Soluções. Como os países mais frios do mundo aquecem as suas casas

Em alguns dos países mais frios da Europa e do mundo usa-se bombas de calor, aproveitam-se os recursos que a terra dá ou aquece-se o chão. Tudo para manter as casas a temperaturas confortáveis sem gastar uma loucura de energia.

Inverno é sinónimo de frio e nem sempre as casas estão preparadas para isso. E este é um problema não só de Portugal como de todo o mundo. As alternativas amigas do ambiente e que proporcionem um ambiente agradável já são uma realidade mas nem sempre são acessíveis a qualquer bolsa. E há, claro, países que estão na vanguarda.

Começamos pela Noruega. À hora a que escrevemos este texto estão 20 graus em Lisboa e 4 graus em Oslo, a capital da Noruega. É um dos países mais frios da Europa e já tratou de encontrar soluções alternativas para as suas casas. É que, em 2020, o país proibiu a utilização de gás natural para aquecimento de edifícios, uma iniciativa que se diz que vai ajudar a deixar de emitir 340 mil toneladas de gases por ano para atmosfera. Assim, foi arranjada uma alternativa: bombas de calor. E diz quem as usa que resolveram três problemas de uma vez: consciência ecológica, conforto e bolso. “Ao longo das minhas pesquisas sobre a questão, li que uma bomba de calor poderia produzir uma quantidade de calor equivalente a três ou quatro vezes a quantidade de calor injetada”, detalhou um assessor de comunicação de uma empresa ferroviária de Oslo à imprensa internacional.

Milhares de noruegueses usam este sistema de aquecimento, que se tornou também muito popular noutros países nórdicos muito frios, como é o caso da Finlândia ou Suécia.

Mas o que é, afinal, uma bomba de calor? É um dispositivo que consegue fornecer aquecimento, arrefecimento e água quente para utilização residencial, comercial e industrial. As bombas de calor obtêm energia do ar, do solo e da água e transformam-na em água quente ou fria. Isto funciona devido ao ciclo de refrigeração.

É um sistema tão bom que a Agência Internacional de Energia (AIE) considera que é uma tecnologia fundamental no combate às mudanças climáticas tão importante quanto os veículos elétricos, já que as soluções de aquecimento geram cerca de quatro mil milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, o que representa 8% das emissões globais.

“Há por aí muitos mitos falsos sobre bombas de calor. Alguns países produtores de petróleo e gás, como a Rússia, algumas pessoas, alguns setores, algumas empresas não querem ver essa transição”, explicou, citado pela Euronews, Caroline Haglund Stignor, investigadora do RISE (Research Institutes of Sweden). E garante: “Sim, bombas de calor funcionam em climas frios. Sim, bombas de calor funcionam em prédios antigos”.

Outras formas de aquecimento

Possivelmente já ouviu falar de casas passivas ou Passivhaus, como se diz na Alemanha. Foi, aliás, neste país que este sistema foi inventado na década de 1990. No fundo trata-se de uma habitação construída com o principal objetivo de ser totalmente eficiente.

A construção destas casas inclui isolamento térmico de alta qualidade. Ou seja, a casa é projetada com isolamento térmico de alto desempenho nas paredes, coberturas e janelas, com o objetivo de minimizar as perdas de calor no inverno e ganhos de calor no verão. Mas conta também com vedação do ar, orientação solar, eficiência dos sistemas de aquecimento e arrefecimento: são utilizados sistemas de alta eficiência, como bombas de calor, painéis solares térmicos, piso radiante, entre outros. E também, claro, fontes de energia renovável.

Em Itália, por exemplo, há regras para que se possa usar o aquecimento central. Neste país, o funcionamento dos sistemas de aquecimento central é regulamentado por decreto do Presidente da República que estabelece datas e horários para o acender e desligar os radiadores. Esta legislação tem como objetivo promover a contenção de energia e melhorar a eficiência energética em todo o país.

Sistema de aquecimento público

A Islândia é outro dos países mais frios da Europa mas tem um grande benefício:  é uma das regiões vulcânicas mais dinâmica do mundo. Assim, conta com imensos recursos geotérmicos. Além do fácil acesso a estes recursos, a Islândia tem também muitos recursos hídricos, o que permite ao país que cerca de 85% das suas necessidades energéticas provenha de fontes renováveis. Considerando apenas a eletricidade, 99% da sua produção provém de energias limpas.

O mesmo acontece com as casas. Reykjavík, a capital da Islândia, conta com um dos maiores e mais sofisticados sistemas de aquecimento geotérmico público. Assim, usa a água naturalmente aquecida existente no subsolo para aquecer os seus edifícios e casas. Uma medida que acontece desde 1930. Feitas as contas, mais de 90% das casas são aquecidas por água geotermal. E_trata-se de um sistema que não aquece só as casas como também os passeios de Reykjavík e Akureyri durante os dias frios de inverno.

Ondol tradicional e moderno

Na Coreia há outro tipo de aquecimento que também aproveita recursos. Chama-se ‘ondol’, o que significa ‘canos aquecidos’ e funciona de uma forma muito simples. São instalados canos no chão das habitações que são ligados às lareiras das casas – algo que também acontece em Portugal. Assim, sempre que a lareira estiver acesa, o fumo vagueia pelos canos e aquece o chão e a casa. Este era o sistema tradicional – ainda hoje usado – mas que agora vai dando lugar ao aquecimento por gás natural. Mas o sistema é o mesmo: usa-se água quente ou gás, ao invés do fumo. É preciso lembrar que este sistema é muito importante nas casas coreanas uma vez que, na sua cultura, maioritariamente sentam-se no chão e não em cadeiras ou sofás.

Ainda que na Suíça os habitantes não tenham por hábito sentar-se no chão, também é muito comum o chão aquecido. No país é normal as casas terem este tipo de aquecimento porque as temperaturas na rua são muito rigorosas. O mesmo serve para espaços públicos.