Costa veio falar dos “homens que nunca foram meninos”

Num debate quinzenal que promete ainda ficar marcado pela tensão à esquerda em torno da venda do Novo Banco, António Costa resolveu trazer as mudanças que o Governo está a preparar nas reformas para as carreiras contributivas mais longas que abrangem quem muitas vezes começou a trabalhar aos 12 ou aos 14 anos.

Foi um arranque literário aquele por que optou António Costa neste debate quinzenal. Citando a obra de 1941 de Soeiro Pereira Gomes, "Esteiros", Costa lembrou os "homens que nunca foram meninos".

A referência foi direta a uma das negociações em curso com o BE e o PCP: as mudanças para aliviar a penalização de quem tem 40 ou mais anos de descontos e quer reformar-se antes dos 65 anos.

As propostas que estão em cima da mesa negocial estão longe de satisfazer as exigências de bloquistas e comunistas que querem que quem tem 40 anos de descontos se possa reformar sem qualquer tipo de penalização aos 60 anos.

Mas António Costa quis deixar claro que o caminho que o Governo está a fazer vai no caminho de aumentar a Justiça, mesmo que o caminho esteja a ser feito de forma gradual, para assegurar "a sustentabilidade" do sistema de Segurança Social.

"É preciso que fique clara a gravidade da penalização que existe desde 2012. Uma pessoa que tenha começado a trabalhar aos 14 anos com carreira contributiva de 46 anos e se aposente aos 60 sofre agora uma penalização de 29% na sua pensão", frisou o primeiro-ministro, que diz que "esta escolha política não se faz esquecendo a sustentabilidade" do sistema.

Para Costa, essa sustentabilidade fez-se diverdificando as fontes de receita da Segurança Social, como já aconteceu no Orçamento do Estado de 2017 através da consignação do adicional de IMI, mas também "com a criação de emprego, a inversão das tendências migratórias e o desenvolvimento de políticas de rendimento e de justiça social".

"Esta é a visão que temos de solidariedade entre gerações. Em que ninguém com mais de 65 anos viva abaixo do limiar da pobreza, que os que começaram a trabalhar aos 12 ou aos 14 anos se podem reformar aos 60 sem penalização, que todos os que agora estão no mercado de trabalho se podem qualificar e obter formação ao longo da vida, e que as crianças que hoje estão em idade escolar podem ser meninos e adquirem o conhecimento que lhes permita a plena realização como homens e mulheres", declarou António Costa.