‘Nem todos os portugueses podem ir para os hotéis no Algarve em agosto’

A vice-presidente da AHP diz que a ‘oferta tipicamente hoteleira’ nunca foi acessível para o mercado interno no verão e lembra que há outras alternativas. Não é caso único: ‘Os franceses não vão para Cote d’Azur em agosto’.

Depois da pandemia e mais recentemente com o aumento das taxas de juros que asfixiou os orçamentos familiares, o setor já suspira de alívio? Saímos de uma situação de pandemia para entrar numa situação de guerra que levou a um aumento da inflação e, para a controlar, o Banco Central Europeu subiu as taxas de juro. O setor, a par do aumento da procura, assistiu a roturas nas cadeias de fornecimento, de abastecimento e ao encarecimento de todo o processo produtivo. É evidente que isto colocou, particularmente em 2022, desafios muito complexos à hotelaria, designadamente na questão da mão-de-obra, porque não estávamos preparados para uma recuperação tão vibrante.

Nessa altura, muitos trabalhadores optaram por ir para outras áreas…

Naturalmente. Na altura, tínhamos feito um levantamento e falava-se na necessidade de 15 mil trabalhadores para a hotelaria. Houve um desvio de trabalhadores para a distribuição, para o online e para outras profissões que não estavam tão afetadas pela pandemia e que também ofereciam compatibilização da vida pessoal e familiar com a profissional. Esse é outro grande desafio da nossa indústria. Foi logo um desafio muito grande que tivemos de absorver, depois foi a questão das taxas de inflação e dos custos da energia. Houve ajudas do Governo para esse efeito e depois também houve algum ajustamento e foi isso que sentimos na preparação da operação para 2023 que já conseguiu responder de forma diferente, mas ainda com desafios de custos muito elevados com a energia, custos de financiamento, custos das cadeias de abastecimento e com a dificuldade por parte de muitos hotéis que tinham estado fechados, o que implicou responder à manutenção geral dos equipamentos e das infraestruturas. Ou seja, 2022 foi um ano em que se tentou respirar um bocadinho e 2023 foi de consolidação. Houve resultados superiores aos que se estimavam, quer em 2022, quer em 2023, e a recuperação em termos de operação aconteceu. No entanto, a procura sofisticou-se e os mercados mudaram. Um dos exemplos é o mercado americano, que tem poder de compra robustecido por um dólar muito forte, que descobriu Portugal com muita força. Aliás, chegou a ser o primeiro mercado em Lisboa e tem sido uma aposta muito sólida que começou nesta boa parceria público-privada com o Turismo Portugal com as campanhas em Times Square. Tem sido muito interessante acompanhar esse mercado com as companhias aéreas, se houvesse mais slots teríamos ainda maior presença deste mercado que tem tudo para ser bom, pois fica mais tempo, tem maior poder de compra e aposta muito na qualidade de serviços. Esse também é outro desafio muito importante, porque há segmentos de luxo a que temos de ajustar. Não se pode vender tudo a todos e também é uma oportunidade para a nossa indústria crescer em preço e em serviço.

Durante muitos anos dizia-se que havia muitos turistas, mas que gastavam pouco, agora os preços têm vindo a aumentar. Há margem para subir ainda mais?

Durante muitos anos fomos acusados de ser um turismo para backpackers [mochileiros]. Lembro-me de vários opinion makers que diziam que os turistas vinham para cá, mas que consumiam muito pouco, deixavam uma pegada elevada e não deixavam riqueza no país. Já, nessa altura, não era essa a realidade, poderia ser em alguns segmentos. No entanto, há espaço para vários tipos de turismo, é isso que também faz a riqueza de um destino turístico e um país também tem de ter esta diversidade. Neste momento, somos acusados do contrário, de que os preços na hotelaria são tão elevados que o mercado nacional não consegue responder. Temos espaço para crescer, por exemplo, na diferenciação de quatro para cinco estrelas, um posicionamento que não é só da hotelaria, mas em toda a cadeia de valor do turismo e das indústrias colaterais, porque temos um mercado que pode pagar isso e, por outro lado, também temos de segmentar de alguma maneira. É como dizia, não vender tudo a todos e há destinos que aguentam perfeitamente este tipo de mercado.

É o caso americano?

É o caso do mercado americano e do destino Lisboa, Porto, Alentejo e de alguns segmentos dentro do Algarve, onde há espaço para a hotelaria de luxo, porque é disto que estamos a falar. É preciso ter um bom balanço, pois há espaço para crescer no segmento de luxo e depois há que ter margem para outros mercados que nos procuram. A verdade é que o turismo continua a ser muitíssimo valorizado e o mercado britânico continua a ser aquele que nos procura sustentadamente.

A ideia de destino de sol e praia já está ultrapassada?

Está, mas a questão do bom tempo é importante. Ninguém vem para apanhar chuva e para estar dentro de casa ou dos hotéis. Temos felizmente um turismo que não é só sol e praia e mesmo no Algarve não é só sol e praia, porque se for para concorrer nessa área há outros destinos. Portugal tem a vantagem de estar na Europa, da língua, da simpatia, da gastronomia e de termos um serviço que não implica estar horas à espera de uma refeição. Depois, temos tudo o resto que tem crescido, a norte tem havido um crescimento muito interessante e na região centro nem se fala, claro que partimos de bases muito mais baixas. Ainda assim, o nosso inquérito do balanço da Páscoa e perspetivas para o verão revela que há ainda fortes assimetrias e que há destinos que sofrem mais com a sazonalidade. Isso revela que ainda temos espaço para crescer e que temos de captar mercados para essas regiões. Mas há fins de semana, como o da Páscoa, que são claramente muito superiores ao resto.

Apesar do mau tempo…

Apesar do mau tempo, mas as pessoas já tinham programado e a média de preços na hotelaria só nesse fim de semana foi 42 euros superior relativamente ao resto do mês. Além disso, temos outros eventos marcantes e obviamente a oferta acompanha a pressão da procura. Por outro lado, também temos espaço para crescer em valor junto de determinados segmentos, em determinadas épocas e não vale a pena pensar que conseguimos que os portugueses possam ir para os hotéis em agosto no Algarve. Não conseguimos, porque esses portugueses que conseguiriam vão, muitas vezes, para fora, porque querem também outro tipo de experiências.

Para a maioria estamos perante preços proibitivos…

Não há só hotelaria. Há hotéis-apartamentos – e as famílias refugiam-se mais nesta oferta porque podem cozinhar, etc. – apartamentos turísticos ou alojamento local mais estruturado. A oferta é esta e nos outros países também é assim. Os franceses não vão para Cote d’Azur em agosto, em Espanha também não vão para hotéis de cinco estrelas vão para os de três estrelas. Mas o mercado nacional no nosso inquérito continua a estar no top três.

A par do Reino Unido e Espanha…

Exatamente. Há grandes grupos que trabalham muito bem o mercado famílias. Mas quando vemos os dados do INE vemos que os portugueses viajam para fora à procura de destinos exóticos e caros, não por causa da falta de poder de compra.

Como explica aos portugueses, muitos deles já com um discurso anti-turismo, que não podem passar as férias do verão no Algarve por não terem orçamento para isso?

A oferta tipicamente hoteleira nunca foi uma oferta para o mercado nacional, embora hoje o mercado nacional e o residente seja muito interessante porque como temos um compósito de estrangeiros que residem com caráter mais permanente em Portugal e fazem parte do mercado interno, viajam muito em Portugal e consomem hotelaria à séria. É o caso dos franceses, dos brasileiros e dos americanos residentes e são o mercado interno que consome hotelaria. Não acho que o perfil tenha mudado tanto, são duas questões diferentes. Uma é olharem para o turismo e acharem que temos já turismo a mais ou que há saturação do turismo. Outra, é que é inacessível para nós. Quanto à acessibilidade nunca foi muito acessível, em agosto, a hotelaria de quatro e cinco estrelas. Mas, há outros destinos que foram surgindo e que têm outros atrativos. E mesmo em termos nacionais, felizmente já não é só o Algarve que oferece sol e praia, já experimentei praias fluviais, claro que a água é fresquinha, mas há coisas fantásticas para se fazer sem ser irmos todos para o Algarve, nessa altura. O Algarve é mais caro porque é a lei do mercado, em que naturalmente há uma maior procura em agosto e as pessoas têm a oportunidade de poder escolher outros períodos de tempo. Não vamos dizer à hotelaria: ‘Estão demasiado caros para o mercado nacional’ porque há de tudo: há hotéis e, felizmente, há de três estrelas, duas estrelas, há hotéis-apartamentos, há apartamentos turísticos, há alojamento local. Acho que as pessoas com isso lidam bem, mas não se pode acusar uma coisa e o seu contrário, primeiro éramos backpackers, agora somos demasiado caros. Afinal, em que ficamos? O que me parece é que o poder de compra dos portugueses, todos na globalidade, deveria crescer. O salário médio devia crescer para todos podermos consumir turismo e outros bens que são já quase de primeira necessidade e de gozar férias com outra folga financeira. Questão diferente é onde está o ponto de equilíbrio, se há saturação do turismo ou se não há, até porque saiu há pouco uma notícia do El País que dizia que Lisboa está a morrer do seu êxito. Curiosamente, uma semana depois, fez um outro artigo que diz que todas as cidades europeias se estão a debater com o êxito do turismo e dá uns exemplos: Dubrovnik, Veneza, Florença, Barcelona, Copenhaga, Madrid e o que estão a fazer para conseguirem manter a sua identidade.

O que representa um desafio…

Mais uma vez, é uma questão de equilíbrio. Por exemplo, Lisboa é uma cidade cosmopolita e, como tal, tem marcas internacionais, lojas internacionais, restaurantes internacionais, hotéis internacionais e depois tem aquilo que é a nossa identidade: os hotéis específicos, mais pequenos, mais numa localização premium, restaurantes de gastronomia tradicional. É preciso este equilíbrio entre uma cidade cosmopolita e um destino que tem identidade, mas não quer dizer que tenhamos de voltar à paróquia. Por outro lado, é muito interessante porque nesse artigo a jornalista até chama a atenção para várias estatísticas e tive a ver quer o Censos 2021 e o de 2011 para fazer comparação e uma das acusações que é feita é que Lisboa perdeu 30% da população, não é nada verdade. A grande perda de população de Lisboa foi entre 81 e 91 e a partir daí tem sido uma perda mínima.

É em relação a determinadas freguesias?

Se olharmos para a arrondissement em Paris ou se olharmos para determinadas localizações em Londres, pergunto: quem lá vive? Quanto a Lisboa, vou ser muito franca, as casas eram tão pequeninas, tão pequeninas em alguns dos bairros históricos identificados que questiono quem podia viver lá? Poderia dizer que dava para alojamento estudantil, para jovens que se querem emancipar os pais, etc. Mas para famílias não, já ninguém vive naquelas condições. Foi feito um levantamento pela Câmara Municipal de Lisboa e as condições de habitabilidade eram muito depauperadas e estender o que se verifica em determinadas freguesias a toda a Lisboa não acho justo para a cidade. É preciso termos um equilíbrio que as outras cidades também têm que é olhar para determinados bairro e para determinadas zonas.

Antes do alojamento local ninguém queria passar pela Baixa…

Exatamente, e a degradação do património era imensa. Não só na Baixa, mas também na Avenida da Liberdade. Havia os hotéis, abriam uns spots, mas o resto estava muitíssimo degradado. A hotelaria começou a puxar pela Avenida da Liberdade e pelas transversais e o alojamento local pela Baixa. O comércio ainda precisa de uma requalificação e de haver um equilíbrio entre as lojas tradicionais, as lojas de luxo e as lojas mais internacionais. Foi uma boa iniciativa as lojas históricas, mas depois não pode haver só lojas de pastéis de nata, porque a certa altura também se torna numa coisa indistinta. Podemos fazer do pastel de nata o nosso embaixador, mas não só. Temos de procurar estas marcas que nos diferenciam, saber apostar nelas fortemente e não ter este complexo de cidades saturadas ou não saturadas. Para evitarmos proibições, o equilíbrio entre a hotelaria, a habitação e o alojamento local tem de ser muito bem balanceado e tem de se fazer muito mais habitação.

O turismo é visto por muitos como um dos culpados pelos preços das casas…

Vale a pena olhar para os censos. Nunca se construiu tão pouco como agora e a escassez de nova construção ou de reabilitação para a habitação é gritante. O mercado que foi pegando no alojamento local, quer na Baixa, quer em alguns destes bairros históricos foi reabilitando para os turistas e faltou políticas públicas de valorizar, de discriminar positivamente a recuperação para habitação. A hotelaria não tem pressionado os preços para cima, a não ser da própria hotelaria, porque o que é reabilitado para um hotel é para um hotel, se fosse reabilitado para a habitação teria um retorno muito mais rápido. Na hotelaria começam logo as despesas, é necessário pagar aos trabalhadores, a luz, a água, todos os consumíveis, etc. Enquanto nos apartamentos faz-se um e imediatamente o mercado absorve. Quanto ao alojamento local é importante discriminar positivamente a habitação perante o alojamento local em zonas onde se justifique e quando a Câmara fez esse levantamento era para manter este rácio e esse equilíbrio entre os dois.

Daí ser proibido a atribuição de novas licenças em determinadas zonas…

Nas zonas de contenção. Depois surgiu esta lei que tem uma proposta de revogação em cima da mesa, mas nem tanto ao mar, nem tanto à terra. É preciso encontrarmos um equilíbrio para perceber, designadamente, o que as outras cidades estão a fazer até porque há acórdãos do Supremo Tribunal Administrativo, etc.

É certo que o turismo continua a ser apontado como o grande salvador da economia portuguesa…

Não há dúvida nenhuma que o maior peso nas exportações é o turismo, não quer dizer que tenha que ser todo no alojamento. O segmento de valor que temos vindo a falar e que vai da animação à gastronomia, ao turismo natureza, à nossa cultura faz parte do turismo e por isso é que o turismo é mais transversal e é um grande motor da economia portuguesa. Agora, não podemos dizer que, por causa disso, podemos ter todos os tuk tuks que queiram aparecer no mercado, todo o AL que queira aparecer ou toda a hotelaria que queira surgir. Há capacidades de carga que têm de ser ponderadas para que o turismo continue a ser o maior ativo que Deus nos deu. Temos um país com condições meteorológicas extraordinárias, com uma riqueza natural e património humano e natural ao mesmo tempo – estamos a falar da paisagem do Douro, que é uma paisagem onde houve intervenção humana substancial – e tudo isso é de uma riqueza extraordinária. A juntar à população, à paz, às acessibilidade, somos um país que tem infraestruturas excelentes e temos de aproveitar isto e de continuar a apostar em sermos um país recetor de turismo porque é um ativo fundamental para qualquer economia. Também temos uma indústria que se tem vindo a afirmar e tomara nós que houvesse outras indústrias no Algarve que pudessem complementar a oferta turística. O Autódromo do Algarve foi muitíssimo importante porque ajudou a trazer provas internacionais, equipas internacionais que ficam imenso tempo cá e ajuda a posicionar em termos de marca, de imagem o destino, algo muito importante. Trazer para cá congressos internacionais fora de época, trazer para cá circuitos de golfe, provas, etc. dá-nos notoriedade. Esta complementaridade que o turismo traz ajuda a fixar populações, a trazer atratividade ao destino e a distribuir melhor os fluxos no tempo e no espaço.

Em relação às taxas turísticas. A AHP criticou a ideia de Lisboa querer duplicar o valor e pediu maior transparência em Albufeira…

As taxas turísticas devem servir um de três fins. Ou servem para moderar a carga turística e são uma penalização, no sentido de não queremos mais turistas ou só queremos aqueles que pagam muito. É, neste momento, a intenção de Amesterdão, Veneza, Barcelona etc., ou seja, há carga turística a mais e a melhor maneira de controlar é usar o mecanismo mais velho do mundo que é tornar a coisa mais cara. O outro objetivo é compensar a pegada ambiental, a pegada de consumos, em que habitualmente há uma taxa que reverte para fundos ambientais para a preservação de património arquitetónico, como é o caso de Roma. E o terceiro fim é distribuir o peso que os turistas têm nas infraestruturas, como seja a água, as limpezas das vias, o uso de transporte, a fruição dos nossos jardins e redistribuir entre os residentes habituais e os turistas, o custo que cada câmara tem. E tem sido usada exclusivamente esta terceira lógica, daí dizermos que está a chegar um pouco à banalização, porque termos vários concelhos que não são ainda destinos turísticos e que já estão a aplicar com este racional. É o caso da Figueira da Foz, Maia, Amarante, Peniche, Santana e mesmo Vila do Conde, onde não há pressão turística. Em Maia, a maioria das pessoas vai trabalhar e assenta muito no turismo interno e se queremos desenvolver o interior é por aqui que deveríamos ir? Não faz sentido com o que as câmaras recebem a mais do IMI que os hotéis pagam, da água que os hotéis pagam e agora do IVA turístico – porque há uma distribuição no Orçamento do Estado, em que 7% do IVA de todas atividades turísticas que são cobrados em determinado concelho revertem para o próprio concelho. Não é isso que se vê no resto da Europa.

No caso de Lisboa, duplicar o valor faz sentido?

Não faz sentido. Desde 2015 que existe taxa turística e aí Lisboa tem uma parte virtuosa, a lógica não é nem a primeira de desmotivar, nem a terceira de distribuir o custo, mas a segunda que é investir em equipamentos turísticos e que revertam para a cidade, quer para os seus residentes, quer para os seus visitantes. É o caso da recuperação da estação Sul Sueste, os estudos que foram feitos para o Museu Judaico, o Museu das Joias da Coroa, mas também para eventos. Quem pagou a parte da Câmara Municipal relativamente ao Web Summit foi a taxa turística, o mesmo aconteceu com a Jornada Mundial da Juventude, isto é, para eventos de posicionamento do destino e que compensou o destino pela sua organização. Mas esse modelo virtuoso foi conseguido porque há uma gestão partilhada. A taxa turística reverte para um fundo que é governado por uma comissão de gestão, da qual a própria hotelaria participa. Por outro lado, todos os anos há um reforço de cerca de sete milhões para o reforço das juntas de freguesia. Por exemplo, para aquelas zonas que o El País dizia que têm maior carga. No entanto, do total dos 170 milhões que foram cobrados só foram consumidos 95 milhões então não faz sentido duplicar o valor, senão entra para as despesas correntes e desvirtua-se o modelo. Os hoteleiros já pagam para a promoção turística na Associação de Turismo de Lisboa e Lisboa também recebe uma parte muito importante do IVA turístico. Os turistas podem pagar quatro euros? Poder podem, mas também estamos a falar de turismo interno. E Lisboa serve um bocadinho de lebre para as outras câmaras, daí ser muito importante o sinal que estamos a dar. Esta questão da discriminação dos residentes deveria ser ponderada, sobretudo nestes destinos que estamos a falar. E depois há esta discrepância, uns é a partir dos 16 anos, outros é a partir dos 13. Vi agora uma coisa absurda em Vila do Conde em se paga até às 14 noites um euro por dia. Por exemplo, no Algarve, num sítio onde a taxa é dois euros se vai uma família de quatro pessoas, mais a avó são 10 euros por dia.

Em relação ao novo aeroporto, a solução peca por ser tardia? Até lá, a Portela tem de recusar passageiros…

Já sabíamos há muito que era um problema adiado e esta decisão dá-nos esperança. Mas entre a decisão e a capacidade de execução vai muito tempo. O aeroporto da Portela com as obras que agora vão ser introduzidas irá ser otimizado ao máximo, no entanto, tem perdido 1,3 milhões de lugares, não quer dizer que sejam todos turistas, sem falar nos constrangimento que temos quando desembarcamos.

Em relação à imigração. Como vê as novas regras e até que ponto poderá afetar a contratação de trabalhadores para a hotelaria?

Em primeiro lugar, congratulamo-nos com os acordos no âmbito da CPLP – dava uma maior flexibilização dos trajetos da imigração e que são exclusivos, pois como sabemos não podem transitar no espaço Schengen – e ainda não estava a coisa amadurecida quando foram anunciadas estas alterações à lei, designadamente a revogação do princípio da manifestação de interesse. Estamos com alguma preocupação para ver como é que isto vai evoluir.

E as embaixadas vão passar a ter um trabalho redobrado…

Até aqui, a situação não estava ainda fluida e já estavam os serviços consulares a pedir reforço de meios. Vamos ver como é que vai ser, sendo certo que já sinalizámos, assim como outras associações do setor agrícola, do setor industrial, do setor da construção civil, dos transportes, que precisamos de imigrantes, assim como toda a Europa. Temos grupos no nosso setor, em que 40% da mão-de-obra é imigrante e há a preocupação de encontrar as melhores condições para que a imigração possa singrar. Evidente que isso não nos leva a fechar os olhos às situações que têm existido. Há um problema de alojamento em Lisboa e fora temos muitos grupos que asseguram o alojamento aos imigrantes.

Quantas pessoas são ainda precisas?

Neste momento a maior preocupação é os que cá estão não saiam. Há cada vez mais esta carência de mão de obra, quer mais qualificada, quer menos qualificadas. Esta falta verifica-se a todos os níveis, não só ao trabalho mais operacional ou, se quisermos, menos qualificado, como também se verifica já ao nível dos serviços técnicos e do apoio, seja técnicos de informática, seja de marketing. Portugal entre 2015 e 2023 passou de 3% para 15% na mão de obra imigrante. Segundo a Segurança Social, são hoje mais de 720 mil os trabalhadores imigrantes, sendo 115 mil só no setor do turismo. O saldo na Segurança Social entre contribuições e prestações desta mão de obra imigrante é de 1.500 milhões de euros.