Costistas à espreita de falhas na liderança de PNS

Ainda não é tempo de os críticos se fazerem ouvir, mas as escolhas de Pedro Nuno Santos fazem temer que os herdeiros de António Costa sejam para apagar do mapa

As tensões internas no interior do Partido Socialista mantêm-se, entre costistas e pedro-nunistas, mas a ordem é para evitar questões até às autárquicas. As eleições locais estão de resto a ser encaradas como um teste fundamental para a liderança de Pedro Nuno Santos que «desta vez está de mãos complemente livres para fazer as suas escolhas», diz ao Nascer do Sol um anterior colaborador de António Costa.
Apesar de ser o tema presidenciais que mais tem feito correr tinta na atualidade política, a verdade é que no Largo do Rato o foco da direção está na preparação das eleições autárquicas. Ao que nos dizem, essa é neste momento a maior preocupação do Secretário-Geral que, depois de analisar os nomes que testou em sondagens internas para os principais desafios autárquicos, vai agora fazer as suas escolhas. «O Pedro Nuno é pragmático, as contas dele são para alcançar uma vitória e não a pensar em sensibilidades internas», garantem-nos.

Alexandra Leitão não reúne consenso
A escolha do nome da atual líder parlamentar socialista como candidata à Câmara de Lisboa, apesar de não ter surpreendido, levantou dúvidas a alguns. A decisão estava entre Alexandra Leitão e Mariana Vieira da Silva e o facto de ter pendido para «uma das pessoas mais importantes do Partido Socialista, talvez a mais importante a seguir de mim próprio», de acordo com as palavras de Pedro Nuno Santos, não foi a opção ideal para muitos dos chamados costistas.
«A Mariana colocava-se mais ao centro, com a escolha da Alexandra Leitão o PS aprofundará a incompetência do Moedas e o Moedas vai ter mais facilidade no discurso de que o PS se radicalizou». O comentário é de um socialista com trabalho feito no município de Lisboa, que teria gostado mais de uma outra opção do partido para desafiar o atual Presidente da Câmara de Lisboa que, acredita, pode ser derrotado. «Esta escolha facilita que (Carlos Moedas) se posicione como Macron, o moderado contra os radicais», acrescenta.
Em tom mais moderado, um antigo responsável socialista na CML admite que apesar de não ser a sua escolha, Alexandra Leitão pode surpreender, «a minha escolha seria a Mariana. Mas acho a Alexandra sólida e muito determinada. Estou longe da caricatura que andam a fazer dela».
Mariana Vieira da Silva, ex-número dois de António Costa, confirmou esta semana à Rádio Renascença que esteve disponível para aceitar o desafio de uma candidatura a Lisboa, que não tendo acontecido esgota a sua disponibilidade para uma candidatura a outra autarquia (o nome da antiga ministra era também referido como hipótese a Sintra).

Centeno desilude costistas
Ao anunciar esta quarta-feira, numa entrevista à RTP3 que está fora da corrida presidencial, Mário Centeno deu uma má notícia a uma ala do Partido Socialista que contava com a candidatura praticamente certa do Governador do Banco de Portugal à Presidência da República. Estes socialistas olhavam para a candidatura presidencial de Centeno como uma forma de continuarem a manter uma influência importante nas decisões do partido, enquanto esperam para ver no que vai dar a liderança de Pedro Nuno Santos.
A desistência de Centeno é assim encarada como uma perda de influência do setor ainda ligado ao antigo primeiro-ministro que não facilita que esta ala possa jogar um papel no partido nos tempos mais próximos. Um militante próximo de Pedro Nuno Santos comentou mesmo com o nosso jornal «estão em desespero porque já perceberam que o Pedro Nuno quer o Seguro».
Na sua maioria sentados nas filas mais recuadas da bancada parlamentar, os que representam a ala do Partido Socialista identificada com António Costa, mantêm uma presença discreta e fogem a mostrar desalinhamento com as opções da direção. «Não é tradição do PS trazer as disputas internas para a praça pública» e não vai ser agora que isso vai acontecer, «não é o momento», garantem-nos.

Agenda política é motivo de discórdia
Embora discretamente há comentários nos corredores do parlamento manifestando algum receio com os temas escolhidos para a agenda política do PS.
Para já ainda são só receios com o rumo que o partido pode seguir, porque os críticos acreditam que Pedro Nuno Santos é mais cauteloso do que aparenta e não se tem atravessado em demasia nalguns temas, sobretudo no tema da segurança, em que alguns socialistas receiam que o partido seja empurrado para um beco sem saída, com vantagem para o governo e para o Chega.
O facto de José Luís Carneiro, que foi adversário de Pedro Nuno Santos nas eleições internas do PS e que é visto como crítico da atual direção, ter sido o escolhido para defender a bancada socialista no debate sobre segurança, foi visto como um sinal do Secretário-Geral para mostrar moderação num tema sensível.
O recurso ao antigo ministro da Administração Interna, refletiu-se numa intervenção moderada e com sentido de Estado, num debate que se previa muito extremado. O facto foi aliás aproveitado por Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, que aproveitou para colocar Carneiro em contraste com Pedro Nuno Santos: «quero saudar o senhor deputado José Luís Carneiro, porque ouvimos uma posição sensata, moderada, muito diferente daquela que temos ouvido por parte dos protagonistas do PS nas últimas semanas», afirmou.
Consciente das divisões internas no Partido Socialista, o social-democrata não poupou elogios ao ex-ministro socialista, «é bom ouvir a voz da sensatez do PS em vez da voz do radicalismo, do extremismo e da voz muito parecida com a do Bloco de Esquerda. Esta intervenção, é a do velho PS que aprendi a respeitar, mas não é a do PS que nos tem habituado nos últimos meses».
Os mais críticos da atual liderança socialista, também gostaram de ver e ouvir José Luís Carneiro a falar em nome do partido e, depois da saída de cena de Centeno, viram-se agora para Carneiro como um nome com que devem contar no futuro. Esta semana o Nascer Do SOL, chegou a ouvir uma hipótese: «pode ser ele o sucessor de Aguiar Branco».