A estratégia de Passos Coelho volta a ser colocada em causa dentro do PSD, principalmente desde que foram conhecidos os números do INE que apontam para um crescimento da economia de 2,8% no primeiro trimestre de 2017 face ao mesmo período do ano passado.
Manuel Ferreira Leite, Marques Mendes ou Guilherme Silva são algumas das figuras do PSD que apontam o dedo ao líder por insistir numa mensagem pessimista. “Se não muda de vida, arrisca-se a passar oito anos na oposição”, afirma Luís Marques Mendes.
O ex-líder do PSD, no seu habitual comentário na SIC, aos domingos à noite, criticou o discurso do PSD com “aquela tonteria de que vem aí o Diabo. Era, obviamente, uma orientação política errada”.
Ferreira Leite também considerou que “o erro do PSD foi não ter perspetivado que isto só poderia melhorar, não poderia piorar”. A ex-líder do partido defendeu, no seu programa semanal, na TVI 24, que, ao associar-se a “uma perspetiva pessimista”, o PSD tornou difícil “mudar de discurso e ao ser difícil mudar de discurso fica-se sem discurso”.
Já o ex-líder parlamentar do PSD Guilherme Silva defende que “se o PSD ficou sem discurso é porque não tinha o discurso certo. O PSD deveria ter apresentado ao país uma alternativa mais consistente com o argumento de que esta solução é altamente condicionada por partidos de esquerda, que são anti-União Europeia e contra a permanência de Portugal no euro”.
O ex-deputado social-democrata, em declarações ao i, considera que tem faltado ao PSD “uma alternativa sólida” e aconselha a direção do partido a tirar uma “lição desta circunstância para que seja possível ajustar o discurso. É importante que o PSD comungue daquele que é o sentimento geral dos portugueses de que estamos satisfeitos com o crescimento económico e que desejamos todos que ele não seja fruto de uma mera conjuntura, mas se torne sustentável”.
Passos ficou colado a um discurso pessimista e à frase, proferida numa reunião do grupo parlamentar, “vem aí o Diabo”, mas não é essa a única falha apontada ao líder do principal partido da oposição. Paulo Rangel alerta que o discurso não pode ser apenas económico e financeiro. “O PSD está extremamente afunilado nas questões económicas e financeiras quando nós temos imensas áreas em que o governo tem falhado clamorosamente”, disse o eurodeputado social-democrata, no programa “Prova dos Nove”.
Rangel lamenta que o partido continue “muito preso” a essa mensagem e deixe o governo à solta em “imensas coisas que estão a falhar. A política de Justiça é um desastre. A Administração Interna está num estado lamentável…”.
A mesma crítica fez o ex-líder da JSD Pedro Rodrigues. “O PSD não deve continuar apenas centrado nas discussões de natureza económico-financeira. São questões determinantes, mas há outras matérias que interessam aos portugueses para as quais o PSD também tem de olhar”, disse, em entrevista ao “Público”, o fundador do movimento de reflexão interna “Portugal Não Pode Esperar”.
“Não é fácil”
O ex-líder do PSD, Santana Lopes, sem fazer reparos à atuação de Passos Coelho, admite que “tudo parece bater certo” e “não é fácil ser oposição neste momento. Não é fácil encontrar um discurso”.
Passos Coelho admitiu que não vai ser fácil ganhar as eleições autárquicas, mas garantiu que o PSD vai dar luta. “Nós estamos nestas eleições para as disputar, não estamos aqui para ver passar comboios”.“Se [o PSD] não muda de vida, arrisca-se a passar oito anos na oposição”
