Bonacheirão, apreciador das coisas boas da vida, e, acima de tudo, um amante da liberdade e da democracia. Foi assim que viveu Mário Alberto Nobre Lopes Soares, que faria 100 anos amanhã. Desde muito cedo que Mário Soares se envolveu na atividade política, tendo pertencido ao PCP durante quase 10 anos, afastando-se dos comunistas no início dos anos 50, depois da campanha para as presidenciais do general Norton de Matos.
Doze vezes preso pela PIDE, Soares seria ainda desterrado para São Tomé, onde daria cabo da cabeça aos agentes da polícia política. Filho de um antigo padre e da dona de uma pensão, os pais tinham, cada um, um filho de relações anteriores, algo não muito comum no início do século XX. Soares teve o privilégio de ter como professores de vida no Colégio Moderno, pertença da família, Agostinho da Silva, filósofo, poeta e ensaísta, Álvaro Cunhal, professor de Geografia e líder do PCP, e Carlos Salema, professor de Filosofia e também militante comunista.
E terá sido por causa deste contacto com Cunhal que Soares entrou no PCP, de onde acabaria por ser expulso, da mesma forma que recusou entrar de novo para o partido.
A sua sede de liberdade e de luta contra a ditadura, leva-o a andar em várias formações políticas até fundar a Ação Socialista Portuguesa (AS), em 1964, que viria a desembocar no PS, em 1973.
A 28 de Abril de 1974 chegou a Portugal, vindo do exílio de Paris, e depois foi sempre a abrir. Foi primeiro-ministro por três vezes, de governos minoritários, chegou a pedir dois resgates financeiros ao FMI, e mesmo depois do povo ter passado fome – o bispo vermelho de Setúbal, D. Manuel Martins, foi então o rosto dos oprimidos –, Soares acabaria por ser eleito o primeiro Presidente da República civil eleito por sufrágio universal. Ficou célebre a frase que desde esse dia passaria a ser o Presidente de todos os portugueses.
Sairia da política por pouco tempo, pois voltaria a sujeitar-se a votos, só que desta vez para o Parlamento europeu, onde pensou que iria ser presidente do Conselho Europeu. Como não o conseguiu, protestou, dizendo que uma senhora, dona de casa, é que iria ocupar o lugar. Ficou até ao fim em Bruxelas, e aqui é o deputado Sérgio Sousa Pinto que terá matéria para vários livros…
Uns anos mais tarde, em 2006, Soares voltaria a tentar ser Presidente da_República e acabaria por ser derrotado em toda a linha.
Os seus detratores gostarão de recordar o seu suposto envolvimento no caso do Fax de Macau ou na sua colagem a José Sócrates, que, enquanto líder do PS, ordenou que o partido pagasse a sua candidatura presidencial._Os outros, falarão do seu papel na luta contra a ditadura, no combate ao comunismo depois de 74 e na consolidação da democracia, sendo considerado a figura mais importante na ‘criação’ do Portugal livre. E também não esquecerão os momentos hilariantes como aquele em que pegou num anão, pensando que era uma criança, e o beijou, tendo-o depois afastado. Ou da sua cara quando o Tal & Qual lhe colocou à frente uma mulher a fazer topless na praia. Um homem que esteve à frente do seu tempo.