PCP questiona envolvimento português em projeto israelita

Portugal participa desde maio de 2015 num projeto internacional coordenado por Israel que visa o “desenvolvimento de tecnologias e métodos para interrogatórios policiais”. O “Law Train” é financiado pelos fundos comunitários do Horizonte 2020, mas o PCP tem sérias dúvidas sobre um programa que tem sido alvo de denúncias por parte de organizações não governamentais…

PCP questiona envolvimento português em projeto israelita

“Os objetivos anunciados na apresentação deste projeto Law Train são alegadamente de reduzir o narcotráfico europeu e internacional através da melhoria das competências de interrogatório intercultural das forças de segurança”, lê-se no requerimento feito pelos deputados comunistas Bruno Dias, António Filipe e Carla Cruz, que questionam o facto de Portugal estar envolvido num programa deste género com a participação de Israel.

“São sobejamente conhecidas as práticas de ‘interrogatório intercultural’ das forças de segurança do Estado de Israel e o tratamento dado aos detidos palestinianos, com o recurso à tortura (denunciado desde 1994 pelo Comité contra a Tortura da ONU) e a detenção de crianças, entre outras situações”, frisam os deputados do PCP, contando que a denúncia lhes chegou pela organização Stop The Wall, que combate a discriminação feita pelos israelitas em relação aos palestinianos.

O projeto, ao qual o Ministério da Justiça aderiu durante o governo de Passos e Portas, é financiado em cinco milhões de euros pela União Europeia, estando previsto que Portugal receba cerca de 218 milhões de euros pela sua participação entre 2015 e 2018. Além de Portugal, participam também a Espanha e a Bélgica.

Partilha de dados

O PCP considera, contudo, “inaceitável” a participação nacional num programa coordenado pela universidade israelita de Bar Ilan e quer perceber até que ponto as autoridades de Israel podem ter tido acesso a dados recolhidos pelo Ministério da Justiça e pela Polícia Judiciária, uma vez que o projeto prevê a partilha de informações entre as entidades envolvidas no Law Train através de uma cloud comum.

“Que dados ou informações foram fornecidos no âmbito deste projeto relacionados com a investigação criminal e as autoridades judiciárias portuguesas? Quais são esses dados ou informações e quais são especificamente as entidades que a eles têm acesso?”, querem saber os deputados comunistas no requerimento enviado ao governo na passada sexta-feira e a que o i teve acesso.