Era uma vez um museu

Era uma vez um museu em Belém. Todos os anos recebia  aproximadamente 200 mil pessoas, o que fazia dele o segundo mais visitado do país. Aparecia em todos os guias turísticos como uma atracção a não perder. Destacavam a sua magnífica colecção, mas também o belo edifício em que estava instalado. Concebido originalmente como um…

Mas, um belo dia, responsáveis políticos decidiram que o museu devia mudar de casa. A decisão era uma espécie de pedrada no charco que pretendia agitar as águas estagnadas do turismo naquela zona. E o dinheiro, oriundo do Casino Lisboa, não faltava. Foi contratado um arquitecto de renome para fazer o projecto.

Só que entretanto o país entrou numa crise profunda. Um pouco por toda a parte, havia património a degradar-se a olhos vistos. Mas o processo já não podia ser revertido: o novo edifício em Belém continuava a crescer, consumindo enormes e preciosos recursos.

Não creio que haja nada de errado com o projecto de Paulo Mendes da Rocha. Tem uma escala imponente, linhas modernas, um aspecto geral desempoeirado. Mas enquanto o antigo museu era algo que só podia ser visto em Lisboa, o novo edifício assemelha-se a tantos outros que nos últimos anos têm surgido por esse mundo fora. Podia ser um aeroporto no Dubai, um centro de arte contemporânea em Espanha ou a sede de uma empresa de telecomunicações na Escandinávia.

Muitos estão convencidos de que isso faz de Lisboa uma cidade mais cosmopolita. A mim parece-me que menosprezar uma das jóias da coroa da capital é um sintoma de atraso. Da mesma forma que desperdício não é sinónimo de riqueza, também não se deve confundir betão com progresso.

Era uma vez um museu que vai fechar as portas no próximo dia 11 de Maio. Se não o conhece ou tem saudades de o visitar, aproveite esta última oportunidade. Porque quando reabrir, a poucos passos da antigas instalações, o Museu dos Coches vai estar diferente. Diria mesmo mais: já não será ele próprio. 

jose.c.saraiva@sol.pt