A tática do pássaro na mão

A coligação tem um mantra: estabilidade, confiança, esperança. As palavras são repetidas a cada discurso de Passos e Portas com o objetivo de passar uma mensagem que o líder do CDS resumiu esta semana numa frase: “A coligação oferece mais garantias, outras propostas oferecem mais riscos e perigos”. Em português corrente, traduziu Portas, “mais vale…

A tática do pássaro na mão

O alvo está definido. Agarrar os que estão “zangados” com o Governo, tentando demonstrar que só a receita usada pela coligação se traduzirá na equação “a estabilidade que gera confiança, a confiança que gera investimento, o investimento que gera emprego” – outra das frases que Passos e Portas não se têm cansado de repetir. “Tenho apelado a muitos que, não sendo do PSD e CDS, que acham, num cálculo egoísta, que passaram dificuldades muito grandes que associam ao Governo que lidero, que pensem não apenas no período que passámos mas no futuro que estamos a construir”, salientou Passos Coelho no último fim-de-semana, no encerramento da Universidade de Verão do PSD.

Não cometer erros

Com as sondagens a apontar para um empate técnico, a coligação Portugal à Frente (PàF) está apostada acima de tudo em não cometer erros – e em aproveitar os erros de Costa. As gafes com os cartazes do PS animaram as hostes sociais-democratas e centristas, há três semanas. Agora, espera-se com ansiedade pelo debate de quarta-feira e aguarda-se por um deslize do líder do PS.

“Está visto que o Passos é melhor em debates. Se até com o Sócrates conseguia ganhar, não há por que não conseguir vencer ao Costa”, afirma um dirigente do CDS.

Os indicadores económicos continuam a ser a maior arma da coligação, que não abdica de uma ocasião para os mostrar. Basta passar pela sua página oficial no Facebook para perceber isso mesmo. Estão lá os dados do Eurostat que mostram que julho foi o mês com o desemprego mais baixo desde outubro de 2010, a melhoria do saldo da administração pública e o crescimento de 1,5% do PIB. Todos estão numa espécie de cartazes virtuais, já que nas ruas haverá apenas os 120 outdoors que formam a rede que o PSD tem sempre pelo país.

Os posts sucedem-se e não aparecem por acaso. É cada vez mais nas redes sociais que se faz a campanha e a prova disso é a atenção que a coligação está a dar ao Facebook, onde a sua página oficial tem mais de 31 mil seguidores, que todos os dias recebem na sua cronologia as mensagens da campanha.

As instruções aos militantes

Ainda esta semana, mal tinha terminado a apresentação dos candidatos a Lisboa e já começava na mesma sala de hotel uma reunião mais ou menos informal para alinhar estratégias. “É importante apanhar os soundbites para os fazer circular. Não vale a pena entrar em insultos contra o Costa, que se podem virar contra nós. E têm de tentar ir além da vossa rede de amigos. É preciso espalhar a mensagem”. Estas indicações foram dadas a um conjunto anónimo de militantes de base, que ficaram assim instruídos sobre a melhor forma de passar a mensagem e convencer os indecisos ou, como prefere o vice-presidente do PSD, Carlos Carreiras, “os desencantados”.

Carlos Carreiras está convencido de que, por estes dias, já “não há indecisos, há os desiludidos com o PS e os desencantados com o Governo”, que foram os mais afetados pela austeridade. É nesses que pode estar a chave do desempate e Carreiras diz que é preciso convencê-los de que “não se fez o que se quis, mas o que era absolutamente necessário para ter direito à esperança e ao futuro”.

A “esperança e o futuro” fazem parte do discurso da coligação para mostrar preocupação social, que assegura ter apesar das críticas da oposição. É essa a estratégia que faz a PàF puxar por medidas como a licença de 15 dias que, a partir desta semana, passou a ser obrigatória para todos os pais – e que tem honras de cartaz virtual no Facebook. Ou a necessidade de acolher os refugiados da Síria e do Afeganistão, que Passos fez questão de referir no discurso de apresentação dos candidatos por Lisboa.

margarida.davim@sol.pt