Ventos de mudança?

À revelia dos jobs for the boys e dos carreiristas dos partidos, Oeiras Valley constitui um exemplo de fazer bem feito.

Quanto melhor conheço a classe política do país melhor entendo as dificuldades que enfrentamos para superar os desafios do desenvolvimento e da criação de riqueza. Na generalidade, os políticos tornaram-se funcionários dos partidos onde a cultura da troca de favores (muito enraizada no comportamento dos portugueses) é levada, por via do poder e da influência, ao extremo. O rigor dos princípios, da igualdade perante a lei e da assunção de missão é mais rara de encontrar nessa cultura que tenho traduzido pela expressão ‘funcionários do sistema’. Não é um tema fácil de resolver. Esta prática é comum na maioria das forças políticas dos países da UE e constitui também uma das explicações para a diminuição da velocidade do desenvolvimento e da influência geopolítica europeia. É uma aparente democracia por possuir muitas das condições necessárias para a existência de uma democracia, à qual faltam muitas outras condições necessárias o que numa estrutura lógica de construção da democracia nos permite concluir que apesar de necessárias não são suficientes. Vivemos num regime de aparente democracia ou, se quisermos olhar de uma forma construtiva, de democracia inacabada. O estado híbrido em que nos encontramos, prejudica a sociedade como um todo.
A prática dos debates políticos sobre temas corriqueiros e de quotidiano, muitas vezes sem qualquer adesão à realidade das pessoas e da sociedade é a demonstração maior da ausência de preparação para os cargos. Na minha opinião, a maioria, por falta de cultura de responsabilidade, trabalho e serviço público, não dignifica nem os cargos nem a política. Essa é a razão por que me dedico, muitas vezes, a apontar enormes deficiências concretas na gestão do quotidiano e essencialmente na ausência de pensamento e visão estratégica. Sou um dececionado critico público de Carlos Moedas, enquanto PCML, porque Lisboa é a capital e considero que a capital tem a responsabilidade de gerar bons exemplos. Contudo é da mais elementar justiça afirmar que a ausência de bom trabalho em Lisboa é, infelizmente, replicada em muitas outras autarquias do país – veja-se por exemplo o desastre que têm sido os 12 anos de gestão camarária em Sintra por parte de Basílio Horta. Em face de políticos tão fracos, sente-se a crescente exigência de mudança num pulsar de descontentamento de uma parte significativa da população que encontra abrigo na reclamação em movimentos mais radicais que, como também é fácil de observar, cresceram muito em expressão eleitoral na Europa (também por cá) nas duas últimas décadas. Como democrata e meritocrata, não me parece que essa seja a via.
Como os partidos tornaram o sistema refém de si próprios e não pretendem mudar a forma como abordam a carreira, o trabalho e a missão da política, sou um adepto das candidaturas de movimentos independentes (no sistema politico só é possível nas eleições locais) que permitem o acesso ao serviço publico àqueles que não estão interessados em prescindir de uma carreira profissional e que a dada altura da sua vida pretendem contribuir para a evolução da causa pública.
Por isso não posso, uma vez mais, deixar de enaltecer o exemplo dado por Isaltino de Morais e o seu movimento independente por constituírem em Portugal o melhor caso de competência no desenvolvimento de políticas públicas, ordenamento do território e desenvolvimento. À revelia dos jobs for the boys e dos carreiristas dos partidos, Oeiras Valley constitui um exemplo de fazer bem feito. Este pequeno território contribui para a economia nacional quase o dobro do setor do turismo… O bom exemplo de Oeiras deve inspirar muitos outros.
O exemplo de Oeiras serve também para demonstrar que há uma vida fértil na política longe dos partidos do sistema, longe dos partidos tradicionais.
Faço votos para que as próximas eleições autárquicas e as próximas eleições presidenciais (com Henrique Gouveia e Melo) possam alargar o território de independência ao jarreta e nocivo sistema dos partidos tradicionais que acham ter a sociedade refém.