“Há caracóis”. A frase está escrita – muitas vezes ainda em ardósia – em vários pontos do país, principalmente em Lisboa. O sol aperta e já sabe bem. Ainda que cause espanto a muitas pessoas – principalmente estrangeiros –, o caracol é um petisco tipicamente português. Sendo que é muito mais popular entre os lisboetas do que em outros pontos do país.
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), só no ano passado importámos mais de três milhões de euros de caracóis, com ou sem concha, vivos, frescos, refrigerados, congelados, secos, salgados ou em salmoura, mesmo fumados (exceto caracóis do mar), o equivalente a quase 2,2 milhões de quilos.
Um aumento face aos quase 2,7 milhões de euros registados no ano anterior, correspondente a mais de 2,1 milhões de quilos.
Mas, se recuarmos a 2012, os valores eram muito inferiores. O valor gasto em importações rondava os 800 mil euros, mais de um milhão em termos de quilos.
O seu consumo, diz o povo, é melhor nos meses sem “e” e, por isso, falamos de maio a agosto. Mas há quem já comece a degustar este petisco em abril e termine apenas em setembro. E há restaurantes que vendem toneladas nestes meses.
E, ainda que seja um produto conhecido como tipicamente português, a verdade é que a grande maioria vem do norte de África, mais concretamente de Marrocos. E não só. É frequente importar de Espanha, Irlanda, Indonésia, Vietname, França ou Tailândia. Ao contrário do que acontece com as caracoletas, made in Portugal.
O que se faz em Portugal
Miguel Oliveira, presidente do Conselho de Administração da Widehelix – Cooperativa de Helicicultores, chegou a explicar ao nosso jornal que em Portugal não se produzem caracóis mas sim caracoletas: Helix Aspersa Maxima. “A quantidade produzida em Portugal está altamente deficitária versus a procura, mesmo contando apenas com o mercado nacional”, disse nessa altura, acrescentando que “só para o mercado nacional, o que produzimos não chega, não ‘sobrando’ nada para exportação”.
O responsável garantiu ainda que a caracoleta produzida em Portugal “é considerada uma especialidade, senão a melhor a nível europeu, tendo desta forma, por parte dos distribuidores europeus, a preferência na procura”.
Benefícios
Os caracóis são constituídos maioritariamente por água e, por isso, representam uma espécie de fórmula de sucesso para quem quer petiscar sem engordar. É rico em proteína, pobre em gordura, contém sais minerais como o magnésio, ferro e zinco. Mesmo os caracóis cozinhados em restaurantes têm um baixo valor calórico: cerca de 100 kcal por 100 gramas, ou seja, a forma como são confecionados não altera as suas calorias. Mas há um senão: tem que se fugir a juntar pão ou cerveja como acompanhamento.
É certo que os caracóis não são apenas considerados como iguarias em Portugal, já que também é frequente encontrá-los em vários outros países. Também são bastante apreciados em França e Itália onde são chamados escargots e lumache, respetivamente.
Mas, se recuarmos na história, os caracóis eram usados como um alimento de fácil acesso quando a carne escasseava. E, apesar de ser sazonal, servia para alimentar as populações, principalmente nas zonas do país menos abastadas. O mesmo acontecia com a apanha de conquilhas e de outros bivalves.