Uma coligação de ‘cautelas e caldos de galinha’ contra o facilitismo do PS

Com Passos de cravo na lapela e Portas a lembrar os 40 anos que hoje se cumprem desde as primeiras eleições livres. Foi assim que se deu o arranque da campanha conjunta de PSD e CDS.

Uma coligação de ‘cautelas e caldos de galinha’ contra o facilitismo do PS

Num hotel de Lisboa, Passos Coelho e Paulo Portas assinaram o acordo de princípio que marca o arranque das negociações das listas e programas conjuntos para as legislativas.

Portas deu o pontapé de saída, com um discurso sobre a "forte manifestação de vontade política" que disse estar por trás do acordo entre os dois partidos.

O líder do CDS sublinhou o facto de ser um acordo que abre espaço à participação de independentes nas listas: "Une as nossas forças, alarga os nossos espaços, abrindo a independentes", explicou para logo de seguida dar o mote que deverá marcar o discurso da campanha da coligação.

Responsabilidade é o mote da campanha

"Outros trouxeram a troika. A nós coube-nos o encargo de a fazer sair", declarou Paulo Portas, na mesma linha que Passos haveria de usar no seu discurso para fazer das próximas eleições uma escolha entre o facilitismo e a responsabilidade.

"Sugiro aos nossos concidadãos prudência e caldos de galinha", lançou Portas. "Ser cauteloso nunca fez mal", acrescentaria Passos.

O primeiro-ministro considera mesmo que a coligação tem um missão: "Temos a obrigação de deixar Portugal livre de perigo". Pelo que "não representa uma ambição de poder pelo poder".

A "linha de rigor" está garantida, assegura Passos, que diz que as facilidades que se espera, no próximo ciclo económico e que serão proporcionadas pelos fundos europeus, pelo programa do BCE para a compra de dívida, pelo Plano Juncker e pela baixa do preço do petróleo, não devem fazer esquecer o equilíbrio das contas públicas.

"É responsabilidade e não a facilidade ou a inconsciência que nos liberta", defendeu Passos, que acredita que será esse o caminho que fará Portugal "crescer ainda mais".

Menos de uma semana depois da apresentação da Agenda para a Década do PS, não foram poucas as referências e as críticas indirectas às ideias dos economistas escolhidos por António Costa, com Portas a garantir que a maioria não tomará opções que provoquem o "colapso nas contribuições dos trabalhadores.

Sobretaxa é para eliminar

De resto, foi o líder do CDS que anunciou de forma clara que este "projecto de coligação tem objectivos para o futuro". E os elencou, começando pela sobretaxa de IRS.

"A sobretaxa pode ser eliminada, deve ser eliminada e vai ser eliminada. Ano após ano", disse, sem falar indicar a data de 2019 – que está prevista no Programa de Estabilidade do Governo – nem de 2017, como se indica no cenário macroeconómico socialista.

"A redução do desemprego jovem" e o "apoio a quem tem menos e precisa mais" foram outras prioridades apontadas por Portas, que acredita na renovação de uma "maioria que dê a Portugal um governo estável".

Para já, Portas deixa a promessa de uma "campanha pela positiva na atitude e sóbria nos meios usados".

E Passos promete aquilo que " o dia de 25 de Abril prometeu a todos os portugueses".

Apesar de ser há muito esperado o anúncio da coligação, a assinatura deste acordo de princípio neste sábado, 25 de Abril, acabou por ser surpreendente. O vice-primeiro-ministro devia ter viajado hoje para Nova Iorque, onde tem agenda na segunda-feira. E ninguém esperava já que o anúncio surgisse antes de Maio.

A última vez que houve uma coligação pré-eleitoral para as legislativas entre PSD e CDS foi há 36 anos, quando se firmou o acordo para a AD, a Aliança Democrática.

margarida.davim@sol.pt