Francisco Calheiros: “Falta o novo aeroporto para o turismo crescer mais”

O presidente da Confederação do Turismo de Portugal diz que o acidente com o Elevador da Glória “não teve como consequência uma quebra de reservas”.

Como vê o peso do turismo para a economia portuguesa?                                   
O turismo gera valor e é uma importante alavanca da economia portuguesa. De ano para ano, a atividade turística contribui significativamente para a criação de emprego e para o Produto Interno Bruto (PIB), quer pelo consumo que permite, quer pelas receitas geradas pela indústria turística. De acordo com o mais recente relatório do World Travel & Tourism Council, em colaboração com o Oxford Economics, o turismo deverá contribuir em 2025 com 62,7 mil milhões de euros para a economia nacional, o que corresponde a 21,5% do PIB. O turismo é também um importante fator de coesão nacional, já que estimula a economia regional e valoriza os territórios, quer a sua economia, o emprego, o património, o ambiente e a cultura. Por outro lado, gera também muito valor para o país através das receitas fiscais geradas pela atividade turística. O setor  tem registado uma evolução positiva, com aumentos significativos nas dormidas, nos hóspedes e nas receitas turísticas, reforçando e consolidando a posição de Portugal como destino competitivo a nível internacional.

O que responde às críticas em relação ao excesso de oferta de hotéis quando temos um problema de habitação?
Não há excesso de oferta hoteleira. Se o turismo cresce, se Portugal é procurado por mais turistas, a consequência óbvia é crescer a oferta em termos de hotelaria e também de restauração. Isto é apenas e só o mercado a funcionar, pelo que não me parece que exista uma relação direta entre a oferta hoteleira e o problema da habitação.

Corremos o risco de termos cidades descaracterizadas?
O turismo tem ainda espaço para crescer de forma sustentável. Falta uma infraestrutura essencial para permitir este crescimento, o novo aeroporto na região de Lisboa, mas espaço para crescer existe, e para que haja um crescimento sustentável e equilibrado, que é aquele a que temos assistido, com a descentralização dos centros turísticos. Há cada vez mais turistas que não concentram os seus dias de estadia nas cidades, mas que repartem o tempo que estão em Portugal conhecendo outras regiões do país. Por isso, não me parece que se deva falar em descaracterização das cidades, até porque os turistas procuram vivenciar a alma e a tradição portuguesas.

Como o setor está a responder à falta de mão-de-obra?
O turismo está a identificar, formar e integrar nova mão de obra que é necessária à atividade turística. Recorde-se que numa parceria entre a CTP, o Turismo de Portugal e a Agência de Integração de Migrações e Asilo (AIMA), foi lançado o programa ‘Integrar para o Turismo’ que visa a identificação, formação e integração profissional de imigrantes e beneficiários de proteção internacional no setor do Turismo em Portugal e que já está a dar os primeiros resultados.

Acidentes como o do elevador da Glória podem ‘assustar’ os turistas?
Foi um acidente, que lamentamos e que infelizmente resultou em vítimas mortais. Mas sim, foi um acidente pontual, que deixou marcas emocionais e que nesses primeiros dias teve algum impacto na imprensa internacional, mas que não impacta na atividade turística. Há dados que me permitem afirmar que o acidente com o elevador da Glória não teve na altura como consequência uma quebra de reservas.

Quais as perspetivas para o setor?
As perspetivas são positivas. Por exemplo, vamos ter mais um bom ano turístico em 2025. Este verão foi novamente de crescimento. O movimento de passageiros nos aeroportos subiu 5% em agosto o que deixa antever um crescimento global de dormidas num dos meses tradicionalmente mais fortes do ano. Os dados conhecidos desde o início do ano mostram que o turismo em Portugal continua a ser uma atividade dinâmica e com grande capacidade de gerar valor em praticamente todas as regiões do país.