Quando se trata da subida dos preços do imobiliário, Portugal não está sozinho. Existem outros países em que arrendar ou comprar casa é muito caro – mas também alguns onde é muito barato.
Primeiro, vamos a números mais gerais. Segundo o Índice Mundial do Custo de Vida 2023 do The Economist, Singapura e Zurique ocupam o primeiro lugar como as cidades mais caras do mundo para viver. Por outro lado, Damasco, na Síria, é a cidade mais barata das 173 analisadas, apesar da forte inflação local.
O estudo compara mais de 400 preços de produtos e serviços e destaca que a inflação global ainda é um problema, apesar de estar a abrandar, com uma subida de 7,4% em 2023, inferior aos 8,1% de 2022. Espera-se que a inflação continue a desacelerar este ano, com a ajuda dos aumentos das taxas de juro.
Nova Iorque, referência do estudo, foi ultrapassada por Zurique, que subiu no ranking devido à valorização do franco suíço e aos altos custos de alimentação e lazer. Singapura, por sua vez, destaca-se pelos elevados preços dos transportes e vestuário. Quatro das dez cidades mais caras estão na Europa Ocidental, impulsionadas pela valorização das moedas locais face ao dólar.
Em contraste, cidades mexicanas como Santiago de Querétaro e Aguascalientes subiram no ranking devido à valorização do peso. Já Moscovo e São Petersburgo registaram quedas acentuadas devido à depreciação do rublo após a invasão da Ucrânia. Damasco, Teerão e Trípoli são as cidades mais baratas, especialmente para alimentos e bens domésticos.
Os números já aqui ao lado
A 13 de outubro, Madrid foi palco de uma grande manifestação organizada pelo Sindicato dos Inquilinos, exigindo uma redução das rendas. A marcha, que começou ao meio-dia e seguiu até ao Palácio de Cibeles, contou com palavras de ordem como “Madrid será o túmulo do rentismo” e “Os senhorios estão a roubar-nos os salários”.
Valeria Rapu, porta-voz do sindicato, declarou que o tempo se esgotou para os senhorios, patrões e o Governo, apelando aos inquilinos que deixem de pagar as rendas, afirmando que não há polícia ou tribunais suficientes para os expulsar. Os manifestantes também exigiram a demissão da ministra da Habitação, Isabel Rodriguez, e pediram uma redução concreta nas rendas.
Este protesto faz parte de um movimento mais amplo em Espanha, com ações de desobediência civil a serem incentivadas, incluindo a recusa de pagar as rendas exigidas pelos senhorios. Javier Gil, outro membro do sindicato, sugeriu que os inquilinos passem a pagar o valor que consideram justo, já que os governos têm falhado em regular o mercado habitacional.
A crise habitacional em Espanha reflete tendências globais, com outras cidades como Nova Iorque e Kansas City também a enfrentar protestos de inquilinos. Estes movimentos em cidades como Madrid e Barcelona são impulsionados pelo aumento constante das rendas, agravado pela gentrificação e pelo impacto do turismo, que transforma áreas residenciais em zonas turísticas e aumenta os preços, prejudicando os residentes de longa data.
Segundo a Euronews, em dados divulgados em julho, Espanha ficou em quinto lugar no aumento dos preços dos apartamentos na Europa, com um crescimento de 44,34% no último ano, alcançando 5.637 euros por metro quadrado. Apesar deste aumento, o custo de vida permaneceu relativamente baixo, em 760 euros, semelhante ao de algumas economias da Europa de Leste, embora a economia espanhola seja mais robusta e sustentada por um forte setor de turismo.
Os salários médios em Espanha também se mantiveram relativamente altos, em 2.212 euros, o que sugere uma recuperação económica após os efeitos da pandemia. O principal fator que tem impulsionado o aumento dos preços dos apartamentos no país é a grande procura por propriedades em áreas turísticas como San Sebastián, Madrid, Valência, Barcelona, Palma, Alicante e a Costa del Sol. Assim como em Malta – já lá vamos –, muitos apartamentos são ocupados por estrangeiros ou destinados a arrendamentos de curta duração, o que reduz a oferta para os moradores locais, forçando-os a pagar preços mais elevados. A recuperação do setor imobiliário e o aumento das viagens após a pandemia também têm contribuído para essa tendência.
E há mesmo preços que podem ser considerados assustadores. Por exemplo, em Portals Nous – na ilha de Maiorca –, o preço do metro quadrado dos apartamentos é de 8.320 euros. O de moradias é de 11.852 euros. Em Calvià – também em Maiorca –, o primeiro valor é de 5.933 e o segundo de 6.047 euros. Em S’Agaró – na Catalunha –, são de 4.390 euros e 4.584, respetivamente.
A realidade do resto da europa
O custo do arrendamento em algumas das principais cidades europeias está a disparar, com Londres a liderar a lista, atingindo valores recorde nos preços das rendas. De acordo com a Rightmove e a Euronews, em dados divulgados há apenas alguns dias, o preço médio de arrendamento em Londres chegou a 2.694 libras (3.220 euros) por mês, um aumento de 2,5% em comparação com o ano anterior. Esses valores refletem fatores económicos como o aumento das taxas de juro de hipotecas e os custos de manutenção.
Apesar dos preços elevados em Londres, outras cidades europeias também enfrentam rendas altíssimas. Um estudo da empresa alemã Statista analisou os custos de arrendamento em 23 grandes cidades europeias e revelou que Amesterdão é a cidade mais cara para arrendar um apartamento de um quarto mobilado, com rendas médias de 2.275 euros por mês. Embora cara, Amesterdão ainda é quase 1.000 euros mais barata do que Londres.
Depois de Amesterdão, Roma e Paris ocupam os lugares seguintes no ranking das cidades mais caras para arrendar. Em Roma, o custo ronda os 2.000 euros por mês, enquanto em Paris o valor chega a 1.862 euros. Outras cidades holandesas, como Roterdão, Utrecht e Haia, também estão entre as 10 mais caras. Em Roterdão, os arrendatários pagam cerca de 1.795 euros por mês, enquanto Haia e Utrecht seguem de perto com rendas de 1.790 euros e 1.746 euros, respetivamente.
Munique, a capital cultural da Alemanha, também aparece no topo da lista, com rendas médias de 1.770 euros por mês. Para quem procura cidades mais acessíveis, Budapeste, Atenas e Turim oferecem opções mais económicas. Budapeste é a cidade mais barata entre as analisadas, com uma renda média de 950 euros por mês. Atenas segue com 1.000 euros e Turim um pouco mais cara, a 1.100 euros.
Os maiores aumentos na Europa
De acordo com a Euronews, no âmbito da divulgação dos dados sobre as cidades europeias cujos preços sofreram aumentos mais exponencias, a Sérvia registou o maior aumento nos preços por metro quadrado entre 2023 e 2024, com uma subida de 82,66%, atingindo 3.721 euros. No entanto, o rendimento médio no país não acompanhou esse aumento, situando-se em 764 euros por mês. A procura por imóveis na Sérvia é impulsionada por baixas taxas de juro no crédito à habitação e pela procura de investimentos em moeda estrangeira, além da chegada de inquilinos russos e ucranianos fugindo da guerra.
A Lituânia vem logo a seguir, com um aumento de 75,78% nos preços dos apartamentos, alcançando 4.461 euros por metro quadrado. Apesar do custo de vida ser mais elevado do que na Sérvia, os salários são quase o dobro, o que ameniza o impacto do aumento dos preços. A procura imobiliária é impulsionada pelo crescimento salarial, custos mais altos de construção e o afluxo de trabalhadores de setores como o da tecnologia.
A Roménia ocupa o terceiro lugar, com uma subida de 74,50% nos preços, chegando a 2.935 euros por metro quadrado. Embora o custo de vida e os salários sejam relativamente baixos, a procura imobiliária aumentou devido ao desenvolvimento de infraestruturas, subida dos salários e escassez de novos apartamentos.
Malta também viu um aumento, de 47,54%, atingindo 3.409 euros por metro quadrado. A pequena dimensão do país e a elevada procura por apartamentos, agravada pelo turismo e arrendamentos de curta duração, fizeram os preços subir, enquanto os rendimentos médios apenas acompanharam ligeiramente esse aumento.
Por outro lado, a Suíça continua a ter o preço mais elevado por metro quadrado na Europa, com 18.781 euros, além do rendimento médio e custo de vida mais altos do continente. A Grécia, em contraste, apresenta o preço mais baixo por metro quadrado, com 2.899 euros.