Aumento do número de mortes nas urgências entre 2015 e 2021

Importa prevenir o recurso a serviços de urgência sempre que possível, com o devido apoio no domicílio, e perceber que estes são locais  onde as pessoas são cuidadas no seu final de vida

Um estudo liderado pela Universidade de Coimbra (UC) revelou que, entre 2015 e 2021, 13,2% das mortes em Portugal tiveram lugar nos serviços de urgência. De acordo com a instituição, o número aumentou ao longo dos anos.

“Este valor aumentou gradualmente de 10,6% em 2015 para 14,3% em 2021″, revelou a UC em comunicado citado pela agência Lusa.

Após a análise de dados relativos a locais de morte em 35 países, os resultados demonstraram que “os serviços de urgência não são apenas locais para tratamento de situações agudas, mas também locais onde pessoas, de todas as idades, passam as suas últimas horas de vida”.

Entre as mais de três dezenas de países analisados, apenas Portugal, e em certa medida os EUA e a África do Sul, registam o serviço de urgência como local de falecimento. “Nestes últimos países, 6,4% e 1,9% das pessoas morreram no serviço de urgência e ambulatório, respetivamente”, acrescentou a UC.

Coordenada pela investigadora da Faculdade de Medicina da UC e do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia, a equipa de investigação acredita que a identificação destes dados pode ajudar na implementação de políticas de saúde que melhorem a prestação de cuidados em fim de vida.

Para Bárbara Gomes, citada no comunicado, saber os resultados do estudo “coloca Portugal numa posição privilegiada para conhecer a realidade dos serviços de urgência enquanto local de morte e atuar sobre essa realidade, para que os cuidados em fim de vida estejam cada vez mais alinhados com as preferências dos doentes e suas famílias”.

“É crítico assegurar que as equipas dos serviços de urgência estão devidamente preparadas para reconhecer pessoas com necessidades paliativas e que as instituições dispõem dos recursos para responder adequadamente às necessidades dos doentes e dos seus familiares neste contexto”, afirmou.

Para a investigadora, importa prevenir o recurso a serviços de urgência sempre que possível, com o devido apoio no domicílio, e perceber que estes são locais  onde as pessoas são cuidadas no seu final de vida.

Os investigadores acrescentaram ainda que, muitas vezes, estes utentes têm necessidades de cuidados paliativos, sejam eles físicos, psicológicos, sociais e/ou espirituais.

Como exemplo está o facto de que, em Portugal, entre 2015 e 2021, “15,7% das pessoas com demência faleceram no serviço de urgência, sendo esta percentagem mais elevada que a registada nas pessoas que morreram por cancro”.