Técnicos escalados no fatídico dia 4 atenderam menos chamadas

Presidente do INEM aponta o dedo aos técnicos, que acusa de falta de motivação. Do outro lado considera-se que Sérgio Janeiro ‘esticou a corda’ no Parlamento. Janeiro defende que ‘não há responsabilidade unica’

Recusa-se a atribuir «uma responsabilidade única», reitera que tem condições para continuar a dirigir o INEM e diz que aquilo que aconteceu foi «uma tempestade perfeita». Sérgio Janeiro foi ontem ao Parlamento, à Comissão de Saúde, esclarecer os deputados sobre as greves no início do mês que levaram às falhas no atendimento no CODU (Centros de Orientação de Doentes Urgente) e, alegadamente, à morte de 11 pessoas. No entanto, deixou a mensagem, repetida várias vezes, de que as falhas não se deveram apenas ao número de técnicos que estavam em funções no 4 de Novembro, mas sim «à motivação». «O número não é o único fator: no turno da tarde, em que até estavam cerca de 70 por cento dos trabalhadores escalados no CODU, que eram 35 – e não menos de 10 como foi dito –, foi quando se começou a recuperar o atraso da manhã». E sublinhou: « Devo dizer que o estado anímico é muito importante. Nesse dia, por exemplo, dos que estiveram presentes, cada um atendeu em média menos chamadas. Ou seja, não é só o número que impacta, é também o estado anímico e motivacional dos funcionários. E garantiu: «É também ai que temos trabalhado muito para atuar». Segundo Sérgio Janeiro, que foi nomeado antes do Verão em regime de substituição, todos os procedimentos perante a convocação das greves foram cumpridos. «É comum no INEM e considerando a imprescindibilidade dos serviços no CODU» convocar todos os funcionários e, depois de aferir outras faltas por motivos alheios à greve, «garantir que estão os outros serviços mínimos», os 80 por cento definidos. Só então é definido «quantos podem exercer direito de greve fora do local de trabalho». O presidente do INEM explicou que foi exatamente isso que aconteceu, pelo menos nos dois primeiros turnos. «Ou seja, durante o turno da meia-noite às oito e das oito às 16 horas estavam mais do que 80 por cento presencialmente no CODU». Mas foi de manhã que começaram a existir atrasos significativos. Sérgio Janeiro disse aos deputados que foram imediatamente feitos contactos diretos com os dirigentes sindicais e com os trabalhadores para encontrar uma forma de «mobilizar as pessoas a fazer face à nossa iminente incapacidade de dar a resposta». Clarificou que o primeiro email saiu do seu gabinete três horas antes do início do turno da tarde – e não três minutos antes –, ao meio dia e 43 minutos. E a partir desse momento foram tomados todos os esforços para que a situação fosse regularizada, garantiu.

Responsabilidade não é solteira
No entanto, defendeu que aquilo que seria necessário para dar uma resposta a 100 por cento, «coisa que é impossível», uma vez que seria necessário cumprir «877 mil horas extra por ano». Com o reforço de mais 200 técnicos, essas horas passam a meio milhão e, com mais 400, a 225 mil. Ou seja, mesmo os 400 novos técnicos prometidos por este Governo não vão chegar para responder às necessidades operacionais.
«Atribuir uma responsabilidade única é de extrema dificuldade», respondeu Sérgio Janeiro à pergunta direta de Marisa Matias, do BE, sobre quem a deve assumir. No entender do presidente do INEM,a explicação é simples: «Quando o normal já é deficitário, qualquer constrangimento pode ter impacto».
Fontes contactadas pelo Nascer do SOL consideram que este dirigente «esticou a corda» quando apontou o dedo indiretamente aos técnicos que estiveram em serviço no dia 4 de Novembro. Mas, acrescentou, «o mais sensato é não levantar ondas nem criar mais polémica e esperar que as investigações terminem». O que, segundo apurámos, deve acontecer até ao final do ano.
Quanto a responsabilidades políticas, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, chegou a pedir a substituição da secretária de Estado que tutelava o INEM, Cristina Vaz Tomé, o que foi recusado pelo primeiro-ministro, que não quer tomar decisões antes de conhecer as conclusões do IGAS. No final da audição a Sérgio Janeiro, os deputados decidiram chamar a ministra para prestar esclarecimentos no Parlamento sobre o INEM.