A reunião magna dos sociais democratas que se realiza este fim de semana em Braga servirá sobretudo para congregar o partido no poder em torno do líder e da sua estratégia, no momento em que Luís Montenegro é sujeito à maior prova desde que assumiu funções.
A encenação que estava preparada para o congresso poderá sofrer alterações depois de na noite desta quinta feira Pedro Nuno Santos ter anunciado ao país que a proposta que vai levar à comissão política na segunda feira vai no sentido de se abster na votação do orçamento.
O congresso, diz um barão do PSD ao Nascer do SOL, será um momento crucial para «apresentar resultados da ação do Governo nestes seis meses, para valorizar o orçamento, para vincar a importância da estabilidade e o esforço que o governo fez para que as contas do estado para 2025 sejam aprovadas». A ideia, diz este militante, é preparar o partido para qualquer circunstância que possa resultar do momento político que se está a viver.
Estando afastado o cenário de eleições antecipadas depois de conhecida a posição do partido socialista, é provável que o tom das críticas ao principal partido da oposição seja atenuado. Ao tomar a decisão de antecipar o anúncio sobre o que vai fazer na votação do orçamento, Pedro Nuno Santos esvazia muito do que seria espectável nos discursos deste fim de semana.
Num congresso que será pacífico do ponto de vista da discussão interna, Luís Montenegro vai apostar numa demonstração de força e de unidade do partido. A incerteza sobre o calendário eleitoral deverá ofuscar o tema das autárquicas e das presidenciais, embora não seja de excluir que os dois assuntos venham à baila e até que em matéria de autárquicas possa haver alguns anúncios. Marques Mendes, o mais que provável candidato presidencial do partido, vai marcar presença, mas uma presença discreta, à semelhança do que aconteceu noutros congressos, sem discursos e apenas uma passagem pela sala limitada no tempo. Uma coisa é certa: o aguardado anúncio oficial de uma candidatura não vai acontecer em Braga, nem nos tempos mais próximos.
Órgãos dirigentes deverão ter mudanças
Apesar de o partido viver momentos de estabilidade, é provável que o congresso sirva para fazer ajustes nos órgãos dirigentes.
Uma das mudanças prováveis deverá ocorrer na mesa do congresso. Atualmente é Miguel Albuquerque que ocupa o lugar, mas as discordâncias do presidente da mesa em matéria de orçamento podem ditar a sua saída. Foi o próprio que esta semana em declarações à comunicação social fez depender das negociações com o Governo a sua permanência na direção dos trabalhos e não é provável que as questões que dividem o executivo da Madeira e o Governo estejam resolvidas até ao fim de semana. Essa será a razão pela qual Albuquerque desabafou com um militante nos últimos dias: «Sei que vou entrar presidente, não sei se vou sair».
A verdade é que os últimos meses trouxeram alguns amargos de boca a Luís Montenegro com a sua escolha para presidente da mesa do congresso. As investigações judiciais que impendem sobre Miguel Albuquerque, que levaram inclusivamente a eleições antecipadas na região autónoma, foram um problema para Montenegro e causaram até um afastamento entre os dois homens que eram muito próximos até ao dia das primeiras buscas da Polícia Judiciária na sede do Governo Regional. Por tudo isto, o líder do partido pode ver agora uma boa oportunidade para substituir Albuquerque no lugar que ocupa na direção do partido.
Além da mesa do congresso, é provável que se registem outras mudanças, tendo já no horizonte os próximos desafios que o partido tem pela frente e a necessidade de preparar os sociais-democratas para reforçar o seu peso nestes atos eleitorais, em particular nas autárquicas, que não vão ser um desafio fácil para o partido.