Livro de Sócrates não foi escrito por ele

Terá sido um professor catedrático português a escrever o livro A Confiança no Mundo – Sobre a Tortura em Democracia, publicado como sendo da autoria de José Sócrates. Esta conclusão, baseada em escutas telefónicas, faz parte dos indícios recolhidos na Operação Marquês, segundo o SOL apurou junto de uma fonte conhecedora do processo.  

Livro de Sócrates não foi escrito por ele

Com prefácio de Lula da Silva e posfácio de Eduardo Lourenço, o livro foi lançado em Outubro de 2013, sob a chancela da editora Verbo, numa concorrida cerimónia, onde estiveram as figuras de topo do PS, incluindo Mário Soares (que apresentou o livro conjuntamente com o ex-Presidente brasileiro), António Costa, Ferro Rodrigues, Almeida Santos e Manuel Alegre. Na altura, Sócrates explicou que o texto correspondia ao trabalho académico que realizara para o Instituto de Estudos Políticos (‘Sciences Po’) de Paris depois de abandonar o Governo, em 2011. Numa entrevista que deu na ocasião ao Expresso, chegou mesmo a precisar que tinha escrito o livro em francês e que depois o traduzira para português.

A conclusão de que o volume foi redigido por um professor universitário, um homem da mesma geração do ex-primeiro-ministro, terá resultado das escutas telefónicas a Sócrates, durante meses consecutivos. Quando o ex-primeiro-ministro foi detido, em Novembro, o mesmo catedrático já teria a incumbência de redigir um novo livro para surgir também sob a autoria de Sócrates,  que se intitularia Carisma. Resulta também do teor das conversas entre os dois amigos que o verdadeiro autor da obra receberia contrapartidas pelo seu despojamento intelectual.

Entretanto, os advogados de José Sócrates fizeram um comunicado noticiado pelo Diário de Notícias em que desmentem “categoricamente” não ter sido ele o autor do livro. "Hoje mesmo, iniciamos os procedimentos adequados à reparação da ofensa e, também, iremos questionar as autoridades, judicial e do Ministério Público, quanto à circunstância de estas, e outras semelhantes, notícias poderem estar a ser divulgadas a coberto da invocação de fontes do processo ou de fontes da investigação", referem ainda João Araújo e Pedro Delille.

paula.azevedo@sol.pt e felicia.cabrita@sol.pt

(actualizada às 17h50)