Costa resiste como líder até quando?

Era uma vitória anunciada e que parecia inevitável quando, há menos de um ano, António Costa vencera António José Seguro nas primárias do PS, com grande adesão e larga vantagem. O país sofria os efeitos de três anos de crise e austeridade e a vitória eleitoral estava desenhada nas estrelas do firmamento socialista.

Afinal, contrariando todas as previsões, o PS registou no passado domingo o seu segundo pior resultado dos últimos 20 anos e das últimas sete legislativas (só o colapso de Sócrates nas eleições de 2011 foi pior). Os socialistas recuperam 180 mil votos em relação a 2011, mas ficam ainda 320 mil votos abaixo da mediana vitória nas legislativas de 2009, que lhes permitiu governar com maioria relativa na AR.

Pior: António Costa viu grande parte do descontentamento com as políticas de austeridade do Governo ser capitalizado por outras forças, passando ao lado ou por cima do PS. O Bloco de Esquerda cresceu 260 mil votos, os pequenos partidos aumentaram 50% a sua votação e até a abstenção subiu os mesmos 180 mil eleitores conseguidos pelo PS.

Esquerda sobe o dobro do PS

Costa vê os partidos à sua esquerda subirem de 24 para 37 deputados e crescerem mais de 380 mil votos, enquanto o PS sobe apenas 12 deputados e 180 mil votos. É uma derrota que deixa marcas no Largo do Rato e que faz recordar a vitória por “poucochinho” de Seguro nas europeias de 2014.

Olhando para o mapa distrital de resultados do PS, constata-se que é nos distritos de Braga, Porto e Aveiro que os socialistas sofrem os seus piores resultados – sendo também esses distritos, por complementaridade, aqueles onde o BE consegue algumas expressivas subidas de votação.

Já os maiores reforços de votantes do PS são visíveis nos distritos do Litoral Centro e Sul, em particular em Faro (onde vence em 13 dos 16 concelhos), Setúbal, Lisboa e Santarém. Mas é nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira que Costa alcança as subidas mais fortes do PS, ganhando um deputado em cada um dos arquipélagos ao PSD.

O facto é que esta derrota, até há pouco imprevista, veio colocar em discussão a liderança e obrigar António Costa a marcar um Congresso para depois das presidenciais. Nessa reunião magna dos socialistas, resistirá Costa a uma segunda derrota eleitoral – desta vez na candidatura a Belém? E, mesmo que não seja derrubado logo nesse Congresso, até quando conseguirá manter-se à frente dos destinos do PS, ferido na asa e na sua competência política por sucessivos e inesperados desaires eleitorais?

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