Renovação do Comité Central, inclusão de mais mulheres e jovens nos órgãos de decisão do partido, eleições autárquicas, análise da situação do país, impacto da guerra na Ucrânia e a relação com a União Europeia e a NATO são alguns dos temas em cima da mesa no XXII Congresso do Partido_Comunista Português (PCP), que arranca esta sexta-feira no Complexo Municipal dos Desportos em Almada e se prolonga até dia 15 de dezembro.
É o primeiro congresso em que Paulo_Raimundo participa enquanto secretário-geral do PCP, num cenário em que o partido passa por desafios internos, perda de relevância política e considera estar a ser alvo de uma «grande e prolongada ofensiva anticomunista».
Recorde-se que no último congresso dos comunistas, que se realizou no final de novembro de 2020, Jerónimo de Sousa foi eleito secretário-geral pela quinta vez, com um voto contra. Em 2022, foi substituído por Paulo Raimundo, eleito por unanimidade. Jerónimo de Sousa, que estava na liderança do partido há 18 anos, manteve-se até agora no Comité Central, de onde (afinal) não deverá sair tão cedo.
Mais mulheres, Mais jovens e mais Jerónimo
O ex-secretário-geral do PCP tinha demonstrado vontade de sair do Comité Central para dar lugar aos mais novos e dedicar-se a «tarefas mais ligeirinhas», segundo admitiu em entrevista à Renascença. Afinal, de acordo com a lista que vai a votos no Congresso, Jerónimo de Sousa manter-se-á no Comité, caso a proposta seja aprovada.
Consta ainda que se deverão manter no órgão máximo do PCP, o deputado António Filipe, o eurodeputado João Oliveira, o secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, o vereador e ex-candidato presidencial João Ferreira, entre os 100 membros.
Mas nem tudo vai ficar igual. O novo e renovado Comité Central deverá ser mais reduzido – passando dos atuais 128 para 125 – com mais mulheres – de 35 para 37 – e mais jovens – com a média de idades a baixar dos atuais 49 anos para 48.
Manter 19 autarquias e ganhar Moita e Loures
Se para os comunistas ainda é cedo para falar de presidenciais, sobre as autárquicas o cenário é outro. «Quem não está preocupado, está distraído», dizia Raimundo numa entrevista à Renascença.
Desde 2017, o PCP já perdeu 15 câmaras municipais. Nestas eleições autárquicas o objetivo é manter as 19 que restaram, mas também (re) conquistar outras, como Loures ou Moita (Setúbal).
Um dos grande desafios que enfrenta são as dezenas de autarcas em fim de ciclo. Em 11 das atuais 19 câmaras da CDU, os presidentes atingem o limite de três mandatos consecutivos e já não poderão ser candidatos nas autárquicas de 2025, o que obrigará a um esforço de renovação.
Teses: O «Demissionismo» do PS perante o Governo
Em discussão neste 22.º Congreso vai estar ainda o Projeto de Resolução Política/Teses, aprovado na reunião do Comité Central de 21 e 22 de Setembro. São 57 páginas com os pontos essenciais da visão do PCP sobre o país e o mundo, onde, entre outros temas, os comunistas acusam o PS de ter revelado «demissionismo» perante o Governo.
«A política de direita encontrou no PS um percurso e opções que, não descolam, no que é essencial aos interesses do capital, das que são partilhadas por PSD, CDS, Chega e IL, independentemente de fabricadas discordâncias e confrontos verbais», pode ler-se no documento.
Na sua análise ao Governo, referem que o PSD e o CDS, em convergência com o Chega e a IL, «procuram levar mais longe a política de direita, ao serviço do grande capital, de ataque aos direitos dos trabalhadores, de agravamento da exploração, de entrega dos serviços públicos aos negócios privados, de privatizações, de privilégios aos grupos económicos».