Venezuela entrou com 5 mil milhões no GES

Os clientes venezuelanos eram tão importantes que o Grupo Espírito Santo (GES) não podia arriscar perdê-los. É esta a mensagem que Ricardo Salgado tem passado sobre as duas cartas de conforto que asseguravam o reembolso a duas entidades venezuelanas que investiram em dívida das empresas do GES. Documentos do Banco de Portugal a que o…

Venezuela entrou com 5 mil milhões no GES

Os investimentos estavam repartidos por 10 entidades venezuelanas. Pelo menos quatro terão sido lesadas com a queda do GES, num montante total que ultrapassa os 659 milhões de euros (726 milhões de dólares).

Além do Banco de Desarrollo Economico y Social e do Fondo Desarrollo Nacional (Fonden), que receberam as cartas de conforto assinadas por Ricardo Salgado e José Manuel Espírito Santo, a 9 de Junho de 2014, numa alegada violação das regras impostas pelo Banco de Portugal – que proibiam a exposição do BES ao GES -, também a PDVSA, filial da Petróleos da Venezuela, e a PDVSA Services, ligada àquela empresa estatal venezuelana, terão perdido parte do dinheiro que foram investindo em notes da ESI. 

A PDVSA – que investiu 586 milhões de euros em dois anos – não terá chegado a reaver os últimos 109 milhões investidos. O reembolso estava previsto para Outubro de 2014, altura em que o BES já estava dividido em dois e a ESI à beira da insolvência. Também a PDVSA Services terá perdido 219 dos 752 milhões de euros aplicados: uma parte desse dinheiro deveria ter sido reembolsado em Outubro de 2014 e a outra está prevista para Maio de 2018.

Foi em Abril de 2014 que o Fonden e o Banco de Desarrollo Economico y Social quiseram cancelar um investimento de 331 milhões de euros (365 milhões de dólares) aplicados em obrigações da ESI. O primeiro estava em vias de perder 304 milhões de euros e o segundo 27 milhões – que só venceriam em pleno Verão da derrocada do império Espírito Santo. Ainda assim, apenas uma parte do investimento que haviam feito desde Setembro de 2012: o Fonden investiu um total de 972 milhões de euros e o banco de desenvolvimento venezuelano um total de 389 milhões.

Banco central investiu

Em Maio,  segundo Salgado, estas entidades terão manifestado a intenção de investir 700 milhões de dólares num aumento de capital da Rioforte. Esse interesse terá sido depois confirmado pelo ministro do Petróleo daquele país. Perante esse cenário, as cartas serviriam para “tranquilizar contrapartes de enorme relevância na actividade do BES”.  O aumento de capital na Rioforte não avançou, o BES colapsou e aquelas ‘garantias’ acabaram por passar para o ‘banco mau’.

Da lista de investidores institucionais que financiavam a holding com sede no Luxemburgo constam ainda outras quatro empresas ligadas à PDVSA: a PDV Insurance Company, que fez um único investimento de 120 milhões de euros; a Petrocedeno, com um investimento total de 298 milhões; a Commerchamp (outra filial da PDVSA), com 338,7 milhões; e a Corporación Venezolana del Petróleo, com três investimentos num total de 25,9 milhões.

E até o Banco Central da Venezuela aparece na lista. O congénere do Banco de Portugal fez um único investimento de 272 milhões de euros. Do Uruguai surge outro investidor: o banco Bandes Uruguay, que aplicou na ESI nada mais, nada menos, do que 2457 milhões de euros (2703 milhões de dólares).  

Documentos do BdP

Não foram só desconhecidos e clientes institucionais a investir em dívida do GES. Como o SOL revelou na passada edição, estes documentos do Banco de Portugal constam como anexos da acusação contra 15 ex-gestores do BES e incluem nomes como Almerindo Marques (administrador da Opway), Vera Jardim (ex-ministro da Justiça) e Rui Vilar (antigo ministro da Economia).

O nome do escritor Miguel Sousa Tavares também aparece quatro vezes numa dessas listas, como titular de diversos investimentos em unidades de participação do fundo ES Liquidez. Parte dos activos deste fundo eram do GES. 

silvia.caneco@sol.pt