Cavaco pede reforma do sistema político

O Presidente da República quer que os partidos passem das palavras aos actos no debate sobre a reforma do sistema política. E usou o 5 de Outubro e as lições históricas da Primeira República para exortar os partidos a recuperar os valores republicanos e a reformarem a sua forma de funcionamento e se aproximarem dos…

Cavaco Silva quis usar o 5 de Outubro para reflectir sobre o sistema político e citou um estudo do Eurobarómetro para apontar a desconfiança dos portugueses em relação à política – dados que revelam que 89% não confiam nos políticos.

"É cada vez maior a repulsa dos portugueses mais qualificados em exercer cargos políticos", lamentou o Presidente, preocupado com o afastar dos melhores do serviço público, graças à "falta de incentivos" para servir o Estado quando comparado com um sector privado mais atractivo e bem remunerado.

A demografia e o populismo foram outros problemas apontados por Cavaco que acha que pouco se tem feito para "promover uma maior aproximação entre eleitos e eleitores", reforçando a importância de passar do debate crónico sobre o sistema político a "reformas efectivas e necessárias".

Cavaco ressalvou "o exemplar sentido de civismo" dos portugueses como "sinal de esperança" e de que não está em causa a democracia, apesar da necessidade de reformar o sistema político.

Cavaco voltou, de resto, a apelar aos partidos para que cultivem uma "cultura de compromisso" que evite a implosão do sistema político português pelo aumento da abstenção.

"Só através da cultura do compromisso podemos alcançar a estabilidade governativa", repetiu Cavaco, lembrando que foi a instabilidade da República que abriu caminho ao golpe militar que haveria de levar Portugal a uma ditadura de 40 anos.

Cavaco voltou ainda a recordar a importância da "gestão criteroriosa dos escassos recursos públicas" e do controlo do défice como forma de manter o Estado social.

A dez dias da entrega do Orçamento do Estado, Cavaco alertou ainda para os perigos das promessas irrealistas.

"Numa República não existem privilégios de nascimentos" e "ninguém está acima da lei", sublinhou Cavaco Silva, que lembrou a "ética" republicana como valor essencial.

O Presidente lembrou ainda os tempos de "instabilidade crónica" dos tempos da Primeira República, quando os Governos duravam em média 4 meses e os Presidentes se sucediam a um ritmo alucinante, para recordar a importância da estabilidade política.

margarida.davim@sol.pt