António Costa mais perto do Conselho Europeu 

Macron, mesmo após dura derrota nas europeias, não deverá desistir de uma hipótese alternativa a Von der Leyen. Ainda assim, António Costa parece ser o nome mais certo para a presidência do Conselho.

Após a chamada de 356 milhões de cidadãos europeus às urnas no último domingo, a ocupação dos principais cargos da União Europeia marca a ordem do dia. O assunto é agora particularmente do interesse de Portugal, uma vez que António Costa, ex-primeiro ministro que se demitiu em novembro do ano passado na consequência de um processo judicial, está aparentemente na pole position para ocupar o cargo de presidente do Conselho Europeu.

Costa é o preferido dos socialistas para presidir ao órgão responsável por mediar as reuniões e estabelecer negociações entre os chefes de Estado ou de Governo dos 27 Estados-membros, e a composição do novo Parlamento Europeu parece ser-lhe favorável.

Isto porque o Partido Popular Europeu ganhou força, aumentando a sua representação para 189 assentos, o que poderá facilitar a reeleição de Ursula Von der Leyen como presidente da Comissão Europeia – algo que parece longe de estar garantido, uma vez que os socialistas não declararam ainda o apoio que a presidente da Comissão precisa e, mesmo queu declarassem, as famílias europeias raramente votam totalmente em conformidade. É de lembrar que Von der Leyen necessita passar por duas eleições, e caso falhe a eleição no Parlamento Europeu não poderá voltar a candidatar-se, abrindo uma crise política em Bruxelas.

 Alguns analistas consideram que a derrota estrondosa dos liberais – principalmente de Emmanuel Macron – poderá levar o Renew a apoiar a escolha da alemã, uma vez que o principal negociador e agitador dissolveu o parlamento francês, convocando eleições legislativas, e encontra-se assim focado nos assuntos internos. Tem sido também constatado que os resultados de 9 de junho desproveram os liberais de poder negocial e, assim, a ideia de Draghi – tanto para a Comissão quanto para o Conselho – pode cair por terra após a redução desmoralizante para 79 deputados – apenas mais 6 que os Conservadores e Reformistas.

Mas Emmanuel Macron deve tentar bloquear Von der Leyen, atrbuindo a culpa a Bruxelas pelo estado a que França – e outros países em que direita mais conservadora subiu de forma considerável – chegou, e deve procurar um candidato forte.

Ainda assim, é possível que seja alguém desta agremiação política europeia a ocupar o cargo de Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, com o nome da primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, a aparecer como o mais provável, mas pelo qual Macron não deverá estar disposto a iniciar uma guerra. Isto porque o grupo dos Conservadores e Reformistas será a terceira maior família europeia a partir do momento em que integrar o partido do primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, e podem também forçar ou reivindicar o cargo de Alto Representante.

Já a presidência do Parlamento Europeu parece assegurada para a incumbente, Roberta Metsola, do Partido Nacionalista de Malta, integrante também do PPE.

Possíveis entraves para Costa

É certo que o ex-primeiro ministro português é neste momento o favorito para presidir ao Conselho Europeu, contando até com o apoio oficial do seu sucessor em São Bento, Luís Montenegro, e possivelmente até com o do Presidente gaulês, já que, e segundo palavras de um representante francês ao Politico, Macron simpatiza com Costa, «com quem gosta de entrar em discussões intelectuais», pode ler-se no website do jornal. Mas a viagem de António Costa para Bruxelas poderá não ser um passeio no parque.

Mesmo não estando acusado no processo que fez cair o seu Governo suportado por uma maioria absoluta na Assembleia, a investigação ainda não foi dada como terminada, ainda que o ex-chefe do executivo português tenha pedido para ser ouvido antecipadamente, onde naturalmente reinsistiu na sua inocência. O processo levou os meios de comunicação internacionais a notar a morosidade com que opera a justiça portuguesa.

Tal inocência parece certa, mas há pretendentes socialistas que  podem usar esta trama judicial para afastar Costa do alto cargo europeu. É o caso de Mette Frederiksen, primeira-ministra dinamarquesa, apesar de ter saído enfraquecida das eleições e não apresentar uma base de apoio sólida.

Mesmo assim, e ainda que o Partido Popular Europeu tenha sido o grande vencedor da noite de 9 de junho – com mais 54 deputados que os socialistas – Von der Leyen está mais longe de ser reeleita como presidente da Comissão Europeia do que António Costa de chegar à presidência do Conselho Europeu.

Nos corredores de Bruxelas fala-se que os altos cargos já estão praticamente atribuídos, mas basta um erro de cálculo na eleição de Von der Leyen para que se mergulhe num impasse.

goncalo.nabeiro@nascerdosol.pt