Seixas da Costa compara Passos Coelho a Salazar

Francisco Seixas da Costa comparou a saída do poder de Passos Coelho à de António Oliveira Salazar. No seu blogue “duas ou três coisas”, o embaixador lembra que mesmo depois de Salazar ter sido substituído por Marcelo Caetano, o ditador continuou a acreditar que ainda era chefe de Governo

Isso mesmo ficou evidente numa entrevista ao diário francês “L’Aurore”, no verão de 1969, na qual “Salazar revelava estar convencido de que ainda exercia funções governativas, fincando-se a saber que alguns ministros se prestavam ao piedoso teatro de ‘ir a despacho’, para alimentarem a ilusão do antigo ditador”, lembra o embaixador.

Para Francisco Seixas da Costa a comparação entre Passos e Salazar é inegável. “Nas últimas semanas, a avaliar pela coreografia do dr. Passos Coelho, com a bandeirinha na lapela dos tempos do ‘governo de Portugal’ e afazer inaugurações em autarquias de amigos, fica-se com a sensação de que terá sido afetado pela síndrome do seu longínquo antecessor”.

E partilha ainda uma dúvida, para a comparação entre os dois ex-líderes ser completa. “Algum ministro ainda irá ‘a despacho', para lhe atenuar o desgosto da perda do poder para a ‘geringonça’ – que devia durar uns dias, mas que, afinal, é mais resistente do que parecia ser?”.

A resposta, ironiza, podia ser dada numa entrevista ao jornal L’Aurore. “Teria graça ver o antigo primeiro-ministro entrevistado pelo L’Aurore, para percebermos se, tendo ele saído definitivamente de São Bento, São Bento já saiu dele”, escreve o embaixador.

“O tempo é implacável. O "L'Aurore" já não existe, desde há já bastantes anos. Da mesma forma que o primeiro-ministro Passos Coelho já não existe, desde há já cada vez mais meses. Ele saberá?”, questiona Seixas da Costa no seu blogue “duas ou três coisas”.