Pela terceira vez este ano e pela segunda consecutiva, o Banco Central Europeu voltou a descer as taxas de juro em 25 pontos base. Uma decisão tomada face à melhoria de resultados na inflação, que em setembro ficou num patamar inferior a 2%.
Esta é mais uma decisão do BCE que representa uma ajuda para as famílias. «Estas descidas são favoráveis ao alívio nas prestações dos créditos à habitação das famílias portuguesas que têm o seu contrato de crédito indexado à Euribor. Todavia, as taxas Euribor já descontavam parte desta queda, mas é provável que mantenham a trajetória de descida», explica ao Nascer do SOL, Paulo Monteiro Rosa, economista sénior do Banco Carregosa.
Questionado sobre se este ano de várias reduções foi suficiente para os portugueses suspirarem de alívio, principalmente para quem tem crédito habitação, o economista é da opinião de que «a decisão vale mais pelo reforço da trajetória de descida das taxas de juro do BCE do que propriamente pela sua dimensão de 25 pontos», acrescentando que, «apesar de se tratar de um corte pouco expressivo de 3,50% para 3,25%, de apenas 25 pontos base, estando em grande parte já descontada pela Euribor, o mais importante é a tendência marcadamente de descida nos próximos trimestres, sendo de esperar um gradual alívio das prestações do crédito à habitação nos próximos meses e ao longo de 2025».
Por sua vez, Ricardo Evangelista, diretor executivo da ActivTrades Europe, diz que «o impacto deste corte será particularmente sentido nos juros do crédito a taxa variável, como as hipotecas, que, com a queda das Euribor, deverão diminuir». Mas, por outro lado, «os juros gerados pelos depósitos a prazo também deverão sofrer uma redução».
E não considera que poderá ser suficiente para aliviar as famílias tendo em conta que «as taxas de juro ainda se mantêm acima do nível considerado neutro, ou seja, em território restritivo». No entanto, «a tendência continua a apontar para uma melhoria gradual».
Mais um corte até ao final do ano
Depois de mais um corte, a instituição liderada por Christine Lagarde pode voltar a fazê-lo até ao final do ano. «O mercado antecipa um novo corte de 25 pontos base na próxima e última reunião do BCE em 2024, no dia 12 de dezembro, sendo a probabilidade da materialização dessa descida de 91%, fechando o ano nos 3% a taxa de depósitos do BCE, resultando numa descida de 100 pontos base no presente ano de 2024», diz Paulo Monteiro Rosa.
E explica o que o corte desta quinta-feira já era esperado. «Há quatro meses essa taxa [de depósitos] do BCE era de 4%, tendo o banco central da Zona Euro descido as taxas de juro pela primeira em 5 anos no passado dia 6 de junho, iniciando um novo ciclo de política monetária expansionista».
Na reunião no dia 12 de setembro, diz o economista, «foi mais ou menos consensual no seio dos membros o BCE uma manutenção das taxas de juro» na reunião desta quinta-feira, «mas a rápida deterioração da economia da moeda única, sobretudo da alemã, a caminho do segundo ano consecutivo de recessão, e a notável desaceleração da inflação, especialmente dos preços no consumidor germânico, alteraram o discurso dos membros do BCE para uma postura mais dovish (mais concertada com descida de juros) nas últimas semana, abrindo caminho para o fundamental corte de 25 pontos de hoje, na tentativa de recuperar uma economia europeia que se deteriora rapidamente».
Ricardo Evangelista também diz que este corte já era esperado, recordando que esperado é também «um novo corte de 25 pb em dezembro, seguido de mais dois cortes da mesma magnitude no primeiro trimestre de 2025».
Para o futuro, o diretor executivo da ActivTrades Europe diz ser «difícil prever com exatidão, mas a tendência mantém-se, e são esperadas mais descidas», acrescentando que «atualmente, os mercados financeiros estimam que o BCE reduzirá os juros em mais meio ponto percentual no primeiro trimestre de 2025».
O que diz o BCE
O Banco Central Europeu justifica que o processo de «desinflação está bem encaminhado», o que tem justificado estas descidas constantes em 2024. No entanto, alerta também para as condições de financiamento, que «continuam a ser restritivas». E deixou ainda outro aviso: «Prevê-se que a inflação aumente nos próximos meses, antes de descer para o objetivo no decurso do próximo ano. A inflação interna permanece elevada, uma vez que os salários continuam a aumentar a um ritmo elevado. Ao mesmo tempo, as pressões sobre os custos do trabalho deverão continuar a diminuir gradualmente, com os lucros a amortecerem parcialmente o seu impacto na inflação».
Recorde-se que foram reduzidas as três principais taxas de juro. Consequentemente, as taxas de juros sobre a facilidade de depósito, as principais operações de refinanciamento e a facilidade de empréstimo marginal serão reduzidas para 3,25%, 3,40% e 3,65%, respetivamente, com efeito a partir de 23 de outubro.
O problema das poupanças
Se a descida dos juros é uma boa notícia para quem vai comprar casa ou tem crédito à habitação, o mesmo não se pode dizer para quem tem poupanças a render. Paulo Monteiro Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, não tem dúvidas: «Uma descida das taxas de juro pelo BCE implica uma queda na remuneração dos depósitos a prazo, mas as obrigações do tesouro tendem a valorizar num ambiente de descida das taxas de juro?», diz ao Nascer do SOL. E defende que os portugueses precisam de ter mais literacia financeira «devendo alocar as suas poupanças também a outros instrumentos financeiros além dos tradicionais depósitos a prazo». O economista é ainda da opinião de que os portugueses «devem diversificar mais as suas poupanças e canalizar cada vez mais o seu dinheiro para os mercados de capitais».