tipo de sabor, estes sumos vão poder contribuir para a sua hidratação”.
Mas, defende que, “como em tudo, o equilíbrio é a chave”. Assim, se a pessoa gosta “de iniciar, por exemplo, o dia com um sumo nutritivo pode perfeitamente fazê-lo, mas deve manter o dia equilibrado. A mastigação é um dos processos mais importantes para conferir saciedade e é uma das coisas que se perde se optar por fazer uma dieta a base de sumos”, defende a nutricionista.
Nos últimos anos, estes sumos têm tido uma grande procura e os anúncios para o seu consumo são uma realidade, por exemplo, nas redes sociais de muitos. Daniela Duarte lamenta: “A nutrição é, infelizmente, muitas vezes alvo de ‘modas’”, acrescentando que “conforme o tempo quente começa, existe a tendência para se tentar recuperar dos maus hábitos criados no inverno e a procura por soluções milagrosas”. Enquanto profissional de nutrição, a responsável defende “que o processo de aprendizagem alimentar deve ser consistente, é um trabalho constante para que aprenda a manter uma boa relação com a alimentação de forma equilibrada”.
E adianta ainda que trabalha com estratégias comportamentais. “Essa é uma das razões pelas quais criei um programa exclusivo de acompanhamento”, destacando que qualquer pessoa que frequente a clínica “passa por um processo de aprendizagem alimentar desde aprender a ler rótulos alimentares, trabalhar a questão emocional relacionada com a alimentação, entender equivalentes alimentares, sempre de acordo com as suas preferências alimentares”, porque acredita “que a nutrição vai muito além de um plano alimentar, é um trabalho conjunto em que existem muitas variáveis a trabalhar”. E finaliza: “Apesar de existirem ao longo do tempo ‘modas’ que vão surgindo, tento sempre desmistificá-las na minha prática diária”.
A estes sumos juntam-se ainda os que são feitos em casa. Um responsável da nutrição ouvido pelo nosso jornal dá-lhes a mesma importância: “Não fazem mal à saúde, não são maus para o nosso corpo. Mas não devemos consumir apenas isso. O nosso corpo precisa de mais”, atira.
E há ainda no mercado os batidos de emagrecimento, que prometem uma perda de peso rápida e, no fundo, saborosa. “É uma ajuda para quem está em processo de perda de peso porque podem ajudar a controlar o apetite mas nunca funcionarão se não forem conjugados com refeições de alimentos sólidos e com um estilo de vida saudável”, diz a mesma fonte.