Portugal é, a par da Itália, o país da União Europeia com maior percentagem de população idosa: são 186 idosos por cada 100 jovens. A conclusão é de um estudo da Pordata realizado no âmbito do Dia da População e revela ainda que o nosso país é o 2.º da União Europeia com maior índice de envelhecimento e o 4.º país do mundo com maior proporção de população idosa.
E além do aumento da idade mediana de 38,5 para 47 anos em duas décadas, a população idosa (65 anos ou mais ) tem crescido, genericamente, mais de 2% ao ano, desde 2019. Atualmente, são mais de 2,5 milhões de pessoas idosas, entre elas, mais de 3 mil centenários. O envelhecimento verifica-se ainda no número de indivíduos em idade ativa por idoso: há 2,6 ativos por cada idoso. Há 20 anos, eram quatro por cada idoso.
É possível, no entanto, encontrar diferenças consoante as regiões: “Em apenas dois municípios dos 308 do país há mais jovens do que idosos, e ficam ambos na Região Autónoma dos Açores (Ribeira Grande e Lagoa). Há 10 anos havia 36 municípios portugueses com mais jovens por idosos”, revela o estudo.
O documento diz ainda que, em Portugal, mais de um milhão de pessoas vivem sós, e destas mais de metade (55%) são idosos. Somos o 4.º país da UE com maior percentagem de idosos entre as pessoas que vivem sós.
É certo que o facto de vivermos mais tempo, aliado ao aumento da imigração, levou a que o país atingisse o maior número de residentes das últimas décadas, ultrapassando os 10,5 milhões de habitantes. Só no último ano a população aumentou 1%.
Mas nem o facto de recebermos imigrantes impede que “vamos continuar a envelhecer”, como explica Jorge Malheiros, geógrafo e especialista em migração. A imigração por si só não será suficiente para reverter o processo de envelhecimento. “Do ponto de vista macro, muitos países de onde vêm os imigrantes também estão a envelhecer. O país de onde chega mais população para Portugal é o Brasil, mas também ele passa por um processo de envelhecimento. A diferença é que neste momento conta com uma população muito mais jovem e o ritmo de envelhecimento ainda não é tão acentuado como foi em Portugal e ainda conseguem contribuir para a imigração com o envio de jovens ativos”, refere ao nosso jornal.
Envelhecimento sobe, fecundidade desce Jorge Malheiros lembra, no entanto, que este problema de envelhecimento não afeta só o nosso país, apontando o facto de os índices de fecundidade estarem a descer de forma generalizada em quase todo o mundo: “Com muito poucas exceções, os números de nascimentos em todos os países do mundo são muito baixos. Em 200 países devemos ter talvez uma dezena, no máximo uma centena, onde a fecundidade não diminuiu. Fora esses, em todos outros lados diminuiu”.
O responsável não tem dúvidas: “Provavelmente daqui a 75 anos estaremos a falar de uma população que estará estável em termos de números, mas muito envelhecida”. Esse é um problema com que as sociedades contemporâneas, na generalidade, já se começam a deparar. “Estes níveis de envelhecimento são muito mais significativos na Europa, mas também já são muitos significativos na China e começam a ser claramente preocupantes na América Latina e no continente americano, em geral”.
E questiona: “Como é que vamos viver com uma população tão envelhecida? Como é que vamos viver com uma população que tem uma figura de pirâmides demográficas, onde a percentagem de pessoas acima dos 60 anos e acima dos 80 tem valores muito elevados?”.
Jorge Malheiros defende que é preciso investir nos avanços em matéria de saúde, nomeadamente ao nível das doenças degenerativas. “Ainda não conseguimos fazer evoluir a esperança de vida com qualidade ao nível da esperança de vida global. Esse é outro esforço, assim como digo que é bom aproximar a fecundidade desejada da fecundidade efetiva também é preciso na medicina, mas depois também nos hábitos das pessoas e se calhar na própria revolução alimentar, conseguir aproximar mais a esperança de vida das pessoas com a qualidade. Isto é, conseguimos aumentar muito a vida, mas como uma grande dependência”.
“Deixarmos de envelhecer é mau sinal”_Maria João Valente Rosa, demógrafa e professora universitária, já admitiu ao i que o envelhecimento tem tonalidades diferentes no território. “Nenhuma parte do território escapa ao envelhecimento. Ou seja, cada vez existem mais pessoas nas idades superiores e menos pessoas nas idades mais baixas. Mas o envelhecimento tem matizes consoante as regiões e não queremos voltar atrás nesta matéria. Deixarmos de envelhecer é mau sinal porque era sinal que a mortalidade tinha aumentado muito”.
No entanto, lembrou que a ideia de envelhecer não representa um mau sinal, já que significa que estamos vivos. “Não gostaria de regressar aos anos 60 ou 70 de Portugal, em que o país era dos menos envelhecidos da Europa, pelos piores motivos. Nessa altura, a pobreza social era reinante. E em relação ao futuro, pelo menos a médio prazo, há também uma certeza: vamos continuar a envelhecer, pois as gerações mais numerosas, nascidas até meados dos anos 70, começam a chegar às idades idosas. A razão de o envelhecimento demográfico nos estar a deixar angustiados enquanto sociedade reside no facto de não nos termos adaptado à alteração dos factos e de continuarmos a funcionar como funcionávamos anteriormente”, salientou.