Crise de Tancos e fogos. PS em suspenso com remodelação

Como é que vai ser? Há um PREC no PS – processo remodelatório em curso. Não se sabe como vai acabar, mas os socialistas estão em suspense à espera do regresso de Costa.

Há algum nervoso no ar. Afinal, António Costa ainda não fez nenhuma remodelação por sua iniciativa. Aliás, a única demissão que aconteceu no governo foi quando João Soares se demitiu de ministro da Cultura depois de ter escrito um post no Facebook a falar de alegadas bofetadas a dois cronistas e acabou por ser substituído por Luís Filipe Castro Mendes.

Mesmo sob grande contestação – incluindo interna -, vários ministros e secretários de Estado mantiveram-se impávidos e serenos nos seus postos. António Costa é primeiro-ministro há um ano e oito meses, passou por alguns tumultos – Centeno a admitir que Domingues estava isento de entregar declarações de rendimentos, secretários de Estado a irem ver jogos de futebol ao Euro-2016 a convite da Galp, etc. Mas, comparados com a situação que agora se vive, foram pequenos tumultos. 

Na realidade, a metáfora apropriada para definir este governo é o da pessoa que vai ao médico fazer um check-up e o resultado é excecional, mas à saída do consultório é atropelada com gravidade. A vida das pessoas e dos governos não é previsível, por muito calculistas que as pessoas ou os governos sejam.

O arraial de boas notícias que marcou os últimos tempos do governo – o défice mais baixo da democracia, a queda do desemprego, a paz social, o aumento do rendimentos dos cidadãos, o turismo em expansão, a Europa “hard” em elogio contínuo, a imprensa internacional a apontar o governo como exemplo, etc. – esvaiu-se com um incêndio devastador que causou 64 mortos e um assalto ao paiol de Tancos que fez desaparecer armas potentes que podem ter ido parar às redes terroristas, como desconfia o Ministério Público. 

Nos dois casos, um tronco comum: o falhanço dos serviços responsáveis pela segurança das populações, nomeadamente Defesa e Administração Interna. O número 1 do governo em exercício, Augusto Santos Silva, já não dá por adquirido que não exista remodelação. Ontem, depois de uma visita aos serviços de segurança, Santos Silva voltou a ser evasivo, depois de na segunda-feira, em entrevista à RTP, ter afirmado que não haveria demissões no executivo. Interrogado sobre se Constança Urbano de Sousa e Azeredo Lopes continuavam a ter a confiança absoluta do primeiro-ministro, Augusto Santos Silva deu a resposta legal: “Em primeiro lugar, os ministros não têm a absoluta, nem a relativa, confiança do governo. O governo como tal responde perante a Assembleia da República, os membros do governo respondem perante o primeiro-ministro.” 

Na véspera, o número 2 do governo, que está a fazer de número 1 durante as férias do primeiro-ministro, já tinha dito, quando interrogado sobre as possíveis demissões, que “a composição do governo é da responsabilidade do primeiro-ministro”. 

Augusto Santos Silva foi hoje acompanhado por Constança Urbano de Sousa, ministra da Administração Interna, e pela ministra da Justiça, Francisca Van Dunen, numa visita ao serviço de informações “para fazer um ponto de situação de segurança interna na sequência do furto do material militar de Tancos”. Na agenda enviada pelo governo confirmava-se a presença do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, que acabou por ser “desviado” por Marcelo Rebelo de Sousa para uma cerimónia militar de receção aos oficiais que regressaram do Kosovo que, na véspera, já estava prevista na agenda do Presidente da República.

Augusto Santos Silva justificou a mudança de planos do ministro da Defesa – cada vez que o Presidente se desloca a uma cerimónia destas deve ir acompanhado por um membro do governo. 

O governo “foi conhecer em pormenor o que tem sido feito em termos de serviços de segurança” a seguir ao caso de Tancos, mas o ministro dos Negócios Estrangeiros garantiu que “o efeito do furto não requer uma mudança do nível de ameaça identificado, que continua a ser um nível moderado. Isso é feito de forma dinâmica e permanente, mas não há nenhum elemento que obrigue a alterar isso. Mas não significa que não estejam em curso medidas de reforço de segurança e de partilha”.