Salgado: um espírito pouco santo

Quarenta anos depois de elementos da família Espírito Santo terem sido presos nas nacionalizações da banca no 25 de Abril, um membro do clã enfrenta de novo esse destino. Ricardo Salgado está a ser interrogado em tribunal devido a suspeitas de branqueamento de capitais e fraude fiscal e, com o risco de fuga e de…

O dia de hoje é um abanão no regime. Ricardo Salgado era conhecido em alguns meios como o ‘DDT’, o  Dono Disto Tudo, tal o poder e a influência que ganhou nas últimas duas décadas. Almoços com primeiros-ministros, férias com empresários e jantares com magnatas resultaram num grupo quase omnipresente nos negócios do país. João Rendeiro no BPP e Oliveira e Costa no BPN eram figuras menores do sistema financeiro português. Salgado era o rei.

É deposto sem glória pela crise internacional, pelo Banco de Portugal e pelo Ministério Público. Anos de falsificação de contas e de esquemas fiscais para esconder o estado depauperado a que chegou o Grupo Espírito Santo terminaram de forma abruta, sem que os impactos das irregularidades na economia sejam conhecidos na totalidade. Mas Salgado deixa mais do que as repercussões meramente financeiras. A família demorará anos a recuperar o prestígio que já teve – se o recuperar. Como o próprio Salgado disse à imprensa há uns anos: “Tudo se compra e se vende, excepto a honra”.

Editor de Economia do SOL

joao.madeira@sol.pt