Apoiantes do almirante aconselham prudência

No mesmo dia em que recebeu o apoio público de Isaltino de Morais, Gouveia e Melo foi alvo de críticas por usar a Marinha para fazer campanha. Há muitos mais autarcas a apoiar a candidatura do almirante que só será anunciada perto do verão.

Enquanto as estruturas partidárias continuam à procura do candidato presidencial que tenha melhores condições para combater Gouveia e Melo nas eleições, o almirante continua a dar que falar e a impor-se como candidato, mesmo que ainda esteja impedido de o ser, por se manter como Chefe do Estado-Maior da Armada, até ao final deste mês.

Os apoios começam a ser vocais e na passada quarta-feira foi Isaltino Morais, presidente da Câmara de Oeiras que, em entrevista ao canal de televisão NOW, disse que vai apoiar a candidatura de Gouveia e Melo nas presidenciais de 2026.

Fonte ligada à preparação de uma candidatura que ainda não o é, diz ao Nascer do SOL que o apoio agora anunciado por Isaltino de Morais, é apenas o primeiro de muitos que vão surgir nos próximos tempos. Nomes como o de Carlos Carreiras e Rui Moreira são apontados como apoios certos, mas, entre os autarcas, há, garantem-nos, muitos outros. «Um dos aspetos que tem sido muito importante para o motivar a avançar com uma candidatura, são as inúmeras manifestações de apoio de autarcas, sobretudo no interior do país». Porquê estes apoios? A nossa fonte responde: «Porque são exatamente os autarcas que estão no terreno, a lidar com os problemas do dia-a-dia e olham para o almirante como um homem de terreno em quem se revêm».

Marinha acusada de fazer campanha política

O número de dezembro da revista da marinha deixou grande parte do país de boca aberta. Numa edição dedicada a fazer um balanço do trabalho de Gouveia e Melo à frente deste ramo das forças armadas, surge a ilustração que publicamos nesta página. Ao lado de Gouveia e Melo está Dom João II, o Rei português que foi precursor dos Descobrimentos que levaram as naus portuguesas aos quatro cantos do mundo. Com a imagem que gerou a estupefação da classe política crítica do almirante, a revista pretende fazer um paralelo entre o potencial deixado pelo almirante à marinha e a capacidade dos marinheiros portugueses no tempo dos Descobrimentos. A edição levantou polémica também dentro da Armada, onde alguns oficiais de Marinha consideraram que houve uma utilização «propagandística» da publicação.

As críticas surgiram também entre a classe política que, sobretudo nas redes sociais, criticaram o aproveitamento político. Fabian Figueiredo, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, escreveu que «a publicação oficial da Marinha Portuguesa não devia ser reduzida a panfleto de pré-campanha presidencial de Gouveia e Melo». Já a Iniciativa Liberal escolheu fazer as críticas em declarações à imprensa, com a líder parlamentar, Mariana Leitão a lamentar «a utilização de meios do Estado para enaltecer a figura do almirante» e, acrescenta, «considerando que já sabemos que ele está de saída e que, muito provavelmente vai apresentar uma candidatura à Presidência da República, é óbvio que se exige um bocadinho mais de contenção».

O conteúdo da revista surpreendeu mesmo os apoiantes do almirante, que apostam num posicionamento mais cauteloso, para «não correr riscos» e «não deteriorar a imagem positiva que tem junto dos portugueses». A fonte por nós contactada diz-nos que «um ano é muito tempo, e há que evitar erros que possam deitar tudo a perder».

Não ignorando que, apesar de bem posicionado nas sondagens, Gouveia e Melo corre os maiores riscos a partir do momento em que largar funções na Marinha, os apoiantes de Gouveia e Melo estão a aconselhá-lo a apresentar a candidatura o mais tarde possível, antes, ou mesmo, depois do verão. Os defensores desta estratégia acreditam que o almirante não deve ir cedo demais para o terreno até porque é «muito reconhecido» pelos portugueses.

Até ao momento escolhido para anunciar a candidatura, o trabalho é evitar ataques. «A história da maçonaria deixou-o furioso», diz-nos a nossa fonte que atribui o boato ao Palácio de Belém.

Partidos escondem o jogo

Não sendo responsáveis pelo lançamento de candidaturas presidenciais, PS e PSD fazem contas nos bastidores e vão avaliando as pré-candidaturas anunciadas.

Enquanto preparam as eleições autárquicas, previstas para o final do verão de 2025 (ver texto ao lado), as direções partidárias não pretendem fazer novas alusões públicas às candidaturas e no segredo das direções alinham estratégias que podem passar por nomes bem diferentes daqueles que agora se perfilam.

Um ex-líder da AD confidenciou ao Nascer do SOL que «é uma loucura a quantidade de nomes que se estão a pôr ao caminho» e previu que daqui a uns meses os dados em cima da mesa serão bem diferentes.

Será essa mesma linha que as direções partidárias estarão a seguir, ao mesmo tempo que acompanham os dados que vão saindo nas várias sondagens.

Uma coisa neste momento é certa, no Largo do Rato e na São Caetano à Lapa, aposta-se em candidatos surpresa que possam surgir do lado oposto, muito mais próximo do verão.

Também entre os apoiantes de Gouveia e Melo há expectativa de que a eleição que agora parece fácil, se possa vir a complicar com nomes surpresa que não se darão a conhecer nos próximos tempos.

PS e PSD querem apostar em nomes seguros para vencer o almirante.