Como foi voltar ao mundo da arquitetura e ao ensino? Sentiu falta da adrenalina do mundo autárquico?
Até aos 44 dediquei-me à prática da arquitetura, ao ensino na universidade, e à investigação. Foi o caminho que escolhi. A missão política, que iniciei apenas há 8 anos, foi mais uma maneira de me dedicar à melhoria da qualidade de vida das pessoas e das cidades. Sentirei falta de quem me acompanhou nesta missão autárquica , mas também já sentia falta dos estudantes e de todos os meus colegas.
Defendendo que a arquitetura, à semelhança da política, tem a capacidade transformadora, que projeto fez até hoje que lhe deu mais gozo e que sentiu que ‘mudou’ alguma coisa?
A Igreja, Escola e Centro Comunitário da Boa Nova. O conjunto de cerca de 16.000m2, foi construído para transformar o bairro do Fim-do-Mundo, um dos mais antigos conjuntos de barracas de Cascais. Foi um projeto que demorou mais de 10 anos para ser construído e foi muito participado pela comunidade. Hoje, o lugar é conhecido como Boa Nova, existindo uma nova vivência qualificada e uma nova centralidade.
Sentiu alguma vez o peso de assinar os seus projetos com o apelido Roseta? Isto é: alguma vez a compararam com a sua mãe, no que à arquitetura diz respeito?
Fundei, em 2001, o atelier de arquitetura, Roseta Vaz Monteiro Arquitetos, com Francisco Vaz Monteiro para fazer projetos de arquitetura. A minha mãe não fez arquitetura neste sentido tradicional, por isso não há propriamente essa comparação. Comparam-me na política, tanto com a mãe como com o meu pai. Apesar de existirem diferentes ideias entre nós, temos um enorme respeito pelo sentido de serviço e dedicação à causa pública. Não é um peso, mas um orgulho.
A sua filha está a seguir os seus passos. Que obras acha que não deve deixar de ver para enriquecer o seu mundo?
Arquitetura é um modo de vida, mais do que uma profissão. Quem faz arquitetura está sempre a pensar como melhorar a qualidade do espaço. As nossas referências melhores podem ser as nossas casas de infância ou a melhor obra do Frank Lloyd Wright…é preciso estar atenta, viajar muito e ter a humildade de estar sempre a aprender.
A Igreja da Boa Nova, no bairro Fim do Mundo, tem a sua assinatura. Se lhe dissessem que só podia ver uma última vez uma destas obras, qual escolheria apreciar: Catedrais de Chartres e Reims, em França; Basílica de S. Pedro em Roma; Capela de Notre-Dame du Haut em Ronchamp; ou Igreja do Marco de Canavezes de Siza Vieira?
Todas, acrescentando o Panteão de Roma, ou até começando por aqui.
Como é que alguém com o seu currículo decidiu fazer dois mandados autárquicos, onde a mesquinhez, ao que se diz, impera?
No mundo autárquico conheci pessoas dedicadas ao serviço público como nunca vi noutras áreas, tanto funcionários dos serviços municipais, como políticos eleitos. Essa afirmação parece-me pouco fundamentada e injusta.
Em criança, chegou com a sua irmã, a deitar o telefone fixo no lixo, para não ouvir insultos aos seus pais, ambos políticos. Enquanto política sentiu alguma vez vontade de sair das redes sociais e de deitar o telemóvel no lixo?
Deitávamos o telefone no lixo com uma gargalhada. Nunca tive grandes insultos, mas o melhor remédio continua a ser este.
Na manifestação do Movimento Porta a Porta foi insultada. O que acha do radicalismo que se vive na sociedade portuguesa?
Não fui insultada pelos manifestantes, entre os quais estava bem, mas pelo organizador, que mostrou ser uma pessoa incapaz de perceber que o problema da habitação só se resolve em cooperação e não em conflito. O radicalismo traz mais problemas do que soluções, por isso é ineficaz.
Saiu da Câmara de Lisboa, em outubro. Depois dessa data teve curiosidade em voltar a visitar os bairros onde a sua vereação ‘apostou’ mais? Manteve algum lado afetivo com esses espaços?
Mantenho sempre e voltarei sempre.
Diz-se que não há duas sem três. Depois de Cascais e Lisboa admite, no futuro, voltar a ter atividade política, numa câmara ou no Governo?
Sim, apenas quando sentir que posso fazer a diferença.
Disse que nenhuma sociedade é justa se deixar alguém para trás. Não houve injustiça em Carlos Moedas não contar, no novo mandato, com Filipe Anacoreta Correia, Joana Almeida e a própria Filipa Roseta?
Não aceitei continuar como Vereadora da Habitação e das Obras por motivos pessoais que apresentei a Carlos Moedas. Julgo que entendeu e aceitou. Tenho por ele, e pelo grupo de pessoas com quem partilhei este executivo, muita consideração e um profundo respeito.