Basílio e o Papa

Basílio Horta, antigo líder do CDS, candidato presidencial que afrontou Mário Soares em 1991 (e protagonizou o debate mais agressivo dessa campanha, fustigando Soares impiedosamente), é hoje presidente da Câmara de Sintra pelo PS. E é um daqueles casos de pessoas que popularmente se designam como ‘mais papistas que o Papa’.

De facto, Basílio parece muitas vezes mais socialista que os socialistas. Ontem, num debate televisivo, vaticinava que vai ser muito difícil haver um entendimento entre a coligação e o PS para a viabilização do próximo Governo.

E explicava que o PS fez um ótimo programa económico de que não abrirá mão, porque “não pode defraudar os eleitores que votaram no PS”.

Esqueceu-se Basílio de um pequeno pormenor: é que esse ótimo programa foi derrotado nas urnas. E que o projeto vencedor foi o da coligação.

Ou seja: para não defraudar os 32% que votaram no PS, deveriam defraudar-se as expectativas dos quase 39% que votaram na coligação PSD/CDS.

Nestas alturas, os políticos mais velhos e mais experientes deviam dar mostras de distanciamento e bom senso — e não de facciosismo.

Ainda por cima, políticos como Basílio – que já mudaram tanto de opinião que deveriam duvidar das suas certezas.