Gouveia e Melo agradece!

A descredibilização da classe acentua-se e depois admiram-se do sucesso de Gouveia e Melo…

Com o Orçamento aprovado após tantos solavancos e empurrões dos radicais da esquerda e da direita, previam-se tempos um pouco mais calmos para o país. Mas a calmaria não traz notícias e, há que criar factos que gerem controvérsia e contribuam para agitar, vender jornais e/ou manter audiências televisivas em alta.
A mais de um ano das eleições presidenciais, a potencial candidatura de Gouveia e Melo vem enervando a classe política, com sondagens a conferirem-lhe uma clara liderança nas intenções de voto e a derrotar praticamente todos os candidatos que se vislumbram, alguns deslumbrados com o seu nome ser considerado como tal. Os partidos ‘gelam’ perante tamanho sacrilégio, criam-se epítetos de ‘novo Eanes’ e as redes sociais começam, de forma mais ou menos velada, a bombardear a personagem, já se vislumbrando cerrados ataques, caso ele ouse mesmo avançar.
Ao invés de tentarem perceber as razões deste sucesso de alguém que não tem qualquer máquina partidária por detrás, figura alicerçada numa imagem de honestidade e simplicidade, os políticos ‘de carreira’ estão em transe com esta perspetiva aterradora de um militar, por definição ‘vazio de pensamento político’ ter uma real capacidade de derrotar todos (ou quase) os candidatos que se conseguem congeminar como elegíveis.
A resposta a esta questão parece-me muito mais simples do que se pode imaginar – qual ‘ovo de Colombo’. A generalidade das pessoas, aquelas que decidem eleições, está mais do que farta desta atual classe política que em cada intervenção sobre os seus oponentes se entretém a denegrir as personagens, ‘much beyond’ as políticas que defendem. O resultado é claríssimo, desde há anos expresso de forma cristalina nas sondagens sobre a confiança que os políticos na generalidade nos merecem e estes são os primeiros a meter ‘a cabeça na areia’, continuando as suas cruzadas, salientando o que radicalmente os desune, quando não com afirmações a raiar o insulto pessoal.
Os extremos nesta matéria são peritos. Tudo o que puderem fazer ou dizer para minar a democracia que os tolera e da qual vivem, é o paraíso almejado. Os partidos democráticos, aqueles que privilegiam a democracia e cujos líderes são sucessores de Sá Carneiro ou Mário Soares, parecem agrilhoados por este ambiente doentio em que as palavras soadas geram um ricochete a minar a confiança na classe e, sem surpresa, caem em populismos que apenas os fiéis aplaudem.
Há anos que digo que no futebol as declarações dos treinadores e dirigentes deveriam preservar a indústria. As acusações de falsidade nos resultados grassam e revelam o descontrolo dos derrotados, jamais se importando sobre o impacto que as mesmas têm na indústria que os alimenta e lhes paga. Na política é igual. Os ‘tiros nos pés’ sucedem-se, não há respeito democrático pelos adversários, a descredibilização da classe acentua-se e depois admiram-se do sucesso de Gouveia e Melo que nem precisa de fazer campanha porque os políticos diariamente dela se encarregam?
Quanto maior a importância que lhe derem, maior a promoção que recebe! l