Bashar al-Assad caiu. Síria mergulha na instabilidade

Ao fim de mais de cinco décadas, o regime da família Assad chegou ao fim. A operação dos rebeldes marca um virar de página no país, mas o futuro é incerto.

Bashar al-Assad caiu. Síria mergulha na instabilidade

O regime da família Assad, que governava a Síria com punho de ferro há 53 anos, chegou ao fim. A operação relâmpago dos rebeldes foi o culminar de uma Guerra Civil que dura há cerca de 13 anos e que transformou o território sírio numa autêntica manta de retalhos.


Bashar al-Assad assumiu o poder em 2000, após a morte do pai, e o seu controlo estava altamente dependente do apoio da Rússia e do Irão. O cenário internacional deixou os principais aliados da Síria imersos nos seus próprios esforços de guerra – Moscovo na Ucrânia e Teerão em Israel – e os grupos rebeldes aproveitaram as debilidades conjunturais do regime de Assad. Apoiados pela Turquia e pelos Estados Unidos, ambos com interesses diferentes, as forças de oposição levaram a cabo uma operação vertiginosa, conquistando as principais cidades sírias no espaço de poucos dias. A resistência das tropas do Governo foi praticamente inexistente.


O Exército Livre da Síria, um grupo fundamentalista islâmico e ex-braço da Al-Qaeda, conquistou a cidade de Damasco no domingo e o Kremlin anunciou que Bashar al-Assad voou para Moscovo, onde permanecerá exilado. O primeiro-ministro de Assad, Mohammad Ghazi al-Jalali, foi levado para o hotel Four Seasons onde entregou o poder. Abu Mohammed al-Jolani, o líder do ELS, será o novo líder dos sírios.


As celebrações foram generalizadas um pouco por todo o país – e até pela Europa. Também não faltou a típica destruição de marcos do regime. Contudo, ainda não se sabe o que esperar do futuro da Síria, e a revolução poderá desencadear um novo fluxo de refugiados para a Europa, à semelhança do que aconteceu há cerca de uma década. Surgem também preocupações quanto às minorias, como é o caso dos cristãos, mesmo que haja já promessas de que serão protegidas.


A queda de Assad foi bem recebida também em Israel, que bombardeou alvos estratégicos sírios nos últimos dias. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, garante que estenderá a mão para a paz ao novo regime sírio, mas é um acordo que, mesmo possível, parece improvável. Improvável é também um acordo com o Irão, uma vez que foi financiador das tropas de Bashar al-Assad no processo de repressão dos opositores.
Assim, esta convulsão na Síria pode minar o eixo Rússia-Irão e parece que a paralisação do Hamas e do Hezbollah, na sequência da resposta de Israel ao massacre do 7 de outubro, está a ter um efeito dominó na região. Moscovo também perdeu com a queda de um aliado histórico.


O cenário atual é de instabilidade e incerteza. Ambas angustiantes. O mundo espera, ansiosamente, por mais desenvolvimentos num país cuja situação tem sido um espelho da região.