À frente da Câmara Municipal de Cascais desde 2011, Carlos Carreiras (PSD) consolidou-se como uma figura incontornável da política autárquica.
Antes de assumir a presidência da Câmara, já tinha desempenhado funções como vereador e vice-presidente, o que lhe valeu anos de experiência na gestão municipal.
Durante os seus mandatos implementou diversas iniciativas para modernizar e dinamizar o concelho. Num território de contrastes, onde o imobiliário de luxo convive com bairros problemáticos, não descurou as zonas menos nobres, tentando de alguma forma promover a coesão e a inclusão social.
Mobilidade Sustentável
Desde janeiro de 2020, Cascais foi pioneira ao oferecer transporte público gratuito para todos os residentes e trabalhadores. A iniciativa faz parte de uma estratégia de mobilidade sustentável para reduzir o uso de automóveis, o trânsito e as emissões de carbono.
Sob a liderança de Carlos Carreiras foi ainda expandida a rede de ciclovias no município, como a construção de uma ligação entre Cascais e o Guincho, estimulando o uso de bicicletas como meio de transporte alternativo.
Cascais como “Smart City”
Com o objetivo de promover Cascais como uma cidade inteligente assente num conceito de “smart city” de referência para outros municípios, o autarca lançou plataformas como a Mycascais (plataforma de serviços municipais eletrónicos), Fixcascais (plataforma que permite aos cidadãos reportar diferentes tipos de situações em espaços públicos), a MobiCascais (sistema de gestão de mobilidade) e a Citypoints que permite acumular pontos e ganhar prémios sempre que os cidadãos pratiquem boas ações de cidadania em prol do ambiente e da comunidade.
Destaca-se ainda a criação do programa de mobilidade “Mobi Cascais”, que reúne toda a oferta de transportes (bicicleta, comboio, metro, parque de estacionamento e táxis) num único interface. Qualquer utilizador pode controlar a rota e comprar bilhetes através de um telemóvel ou de um ponto de internet.
Mas, apesar de um legado com várias conquistas, Carlos Carreiras não esteve isento de controvérsias.
Buscas na Câmara de Cascais
Em abril de 2024, a Polícia Judiciária realizou buscas na Câmara Municipal de Cascais por suspeitas de corrupção, prevaricação e abuso de poder.
Em causa estariam suspeitas de irregularidades na compra e fabrico de máscaras para combate à pandemia de covid-19. O Tribunal de Contas tinha questionado a transparência do negócio, que implicou a venda de três imóveis da Câmara a preço de custo a uma empresa chinesa com quem a autarquia tinha uma parceria para o fabrico de máscaras.
No ano passado, o Tribunal de Contas (TdC) divulgou os resultados da auditoria para apuramento de responsabilidades financeiras, concluindo que o negócio não foi devidamente justificado.
Na altura em que ocorreram as buscas, Carlos Carreiras disse estar de “consciência tranquila” e afirmou ser o único responsável no processo do fabrico de máscaras cirúrgicas, isentando Miguel Pinto Luz, à época vice-presidente da autarquia, de qualquer responsabilidade.
Até hoje não foram constituídos arguidos na sequência da investigação, mas o caso deixou uma ‘mancha’ no currículo do autarca.
Hotel sob investigação
Em 8 de setembro de 2023 foi apresentada uma queixa-crime pela associação ambientalista SOS Quinta dos Ingleses contra a Câmara de Cascais sobre a construção de um empreendimento turístico da cadeia hoteleira norte-americana Hilton, na Estrada Marginal, na Parede.
“Impedir a construção daquele monstro em cima do mar” é o lema dos queixosos, embora as obras já estejam em curso.
“Quando cheguei à presidência da Câmara de Cascais, em 2011, peguei neste dossiê e revimos todo o plano”, escreveu Carreiras neste jornal em abril de 2019. “Chegámos a uma solução que corta em 60% o número de fogos, corta a altura dos prédios para metade (7 pisos) na parte mais recuada e para 5 pisos na frente de mar, aumenta a distância à Marginal para mais do dobro (78 metros) e aumenta a área verde para mais de 10 hectares, criando em Carcavelos o maior parque urbano do concelho”.
Ainda assim, tanto o município como o presidente da Câmara como o vice-presidente, Miguel Pinto Luz, a vereadora do Urbanismo responsável pela aprovação das obras, Filipa Roseta, e o atual vereador com o pelouro do Urbanismo, Nuno Piteira Lopes, foram alvo de queixa.
A autarquia garante que cumpriu “escrupulosamente todos os preceitos legais exigidos”.
Futuro incerto
Carlos Carreiras já fez saber que apenas se via a fazer política a nível concelhio e em Cascais. Aos 63 anos, com o final do mandato e a aproximação da idade da reforma, é possível que o gestor – que trabalhou nos sectores da hotelaria e grande consumo – regresse ao setor privado.