Novo líder da JSD: ‘Não fomos nós que mandámos os jovens emigrar’

Estudante de Direito chega, aos 28 anos, à liderança da JSD, 14 anos depois de se filiar. Admirador de Passos, Cristóvão Simão Ribeiro não se coibiu de começar com um discurso crítico às políticas de Educação.

Os jovens estão cada vez mais desligados da política?

Eu não acho que os jovens estejam afastados da política. Os jovens estão afastados é da forma como se organizam os partidos. 

Qual é o papel das juventudes partidárias?

O primeiro, de sensibilização junto da juventude para a necessidade de participação cívica e política. É preciso dizer claramente que sempre que um jovem qualificado e empenhado deixa de participar na vida pública o espaço é ocupado por pessoas menos boas. E também que, ao ter esse tipo de atitude, os outros decidem por ele. Em segundo lugar, é importante uma JSD que seja uma plataforma, que saiba ouvir os jovens, um fórum de discussão amplo.

Qual é a preocupação maior para os jovens?

O desemprego, o acesso às profissões, a relação da economia com a produção de conhecimento e a formação dos jovens. A emigração também. Para alguns, as questões mais fracturantes, os temas mais ditos de esquerda.

Quais são os temas fracturantes que ainda são prioridades?

A legalização da prostituição, a co-adopção ou a adopção plena por casais homossexuais. São temas que não me chocam de maneira nenhuma. Acho que a JSD deve ter sobre eles uma posição, mas carecem ainda de um debate interno.

Começou a intervenção no Congresso da JSD com uma crítica à colocação de professores…

É um problema crónico, não é deste ou de outro governo. E é algo para mim de extrema gravidade. Não consigo conceber como uma sociedade que se quer justa e evoluída trata tão mal uma classe tão importante.

O Ministério da Educação é aquele que está pior neste Governo?

Não. Nem sequer estava falar deste Ministério. O que acho é que a conduta de governo após governo não tem sido suficientemente vanguardista para pensar num modelo novo. Primeiro, de preparação do ano lectivo mais cedo, depois na autoridade do professor e terceiro, seja por via de uma maior autonomia das escolas ou não, de alteração do paradigma de colocação de professores.

Começou com uma crítica ao Governo, com o PM na sala. Vai retomar a tradição de líderes da juventude mais contestatários?

Não vim para a política para bater nas pessoas por bater. Agora, não tenho problema nenhum em alertar de forma crítica e violenta se for preciso seja o sr. PM, seja qualquer ministro.

Foi essa a postura do PM quando era líder da JSD…

Exactamente. Ele próprio tem uma quota parte de responsabilidade porque é uma das minhas inspirações. Outra coisa é perguntarem-me se confio no trabalho do senhor primeiro-ministro. Confio completamente. Mas, como toda a gente, comete erros.

Qual foi até agora o maior erro?

Não vejo erros de pecado capital. A colocação de professores é uma questão que já apontei. E o financiamento do ensino superior tem de ser completamente revisto.

Qual é o maior trunfo do Governo?

A seriedade e a política de verdade. O maior trunfo foi a consolidação orçamental e o equilíbrio das contas públicas, porque acredito que a médio prazo isso será fundamental para reduzir a carga fiscal das empresas, estimular a economia e gerar emprego.

Até onde vai a sua ambição?

A minha ambição é continuar a ser feliz no que faço. Gosto muito de fazer política, do meu partido e do meu país. Entrei para a JSD com 14 anos. Chego a líder nacional 14 anos depois. Passei por todos os lugares na JSD, fiz parte de muitos movimentos associativos e isto é uma coisa que deu trabalho. Mas foi passo a passo. Quando entrei não pensei que ia ser líder e até há bem pouco tempo nem sequer pensava nisso. 

Defende o voto aos 16 anos. Haveria muitos interessados em votar?

Isto é mais uma peça de um grande puzzle, juntamente com a reforma do sistema eleitoral. Se houver uma forte educação cívica, pode ser uma arma de combate à abstenção.

O caso Sócrates trouxe para o debate político a criminalização do enriquecimento ilícito. Qual é a sua opinião?

O enriquecimento ilícito é algo que vende. A sociedade está sequiosa desse tipo de medidas, porque sente que a classe política dos últimos 20 anos a defraudou. Agora, na questão jurídica isso é perigoso, porque seria inverter o ónus da prova. Acho que os políticos deviam ser condenados por actos de gestão danosa e negligência grosseira, deviam ser mais responsabilizados. Mas essa questão jurídica particular carece de maior cuidado antes de se iniciar o debate.

Os jovens que emigraram vão poder voltar?

Julgo é que a médio prazo podem voltar. Não podemos é desbaratar o esforço que os portugueses fizeram nestes últimos três anos. Não fomos nós que mandámos os jovens emigrar. A culpa é das Parque Escolar e PPP desta vida e de governos anteriores que deixaram o país na miséria e os jovens sem oportunidades.

margarida.davim@sol.pt