Putin faz ouvidos de mercador

Há uma semana e meia, Vladimir Putin garantira em entrevista às estações de TV norte-americanas PBS e CBS que a Rússia «não fará parte de operações no terreno no território da Síria ou de outros Estados. Pelo menos, não está planeado por ora».

Putin faz ouvidos de mercador

Mas a realidade não corrobora esta afirmação do líder russo. Na segunda-feira foi noticiado que ‘voluntários’ do exército russo vão seguir para a Síria – um pouco à imagem do que sucedeu na Ucrânia, mas que nunca foi admitido. Uma intervenção terrestre, com o apoio dos iranianos e dos iraquianos, começa a tomar forma. Nos últimos dias chegaram centenas de iranianos ao território sírio, juntando-se a milhares de combatentes do libanês Hezbollah e às tropas de Assad. Na quarta-feira deu-se a primeira ação combinada, com o lançamento de mísseis de cruzeiro russos a partir de navios do_Mar Cáspio enquanto tropas governamentais aproveitavam a barreira de fogo para avançar nas regiões de Hama e Idlib.

No mesmo dia a Associated Press revelou que em agosto o general iraniano Qassem Suleimani, líder da brigada Quds (na linha da frente da luta contra o_Estado Islâmico), esteve reunido em Moscovo com o Presidente russo. Suleimani terá convencido o antigo agente da KGB da importância de ataques aéreos russos contra o EI e, por outro lado, avisou do perigo iminente da infiltração do grupo terrorista no Cáucaso.

As peças do puzzle começam a encaixar-se. O Mirror assegura que Moscovo enviou operacionais da unidade especial Spetsnaz. «Eles estão lá para limpar a área depois de ataques aéreos, para pedir ataques aéreos, ir em missões extremamente secretas contra os rebeldes e, finalmente, acabar com eles», explicou uma fonte militar ao jornal inglês.

Já a Foreign Affairs faz uma listagem pormenorizada do sofisticado material de vigilância e de guerra eletrónica que vai alimentar uma «guerra híbrida» e a indicação de que Moscovo se prepara para um «papel de combate no terreno».

Foi com «perfeitas condições meteorológicas para bombardear a Síria» – segundo a apresentadora da meteorologia do canal Rossiya TV – que se iniciou há uma semana a campanha militar dos russos contra todos os grupos anti-Assad. Os Estados Unidos e a NATO criticaram de viva voz a estratégia seguida pelo Presidente russo Vladimir Putin. «A Rússia vai ficar presa num atoleiro. E nós não vamos cooperar com uma campanha que simplesmente tenta destruir todos os que estão enojados e fartos do comportamento de Assad», comentou o Presidente Barack Obama. De forma mais reveladora, o senador John McCain afirmou que os ataques iniciais atingiram «o Exército Sírio Livre ou grupos que foram treinados e armados pela CIA».

A Rússia bombardeou as regiões de Homs, Hama e Idlib com o objetivo de assegurar o controlo da região ocidental do país e manter a ligação entre a capital Damasco e a base naval russa de Tartus e as instalações militares em Latáquia. Atacou também o chamado Exército da Conquista (que inclui o grupo al-Nusra, ligado à al-Qaeda, mas também fações apoiadas pelos Estados Unidos) não muito longe de Damasco.

Da parte russa, a resposta veio pelo ministro dos Negócios Estrangeiros Sergei_Lavrov. Afirmou que o Exército Sírio Livre deve fazer parte do processo político, mas quanto ao resto não fez distinções entre o Estado Islâmico e os outros grupos de combatentes. «Se se parece com um terrorista, se age como um terrorista, se anda como um terrorista e luta como um terrorista, é um terrorista, certo?».

Para tornar a situação mais tensa, ocorreram três incursões de aviões de caça russos em espaço aéreo turco – e em consequência da NATO.

cesar.avo@sol.pt