Pedro Nuno Santos. “O PSD não percebeu nada do que está a acontecer em Portugal”

Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares comenta ao i as palavras de Paulo Rangel e de Cavaco Silva. “É uma indignidade e é lamentável que o PSD tenha atingido o nível que atingiu”

Pedro Nuno Santos não tem dúvidas: o PSD ainda não entendeu que há outra realidade em Portugal. “O que tenho pena é que o PSD, ao fim destes dois anos ainda não tenha percebido nada do que está a acontecer em Portugal e continue a cometer erros”, disse ao i, numa conversa durante a Festa do Avante.

Na sexta-feira, na Universidade de Verão do PSD, Paulo Rangel acusou o governo de António Costa de ter, com os cortes na Proteção Civil, contribuído para a dimensão da tragédia em Pedrógão Grande – afirmação que o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares considerou “uma indignidade”.

“É uma indignidade e é lamentável que o PSD tenha atingido o nível que atingiu. A única coisa que posso dizer é que nós não desceremos ao nível deles, mas também nunca ficaremos calados, isso nunca. Estamos a fazer o nosso trabalho, estamos a fazer um investimento importante nos serviços públicos, no Estado, isso é evidente”, comentou.

Para Pedro Nuno Santos, o PSD “não tem credibilidade” para “fazer isso tipo de acusações quando é o partido que mais atacou os serviços públicos e o Estado, e os portugueses sabem disso. O que tenho pena é que o PSD, ao fim destes dois anos ainda não tenha percebido nada do que está a acontecer em Portugal e continue a cometer erros”.

O secretário de Estado vai mais longe, acusando o eurodeputado social-democrata de não dar “uma ideia para o país”, de não falar “sobre um problema do país” e de só apontar o dedo ao governo, “de forma infelizmente insultuosa para o PS”.

“Se acham que isso lhes vai permitir ter apoio popular, estão muito enganados. E acho que nestes dois anos já era tempo suficiente para terem percebido isso”, acrescentou.

“Acho que era bom para a democracia que o PSD pudesse participar no debate sobre os problemas nacionais, em vez de estar preocupado exclusivamente em justificar o seu passado ou a atacar o governo”, referiu Pedro Nuno Santos. Apressando-se a juntar, para que o PS não seja acusado de não respeitar a liberdade de expressão, que “eles podem criticar o governo como quiserem, como nós, depois, somos livres de os criticar a eles”.

Cavaco “é livre de fazer as críticas que quiser”

Pedro Nuno Santos também comentou as declarações de Aníbal Cavaco Silva. Mas só as que dizem respeito ao PS – sobre as palavras que o ex-presidente proferiu em relação ao seu sucessor, Marcelo Rebelo de Sousa, o secretário de Estado preferiu guardar silêncio.

“É preciso recordar – eu admito que depois das declarações ficamos todos confusos – quem deu posse a este governo foi o mesmo Cavaco Silva”, referiu o governante, que também lembrou ao ex-presidente que, “pela primeira vez em tantos anos, estamos a cumprir as metas que acordámos com os nossos parceiros europeus, ao contrário do governo PSD-CDS, que nunca cumpriu nenhuma”.

“Nós não estamos a piar, nem a deixar de piar, ficamos abaixo, mas com um programa de ação social, com um programa de reposição de cortes, de redução de impostos, de aumento de investimento nos serviços públicos, de aumento das pensões, das prestações sociais. E fizemos isto tudo a cumprir as metas”.

O ex-presidente da República afirmou, durante a aula que deu na Universidade de Verão do PSD, que “os governos dos países da zona euro, ao chegarem ao poder, podem começar com alguns devaneios revolucionários, mas acabam por perceber que a realidade tem uma tal força” que “acabam sempre por conformar-se com as regras europeias de disciplina orçamental”.

Pedro Nuno Santos rebateu essa ideia de Cavaco Silva e lançou farpas à forma como o governo de Pedro Passos Coelho se relacionava com as instituições europeias: “O governo português hoje não se bate com os portugueses para cumprir aquilo que é exigido longe de Lisboa, não, nós batemo-nos em Bruxelas para poder cumprir em Portugal aquilo com que nos comprometemos com os portugueses”.

Para o secretário de Estado, “esta é uma alteração muito grande à forma como nos relacionamos com os parceiros europeus. Nós exigimos hoje em Portugal e na relação com a Europa ser mais um igual e é assim que nos relacionamos com os parceiros, infelizmente não era assim que acontecia com o governo do PSD-CDS”.

De qualquer maneira, sublinhou, Cavaco Silva “é livre” de fazer as críticas que quiser, “é alguém que foi primeiro-ministro, presidente da República, era só o que faltava que não pudesse dizer o que quer”. Mas ressalva que, “obviamente, a liberdade de expressão tem dois sentidos”, por isso, “também tem de aceitar, ele e o seu partido, que sejam feitas críticas por quem não concordou com o que ouviu – é a democracia”.

“Não é cedências”

Em relação ao Orçamento de Estado e às negociações com o Bloco de Esquerda, o PCP e Os Verdes, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, garantiu que as conversas seguem “muito bem” e garantiu que o documento será entregue na data estabelecida pelo executivo: 13 de outubro. “Claro que vamos entregar a tempo”, disse peremptório. “Os quatro partidos estão a trabalhar com muita vontade de construir um país melhor e estamos a conseguir”.

Questionado sobre que cedências estão os socialistas dispostos a fazer para ver os partidos à esquerda viabilizarem o orçamento, Pedro Nuno Santos corrigiu: “Não é cedências. Nós construímos um Orçamento em conjunto. Partimos de algumas matérias em posições diferentes, vamos trabalhar para nos aproximarmos”.

“Se quiserem chamar cedências, podem chamar à vontade, não é assim que nós entendemos a coisa, entendemos a coisa como um processo normal de negociação”.

E nesse processo normal de negociação, que margem de manobra tem para negociar? “O Partido Socialista não tem maioria, o Partido Comunista Português, o Bloco de Esquerda e Os Verdes têm que se sentir confortáveis com o orçamento para o viabilizarem. É assim numa democracia madura, portanto, estamos a trabalhar todos para construir um orçamento que seja compreendido como bom por estes quatro partidos, pela maioria do parlamento português, já agora pelos representantes da maioria do povo português.”

Pedro Nuno Santos recusou-se ainda a comentar o pedido do vice-presidente do CDS e candidato à presidência da Câmara da Covilhã, Adolfo Mesquita Nunes, para que o PS retire o apoio à candidata socialista a uma junta de freguesia daquele concelho pelos ataques xenófobos ao candidato centrista, que é luso-venezuelano.

“Eu não conheço em pormenor essa história, portanto não vou dizer nada sobre ela”.