Alemanha vai às urnas no domingo

Após implosão do governo de coligação entre os sociais-democratas, verdes e liberais, a Alemanha vai a eleições no domingo. CDU deverá vencer, mas espera-se um resultado expressivo para a AfD.

Os alemães serão chamados às urnas no próximo domingo, dia 23, de forma antecipada. O governo de coligação liderado pelo socialista Olaf Scholz, suportado pelos Verdes e pelos liberais do FDP, tinha vindo a perder popularidade e acabou mesmo por implodir em novembro do ano passado, quando o chanceler demitiu Christian Lindner, o ministro das finanças do FDP. Scholz disse, à data, que Lindner quebrou a sua confiança «demasiadas vezes» e garantiu não haver «mais base de confiança para cooperação futura», acusando o ministro das Finanças de estar «mais preocupado com a sua clientela e com a sobrevivência do seu próprio partido».

A situação da Alemanha não é nada animadora. A economia enfraquecida e a política de imigração – note-se que não vem deste governo apenas – foram os principais catalisadores do descrédito do governo progressista. A moção de confiança a Scholz no Bundestag não passou, naturalmente, e encaminhou o país para as urnas.

O barómetro europeu

Há quem considere as eleições europeias como um barómetro para a avaliação da popularidade dos partidos, e dos respetivos líderes, de cada Estado-membro. E na Alemanha foi precisamente isso que aconteceu. A vitória da CDU, partido democrata-cristão, e o segundo lugar para a Alternativa para a Alemanha (AfD), juntamente com a queda dos partidos no Governo foram uma antevisão do que se avizinhava a nível nacional. O partido de centro-direita venceu com uma larga margem, conquistando 30% dos votos, enquanto a AfD ficou perto dos 16% e o SPD ficou pouco abaixo dos 14%. Os Verdes ainda conseguiram arrecadar 11,90% dos votos, mas os liberais ficaram-se pelos 5,20%. Foram resultados estrondosos para os partidos do executivo.

Olhando para as mais recentes sondagens realizadas pelo Politico, os resultados não serão muito diferentes no domingo. A CDU está com 30%, a AfD regista uma subida substancial para os 21%, o SPD deverá ficar pelos 16%, os Verdes pelos 13% e o FDP nos 5%. Sondagens são sondagens, e muitas vezes não espelham de forma precisa o resultado que sairá das urnas, mas, ao que tudo indica, o partido de Angela Merkel e de Ursula Von der Leyen, agora liderado por Friedrich Merz, voltará a tomar as rédeas do poder na Alemanha.

O papel da AfD

A AfD tem sido um dos temas principais quando a conjuntura política alemã é debatida. O partido conotado como de extrema-direita, envolvido em vários casos que levaram Viktor Orbán e Marine Le Pen a distanciarem-se do partido, tem registado uma ascensão meteórica.

Para além do já mencionado bom resultado nas eleições para o Parlamento Europeu, a AfD obteve resultados ainda mais impressionantes nas eleições estaduais. «Nas eleições estaduais de setembro, a ascensão da Alternativa para a Alemanha, de extrema-direita, foi visível», pode ler-se no website do Politico, que menciona ainda os resultados em três estados de importância superior: Brandemburgo e Turíngia. «No importante estado de Brandemburgo, os sociais-democratas do chanceler Olaf Scholz conseguiram, por pouco, afastar a AfD. Mas o partido ganhou noutros locais, obtendo uma vitória surpreendente nas eleições do estado da Turíngia, a 1 de setembro». Na Saxónia, foi a CDU a conseguir a vitória com uma margem de 1,3%. Em Brandemburgo o SPD conquistou 30,9% dos votos, com a AfD a ficar com o segundo lugar a apenas 1,7% de distância. Na Turíngia a AfD convenceu 32,8% do eleitorado, vencendo o estado com uma vantagem de 9,2% face ao segundo colocado, a CDU. E é importante notar que é visível, uma vez analisado o mapa eleitoral, uma clara divisão entre as duas partes da Alemanha que até ao início da década de 1990 estavam divididas. Na região da ex-República Democrática Alemã, que se encontrava sob o jugo comunista da União Soviética, a tendência de voto é mais favorável ao partido dito de extrema-direita. Não deixa de ser curioso, já que também nos países da Europa de Leste, que se encontravam do lado de lá da Cortina de Ferro, se verifica essa propensão para votar mais à direita.

Assim, a hipótese de haver uma surpresa nas eleições não está descartada, mesmo que seja pouco provável. O que é certo é que as linhas vermelhas parecem estar a esbater-se, já que a CDU deverá necessitar do apoio do partido liderado por Alice Weidel – algo que já ficou patente na medida apresentada pelos centristas que prevê um controlo mais apertado da imigração.

Influência americana

Quem também tem representado um papel de relevo nas eleições alemãs, principalmente através do suporte à AfD, tem sido o multimilionário americano Elon Musk, que ativamente promove Weidel, conduzindo até uma entrevista com a política alemã no X, rede social da qual é dono. A postura de Musk tem sido considerada como ingerência pelos críticos, e J. D. Vance, no seu mais recente discurso em Munique alertou para a possibilidade de anulação das eleições. Ao mencionar as últimas eleições romenas, anuladas pelo tribunal após alegada interferência russa, Vance mostrou-se chocado com a possibilidade que o mesmo venha a acontecer num país como a Alemanha. «Fiquei chocado», disse o vice-presidente americano, «com o facto de um antigo comissário europeu ter ido à televisão e ter parecido satisfeito com o facto de o Governo romeno ter acabado de anular uma eleição inteira. Alertou que, se as coisas não correrem como planeado, o mesmo poderá acontecer também na Alemanha».

Assim, a Alemanha deverá seguir o rumo de vários países a nível europeu e internacional, virando claramente à direita. O executivo deverá ser formado pela CDU de Merz, que necessitará gerar consensos, principalmente com a AfD de Weidel.