Madeira. Está instalado o pântano

Às terceiras eleições na Madeira, as sondagens apontam para que tudo fique na mesma. PSD quer alternativa a Albuquerque para ultrapassar a crise de poder.

Já é praticamente impossível evitar uma nova crise política na Madeira. Depois do chumbo do orçamento, o golpe final para o governo de Miguel Albuquerque acontecerá na próxima terça-feira, dia 17 de dezembro, quando o parlamento regional votar a moção de censura apresentada pelo Chega.
Apesar de as últimas eleições terem ocorrido em maio deste ano e as anteriores em setembro de 2023, a oposição em bloco parece estar determinada em fazer cair de novo o executivo liderado por Miguel Albuquerque. Em causa estão novas investigações que, além do presidente do Governo Regional, colocam vários secretários igualmente sob suspeita.
Perante a iminência de nova crise política, Miguel Albuquerque está determinado a apresentar-se novamente a eleições e o risco de ficar tudo na mesma, depois das terceiras eleições num ano, é muito real. Duas sondagens publicadas esta semana apontam para um resultado muito semelhante ao obtido em maio. Segundo a sondagem da Aximage, publicada no Diário de Notícias da Madeira, o PSD voltaria a ganhar com 31,5%, quase o dobro da percentagem obtida pelo PS, com 16,2%, que surge em segundo lugar. Neste estudo, apesar de os números serem muito aproximados aos registados em maio, o PS e o CDS perderiam deputados, o Chega e a Iniciativa Liberal ganhariam e o movimento JPP manteria. Surpreendente é a resposta à pergunta: quem prefere para liderar o governo? Aqui os madeirenses dividem-se e Albuquerque e Paulo Cafôfo (líder do PS/Madeira) surgem praticamente empatados.
Resultados semelhantes tem a sondagem da Intercampus, publicada no Jornal da Madeira, que também coloca o PSD a ganhar com larga margem em relação aos socialistas, mas ainda sem maioria absoluta.

Albuquerque e Cafôfo não são consensuais
Face à iminência de novas eleições, socialistas e sociais-democratas começam a movimentar-se para evitar novo cenário de pântano na Madeira.
No PSD voltam a surgir vozes críticas de manutenção de Miguel Albuquerque e, ao que disseram ao Nascer do SOL vários militantes, não está descartada a hipótese de vir a ser pedida nova disputa interna. Manuel António Correia, que disse ao nosso jornal que só falará depois da votação de terça feira, continua a surgir como o nome preferido para substituir Miguel Albuquerque na liderança dos sociais-democratas madeirenses.
Para ser convocado um congresso que possa desencadear novo processo eleitoral no interior do partido são necessárias 300 assinaturas, mas isso não basta. Não sendo um congresso ordinário, é necessário que o Conselho Regional aceite que o congresso seja eletivo e, se assim for, a convocação de novas eleições regionais, tem de dar tempo (no mínimo dois meses), para que o partido possa concluir o processo. «Apesar de Albuquerque, as pessoas votam no PSD. Se não houvesse Albuquerque seria muito melhor», confidencia um militante. Para os que defendem uma alternativa ao atual presidente do PSD/M, não é irrelevante que as sondagens apontem um quase empate entre Cafôfo e Albuquerque para a liderança do Governo Regional – «o ‘quase’ é um grande quase, porque enquanto Albuquerque tem 23%, Cafofo tem 23,4% e essa diferença tem significado».
Do lado oposto, os mais próximos de Albuquerque confiam numa vitória segura e apostam tudo numa campanha, que já começou, em que o partido se apresenta como «o garante da governabilidade e da estabilidade».
Paulo Neves, deputado da Madeira na Assembleia da República critica os que querem novas eleições internas no partido. «Não podemos criticar a oposição por estar constantemente a convocar eleições e fazer o mesmo dentro do partido», argumenta. O deputado alega que Miguel Albuquerque já se submeteu a eleições depois de ter sido constituído arguido e ganhou, não só no partido, como na região autónoma.
Também entre os socialistas da Madeira a opção por Paulo Cafôfo não reúne consenso. Militantes do partido ouvidos pelo Nascer do SOL manifestam incómodo com a hipótese de o partido se apresentar a eleições outra vez com uma liderança que «já provou em duas eleições consecutivas que tem resultados medíocres».
A oposição a Paulo Cafôfo está a movimentar-se para tentar encontrar uma alternativa credível para disputar as prováveis eleições antecipadas. A questão é saber quem pode candidatar-se contra Cafôfo. O nome do deputado Carlos Pereira é o mais falado. Apesar de estar a desempenhar funções em Lisboa, no passado já liderou a oposição ao atual líder do PS/Madeira e, na região, há muitos socialistas a apostar no seu nome para disputar as próximas eleições regionais.
«Não quero uma luta fratricida no partido em vésperas de novas eleições», diz Carlos Pereira ao Nascer do SOL. Mas lamenta que o partido não tenha feito a reflexão que se impunha depois dos resultados «desastrosos» das eleições de maio, «justamente quando o PSD passava o seu pior momento». Aqui chegados, Carlos Pereira não rejeita que o partido possa ainda fazer mudanças na liderança, mas «tem de ser a direção a pôr a mão na consciência».

O que fará o Chega se os resultados se repetirem?
É a pergunta mais repetida nos meios políticos regionais, sobretudo depois de as primeiras sondagens revelarem que o cenário mais provável é uma manutenção dos resultados em novas eleições.
«Se ficar tudo na mesma o que é que vai fazer o Chega? Deixa-nos governar?», pergunta Paulo Neves, deputado do PSD.
A questão tem-se colocado no próprio Chega. «Não podemos estar constantemente a convocar eleições para ter os mesmos resultados, e isto piora se o Chega perder deputados», refere um deputado.
Questionado pelo Nascer do SOL, André Ventura não quis adiantar qual será o próximo passo num cenário pós-eleitoral em que fique tudo na mesma. A verdade é que se isso acontecer, Albuquerque continua a precisar do apoio de outras forças políticas para poder governar e, no PSD, há que defenda que o ideal era ser o Chega a permitir essa estabilidade governativa.