Almada Contreiras. O homem que deu a senha do 25 de Abril

1941-2024. Foi o militar mais destacado da Marinha a integrar o MFA.

Foi dele a sugestão de que passasse na Rádio Renascença a canção Grândola Vila Morena, de Zeca Afonso, e que fosse essa a senha para desencadear a operação militar que viria a abrir caminho à revolução popular do 25 de Abril de 1974. Carlos de Almada Contreiras participou ativamente nos eventos daquela madrugada que tantos esperavam, bem como na redação do Programa do Movimento das Forças Armadas (MFA), sendo considerado o seu mais destacado membro dentro da Marinha. Este capitão-de-mar-e-guerra, condecorado com a grã-cruz da Ordem da Liberdade em 1986, sofreu uma doença súbita, tendo morrido esta quarta-feira aos 83 anos.

Nascido em 1941 no Monte do Gavião, no concelho de Aljustrel, foi o penúltimo de nove irmãos, tendo crescido, segundo ele mesmo testemunhou, «no meio dos trabalhadores rurais» que se multiplicavam no tempo da ceifa e da monda. «Sabia o que cada um fazia e como fazia, porque os acompanhava desde o nascer ao pôr-do-sol», e viu a pobreza manifestar-se de muitas formas e isso marcou-o para sempre.

‘Andava sempre nos barcos’

Fez o secundário no Liceu de Setúbal e se sonhou com Engenharia, acabou por entrar na Escola Naval, de forma a ajudar no orçamento familiar. A escolha da Marinha resultou da atração que sentia pelo mar: «Estava muito ligado ao porto [Setúbal], andava sempre lá metido nos barcos».

Entre 1964 e 1970 realizou diversas comissões militares na Guiné, Moçambique, Angola e S. Tomé e Príncipe. Depois do 25 de Abril, desempenhou vários cargos e funções ao longo do processo revolucionário, nomeadamente enquanto membro da Comissão Coordenadora do MFA, do Conselho de Estado e do Conselho da Revolução, e diretor do Serviço Diretor e Coordenador da Informação (SDCI).

Depois de passar à reserva, esteve em Moçambique entre 1988 e 1997, com atividades na Secretaria de Estado das Pescas e na FAO. Na Câmara Municipal de Cascais (1997-2007) foi assessor do presidente e diretor do Departamento da Polícia Municipal. Contreiras dirigia a coleção ‘Memórias de Guerra e Revolução’ editando obras que procuram estudar e clarificar a memória histórica da Revolução de Abril de 1974, sendo coordenador das obras: Operação Viragem Histórica (2.a ed.) – 25 de Abril de 1974 e A Noite que Mudou a Revolução de Abril – A Assembleia Militar de 11 de Março de 1975.