Quando o populismo não é encostado à parede

As perceções erradas esclarecem-se, não devem ser alimentadas e o populismo é que deve ser encostado à parede.

Se o populismo não for desacreditado, cresce de um modo perigoso e fomenta ambientes sociais fratricidas. Quando não é desmentido, prolifera nas sociedades como uma doença incontrolável, ampliando o medo causado pela sua intencional desinformação. Por estes motivos, se os governos democráticos cederem às invenções populistas, perdem a racionalidade exigida, criam alarmismos desnecessários e estimulam a agenda de ódio da extrema-direita, acabando por estigmatizar grupos pela ausência dos conceitos fundamentais da adequação e da proporcionalidade.

Relembremos os factos mais relevantes do recente barómetro da imigração, por ser importante reforçar a verdade. Neste exercício de auscultação das opiniões da população portuguesa, ficaram bem patentes as conquistas recentes dos extremismos, alicerçadas em campanhas falsas e repetidas até à exaustão como se fossem genuínas. Graças a isso, num país com uma história de sucesso nas emigrações pelo mundo fora, 51 por cento dos inquiridos encaram, neste momento, a presença dos imigrantes como uma ameaça que empobrece os valores e as tradições portuguesas. E sobrestimam a quantidade de estrangeiros em Portugal, considerando-a excessiva e geradora de um aumento da insegurança.

Nada mais errado. O número de cidadãos estrangeiros representa 9,8 por cento do total da população, estando Portugal abaixo da média europeia na imigração e encontrando-se, inclusive, entre os dez países da União Europeia com menor proporção de estrangeiros no total de residentes. Tratando-se de uma percentagem inferior a 17 países da União Europeia, numa lista liderada pelo Luxemburgo, com quase 50 por cento, e por Malta, com 25 por cento, existe inclusive uma importante margem de crescimento, absolutamente decisiva para diversas atividades profissionais onde escasseia a mão-de-obra.

Por outro lado, durante o ano de 2023, os trabalhadores estrangeiros contribuíram com 2.677 milhões de euros para a Segurança Social, num crescimento de 44 por cento face ao ano anterior, e com um saldo francamente positivo, uma vez que estes cidadãos beneficiaram de apenas 483,3 milhões de euros em prestações sociais.

Desvirtuar a realidade em temas desta natureza é não apenas perigoso como atinge profundamente os alicerces da nossa cultura civilizacional. É, por isso, um erro descomunal excluir a atribuição de cheques-livros a jovens imigrantes com residência no nosso país ou negar cuidados de saúde a quem sofre por atrasos burocráticos da exclusiva responsabilidade do Estado. Ainda por cima quando estes casos envolvem situações residuais no número global em causa.

São decisões que lembram tempos de anteriores regimes, somadas a operações policiais musculadas em detrimento da proximidade, permitindo que a diversidade e a tolerância cedam aos perigosos planos extremistas. As perceções erradas esclarecem-se, não devem ser alimentadas e o populismo é que deve ser encostado à parede. Com a aproximação de eleições da maior relevância em 2025, que este seja um bom ano para começar a erradicar a mentira.