Altice France: Drahi poderá ter os dias contados no grupo

Em causa estão dívidas na ordem dos 25 mil milhões. Credores têm vindo a apertar o cerco e ‘ameaçam’ fundador.

O poder do fundador e multimilionário franco-israelita Patrick Drahi à frente da Altice poderá ter os dias contados. Em causa está a operação em França – que conta com a segunda maior operadora francesa, a SFR – e as dívidas de 24,4 mil milhões de euros, resultado, em grande parte, de décadas de aquisições com recurso ao endividamento, sobretudo numa era em que os juros estavam historicamente baixos. Ainda na semana passada, a Bloombergrevelou que o novo plano dos credores passa pela reavaliação do valor total da dívida, mas isso poderá colocar em risco o poder de Draghi. Um desfecho que, de acordo com a agência de notícias, é visto internamente como pouco provável.

A proposta agora avançada, a par da reavaliação da dívida prevê ainda a extensão das maturidades e contempla também um hair-cut – diminuição do valor de alguma dívida – de 15% ou redução dos juros. Como moeda de troca, os credores receberiam obrigações convertíveis em ações. Uma operação que poderá levar a que os credores passem a assumir o controlo da empresa de Drahi, no entanto, tudo depende do valor da conversão.

De acordo com a Bloomberg, os credores consideram que a Altice não consegue suportar o peso da dívida face à sua trajetória de ganhos e às necessidades de investimento. E como tal, propuseram ainda que parte dos três mil milhões de euros provenientes da venda de ativos e da recapitalização de dividendos fosse usada para reduzir a dívida garantida, além de exigirem que Drahi injete mais capital na empresa, revelam as mesmas fontes.

Braço de ferro

Em julho, a Altice pediu aos credores garantidos que aceitassem uma redução de 20% no valor das suas participações. O objetivo seria, em primeiro lugar, diminuir a sua alavancagem financeira para menos de quatro vezes os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização.

Esta instabilidade levou a agência de notação financeira Moody’s a cortar em março o rating atribuído à holding da Altice France, passando de ‘B3’ para ‘Caa2’, uma descida de dois patamares que coloca a empresa apenas três degraus acima do fundo da tabela de notações da Moody’s, revelou a Reuters.

Recorde-se que a Altice France é um dos três grandes ramos do grupo internacional. Os outros dois são a Altice International – onde está inserida a Altice Portugal – e a Altice USA, que é cotada em Wall Street. As duas primeiras já não negoceiam na bolsa.

E a operadora em Portugal?

Em cima da mesa esteve – ou ainda estará – uma possível venda da Altice Portugal. No entanto, sabe-se que não será para já – a Altice «explora várias opções» para vender ativos em Portugal. «Neste momento, não prevemos no curto prazo qualquer transação envolvendo o perímetro total da Altice Portugal. Estamos a continuar a explorar várias opções envolvendo o valor significativo de infraestruturas que existe na Altice Portugal e, se e quando houver razão para o fazer, outros anúncios serão feitos ao mercado», esclareceu Malo Corbin, responsável financeiro do grupo Altice.

O grupo controlado por Patrick Drahi vendeu a empresa de publicidade digital Teads à norte-americana Outbrain, um negócio avaliado em mil milhões de dólares (cerca de 900 milhões de euros) e que irá ajudar a reduzir a dívida, devendo a operação estar concluída no primeiro trimestre de 2025.

Aliás, no início deste ano, a Bloomberg revelou que a Saudi Telecom Company, a Iliad, do milionário francês Xavier Niel, e a private equity americana Warburg Pincus, associada ao ex-presidente do Credit Suisse, António Horta Osório, chegaram a avançar para a segunda ronda de negociações com a operadora de telecomunicações.

Na altura, a operadora era apresentada aos investidores estando presente num «mercado português de telecomunicações altamente atrativo», onde a Meo surgia como líder «indisputável» em todos os segmentos e com «fluxos de receita altamente diversificados com fortes alavancas de crescimento».

É certo que, desde essa altura até agora, as contas da dona da Meo não têm sido famosas, ainda que os valores tenham subido. As receitas da Altice Portugal ascenderam a 705 milhões no segundo trimestre do ano, o EBITDA atingiu os 252 milhões e o investimento da empresa foi de 95 milhões de euros. Já desde o início do ano, as receitas da operadora fixaram-se em 1.409 milhões de euros, o EBITDA em 511 milhões e o investimento global chegou aos 195 milhões de euros.

Ainda assim, a Altice Labs tem prejudicado a operadora. «A performance financeira da Altice Labs continua impactada pelo decréscimo de vendas de hardware e serviços para outras geografias», admite.

Por outro lado, as empresas de Hernâni Vaz Antunes – que ficou conhecido por ser o braço-direito do cofundador da Altice Armando Pereira, e que também está envolvido na Operação Picoas – estão a sofrer uma quebra de negócio. Ao que o nosso jornal apurou, esta queda reflete-se no número de trabalhadores – passou de cerca de 1500 para menos de 150 – e também no volume de negócios, que registou quebras na ordem dos 60%, a partir do momento em que o empresário bracarense começou a ser investigado. O Nascer do SOL sabe que mais de uma dezena destas empresas, que prestavam serviços ao grupo, fechou portas na sequência da quebra desses contratos por parte da Altice, que contratou novos prestadores com custos mais elevados.

Troca de cadeiras na administração

Muitos dos nomes conhecidos da Altice foram saindo ao longo dos últimos anos. A primeira grande mudança foi a saída de Alexandre Fonseca, CEO, para dar lugar a Ana Figueiredo. Depois disso e até agora, aconteceram muitas mais.

A mais recente, que teve lugar esta semana, prende-se com a saída de João Epifânio, gestor histórico da PT e Altice, que assumia funções na comissão executiva da empresa. Saiu por motivos que não foram justificados para dar lugar a Luís Mestre, que fazia parte da equipa de João Epifânio e que está há muitos anos na empresa.

Para trás, há mais mudanças. A primeira, há um ano, foi a saída de Alexandre Matos do cargo de administrador financeiro, que ocupava desde o final de 2017. Foi substituído por Gonçalo Camolino.

Também João Teixeira, administrador tecnológico, saiu para dar lugar a José Pedro Nascimento. A CEO da empresa criou ainda o cargo de Chief Legal Officer, que foi ocupado por Sofia Aguiar. Em janeiro deste ano, para os recursos humanos, entrou Madalena Albuquerque.

Ainda no ano passado, Alcino Lavrador deixou a liderança da Altice Labs, sendo substituído por João Paulo Firmeza

Todos estes novos nomes fazem parte da equipa de Ana Figueiredo e nenhum agora pertence à direção anterior.

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