Assunção Cristas tem um fraquinho por António Costa e embaraça Paulo Portas

1.O Congresso do CDS/PP decorreu num ambiente descontraído, leve, de comoção. Um misto de nostalgia – pela partida do líder mais brilhante da política portuguesa – e de alegria contida pela chegada da nova líder – Assunção Cristas, que provou ser uma Ministra competente, mas ainda é uma incógnita como política de construção de ideias…

2.Neste sentido, Assunção Cristas deve agradecer a sua vitória a Marisa Matias, Catarina Martins e a Mariana Mortágua: em grande medida, o capital político da nova líder do CDS foi alavancado pela necessidade de replicar, à direita, o fenómeno das mulheres aguerridas e com uma presença mediática avassaladora das protagonistas cimeiras do Bloco de Esquerda. O CDS/PP prestou, pois, uma justa homenagem ao talento político das líderes de facto do partido trotskista. Um sinal de humildade democrática, de tolerância e de apelo ao mérito por parte dos militantes centristas.

3.E Assunção é, hoje, uma líder consensual? Se atendermos exclusivamente aos discursos, a resposta é positiva. Assistimos neste fim-de-semana à coroação unânime e consensual de Assunção Cristas: não registamos uma única voz dissonante, à excepção de Filipe Lobo d’ Ávila, o qual se limitou, no entanto, a agitar a bandeira da revogação da lei que permite o aborto até às dez semanas. Para além do aborto, mais nada – só mesmo a dor na alma. A dor da partida de Paulo Portas. Já agora, quem menos se emocionou pela despedida de Portas? Assunção Cristas…Pudera: Assunção quer cortar, rapidamente e em força, com o legado do portismo. O primeiro passo está dado: cortou na sua equipa com os notáveis do CDS e com o aparelho, colocando directamente pessoas das suas relações pessoais, como Mariana França  Gouveia (jurista competente, mas absolutamente caloira nas andanças políticas) e Ricardo Almeida (fiscalista que comentava no Económico TV).

4.Contudo, a nota politicamente mais relevante do discurso de encerramento do Congresso proferido por Assunção Cristas é a revelação, mais ou menos subtil, do novo posicionamento político do CDS. Primeiro, Assunção Cristas criticou as declarações de Paulo Portas no sábado; segundo, Assunção Cristas revela uma admiração política (pouco disfarçada) por António Costa.

4.1. Primeiro, Assunção Cristas deixou Paulo Portas ficar mal na fotografia. Efectivamente, a grande tirada do discurso de despedida do carismático e sempre presente líder do CDS/PP foi a de que só aceitou reconduzir o Governador do Banco de Portugal por insistência de Pedro Passos Coelho, atendendo à necessidade de uma venda rápida do Novo Banco. Tudo em nome, e pela protecção, dos interesses dos contribuintes portugueses.

4.1.2.Afinal, o Novo Banco ainda não foi objecto de venda, permanecendo na esfera pública – e o Governador do Banco de Portugal continua na sua esfera, sem nada resolver, cometendo os mesmos erros. Por acção e por omissão. Logo, sugeriu Paulo Portas, é hora de o próprio reflectir sobre o seu trabalho – e ponderar se é solução ou se é o problema. Implicitamente, Paulo Portas defendeu a saída de Carlos Costa. Já Assunção Cristas, criticou as tentativas de partidarização do Banco de Portugal, recusando-se entrar no jogo de pedido de responsabilidades e de pressões sobre o Governador. Foi uma estalada monumental em Paulo Portas. Estariam combinados? Julgamos que não: Paulo Portas não se colocaria nesta posição, sobretudo em período de início do seu ocaso político-partidário.

4.2. Ademais, Assunção Cristas revelou que tem um fraquinho por António Costa. Entre António Costa e Passos Coelho, Assunção não hesita – escolhe o primeiro. Ora, como explicar que num discurso vazio de ideias (como foi o de encerramento do Congresso), a única ideia que Cristas avançou foi o alargamento da ADSE para os trabalhadores privados que queiram aderir a este seguro de saúde público? Para quê referir esta ideia? O Governo de António Costa vai incluí-la no Orçamento de Estado para este ano, embora, para já, limitada aos trabalhadores do sector empresarial e entidades públicas. O PS não descarta, no entanto, o seu alargamento também a funcionários privados.  O que não deixa de ser curioso: o CDS – partido mais à direita, com uma forte tendência liberal- quer tornar o Estado um vendedor de seguros.

5. Qual a utilidade política de vir defender uma medida já aventada pelo PS de Costa? Não se percebe…A não ser que seja de demarcação completa de Passos Coelho e de namoro ao PS de Costa…A presença de Pedro Nuno Santos no Congresso, em representação do Governo (facto inédito!) mostra que a paixão pode transformar-se em namoro…