Por meio da tecnologia, as burlas crescem cada vez mais. Prova disso é o facto de que 2023 foi o ano em que se registaram mais detidos por crimes de burla: segundo a GNR, em declarações ao i, foram detidos 131 suspeitos. Depois, surge o ano de 2021, com 109 detidos e, por fim, o de 2022, com 94 suspeitos. Relativamente ao corrente ano, até ao dia 18 de junho, já foram detidos 61 suspeitos por crimes relativos a burlas.
A força de segurança explica que, das ocorrências registadas, aquelas com maior incidência “dizem respeito às burlas em que são utilizadas plataformas de pagamento (MB WAY, Revolut, Paypal, Pagaaqui e Payshop), plataformas de vendas online (Olx, Facebook, Telegram, Marketplace, Amazon, WiZink, etc), bem como a burla ‘Olá Pai/Olá Mãe’ e mensagens em que os burlões se fazem passar por instituições públicas”.
Na semana passada, a Polícia Judiciária desmantelou uma rede criminosa envolvida no esquema de burlas conhecido como “Olá Pai / Olá Mãe”, realizado através do WhatsApp. A investigação começou em agosto de 2023 e levou à descoberta de que os criminosos utilizavam cartões SIM oferecidos gratuitamente por uma operadora em festivais e museus para abrir contas no WhatsApp e enviar mensagens em massa. Foram apreendidos 1.300 cartões SIM e identificados cinco indivíduos e três empresas como arguidos. A operação, chamada “Cartões sem Rasto”, também resultou na apreensão de modem’s e na prisão preventiva de um suspeito que operava múltiplos dispositivos simultaneamente.
Por outro lado, há três semanas, a PJ_deteve seis suspeitos no Algarve por envolvimento num esquema de burla no setor imobiliário. Segundo a investigação, o grupo adquiriu mais de 300 imóveis através de financiamentos fraudulentos, totalizando cerca de 40 milhões de euros. Os suspeitos são acusados de associação criminosa, burla qualificada, branqueamento de capitais e falsificação de documentos. A operação “Orange” resultou na apreensão de dezenas de imóveis, veículos, uma embarcação, equipamento informático e documentos relevantes.
“Por norma, o modus operandi utilizado pelos burlões é a utilização de plataformas de compra e vendas online, o acesso e uso indevido de dados pessoais, o acesso remoto indevido e a utilização de ações de Phishing para acesso a dispositivos, contas ou dados pessoais (através de e-mails fraudulentos) ou de Smishing ou Vishing, que são as mesmas técnicas e objetivos do Phishing, mas através de SMS ou chamada telefónica, respetivamente”, adianta a GNR, explicando que, quando o crime é cometido através de plataformas de vendas, “o suspeito contacta a vítima, mostrando-se interessado em comprar determinado produto que está à venda online e refere que pretende efetuar o respetivo pagamento através da plataforma MB WAY, alegando ser uma forma mais fácil e eficaz”.
Depois, a burla pode processar-se de diversas formas. “Percebendo que os lesados desconhecem o funcionamento da aplicação, o suspeito convence-os a deslocarem-se a uma Caixa Multibanco (ATM). Seguindo as indicações do suspeito, as vítimas acabam por associar o número de telemóvel do suspeito aos dados da sua aplicação, sendo informadas que o dinheiro ficará disponível com brevidade. A partir desse momento, o suspeito fica com o controlo total de acesso à conta bancária da vítima, através da aplicação”, indica.
A_GNR salienta que, “numa outra possibilidade, depois de conseguir que a vítima aceite receber o valor por MB WAY, o burlão seleciona, na sua aplicação, a opção ‘Pedir dinheiro’, em vez de selecionar a opção ‘Enviar dinheiro’”. Como a vítima desconhece “em pormenor o funcionamento da aplicação e encontra-se a aguardar o envio do dinheiro, é informada pelo suspeito de que já fez a transferência e que é só aceitar. Ao selecionar a opção de aceitar, a vítima acaba por ser burlada”.
Os conselhos da GNR e as formações gratuitas
Naquilo que diz respeito às vítimas, a GNR frisa que “estas são escolhidas de forma aleatória”. Mas, à semelhança do número de burlões detidos, 2023 foi também o ano em que se registaram mais vítimas de burlas: 5.962 vítimas. Seguem-se os anos de 2022, com 5.551 vítimas, e 2021, com 4.649 vítimas. Neste ano, até ao dia 18 de junho, a GNR teve conhecimento de 2.566 vítimas de burlas.
“Atenta a este fenómeno criminal, a Guarda Nacional Republicana reforça os seus conselhos aos cidadãos, numa situação de compra e venda, a estar particularmente atentos às opções que vão adotar”, realça a força de segurança, apelando aos cidadãos que sigam medidas como a não aceitação de métodos de pagamento que desconhecem ou o seguimento de instruções de estranhos;_a necessidade de informação prévia sobre qualquer serviço novo de pagamento junto do banco; a necessidade de não associação de um número de telemóvel que não seja o do cidadão a serviços bancários ou o não fornecimento de dados confidenciais ou pessoais via correio eletrónico ou SMS.
Naquilo que concerne a compras na internet de forma segura, a GNR aconselha a que “comprove que a loja online é segura, procure informações sobre a mesma na Internet, nomeadamente se dispõe de endereço físico, número de telefone, email e fax”; “assegure-se que na página web aparece identificado o responsável da loja online e a sua localização”; “desconfie sempre das ofertas demasiado atrativas, promoções imperdíveis e valores muito abaixo do mercado”; “certifique-se que o site adota medidas de segurança para garantir a privacidade dos seus dados”, entre outros.