Boutique da Cultura

São teatros de bairro. Ou “incubadoras de arte”. Tanto faz. São poucos metros quadrados e muito talento

A morada do talento. Se a indicação fosse pedida sem detalhar pormenores, o mais provável seria o algoritmo começar a disparar insistentemente notificações sobre como comprar bilhetes para assistir aos próximos festivais de verão, onde marcam presença artistas que só nas redes sociais podem ter um palco suficiente para apresentar eventos diários para os milhões de seguidores. 

A sugestão não seria, por isso, enganosa. 

Pelo menos se o talento fosse reduzido ao número de pessoas que o artista alcança.

Mas se a rota principal apresentada poderia ter sentido único, não seria oportuno descartar a opção que disponibiliza novas direções. 

E é nesta fase que poderia surgir um novo destino: Boutique da Cultura. 

Localizada na Avenida do Colégio Militar, em Carnide, o espaço representa da melhor forma como nalguns casos poucos metros quadrados podem ser relevantes na programação cultural oferecida. 

Depois de ter reposto  DemoKratía, no último mês de abril, a propósito das comemorações dos 50 anos da liberdade, uma apresentação inesperada mas sobretudo digna de qualquer palco maior do País, outras propostas continuam em cena, com destaque para a homenagem à vida e obra de Ary dos Santos – Com Quantas Palavras Se Faz Um Poeta. 

Não é arriscado dizer que a visita à Boutique da Cultura vale até pelo espaço em si – com as paredes revestidas na sua totalidade com livros cujas lombadas estão devidamente identificadas com as cores que correspondem aos respetivos  preços simbólicos. 

E, no final da viagem, uma avaliação merecidamente positiva: o talento só precisa definitivamente de uma morada para ter a capacidade de elevar uns metros quadrados à categoria de um teatro.