Discurso. Dissimulação, intolerância, pieguices e consensos secundários

Presidente do PSD critica ambiente de “intolerância” e questiona relevância das obras públicas para as quais o Governo pede consenso

O presidente do PSD acusa o Governo e atual maioria de dissimulação e intolerância para quem pensa de forma diferente, questionando se os social-democratas não têm direito a expressar a sua opinião.

Pedro Passos Coelho considera ainda que o Executivo tem as “prioridades mal definidas” e classificou como “secundário” um eventual consenso sobre as grandes obras públicas.

“Não respeitamos a dissimulação em política e por isso denunciamos […], não aceitaremos um ambiente de intolerância em que só se discute o futuro segundo a perspectiva do pensamento dominante e em que quem não pensa como quem está no Governo não é bom português, é racista, é xenófobo ou é outra coisa qualquer”, afirmou ontem no encerramento da Universidade de Verão do PSD.

“O dr. Cavaco Silva não tem direito a exprimir a sua opinião? Se o fizer tem logo de ser o ressabiado, que precisa de palco?”, criticou, depois de o chefe do Governo ter dito que o antigo chefe de Estado “tinha saudades de palco”.

Passos Coelho lamentou que as críticas tenham procurado “desqualificar a pessoa, como se não tivesse direito à opinião, ainda por cima fundamentada”.

Pouco depois o porta-voz do PS afirmou que “Passos decidiu ser piegas porque não compreende a liberdade; existe para falar e o antigo Presidente da República e Paulo Rangel têm toda a liberdade para falar, mas também há liberdade para criticar, a liberdade é dos dois lados”, disse João Galamba.

Diabolização

No seu discurso em Castelo de Vide, o líder da oposição afirmou ainda que o Executivo “só tem uma preocupação”: “poder apresentar as suas escolhas de forma tão dissimulada que quando tiverem de ser confrontados em eleições se possa diabolizar a oposição e se possa vender um benefício muito relativo do exercício do poder”. Passos garantiu que “nós, no Governo ou na oposição, mantemos o nosso foco na esfera de médio ou longo prazo […]. Deixamos essa espuma dos dias para a geringonça”.

Evolução

A propósito do pedido de consenso pedido pelo primeiro-ministro, António Costa, para obras públicas depois de 2020, o presidente do PSD diz que não serão estas que farão o país crescer mais ou evoluir.

“Dizer que depende do principal partido da oposição para aquilo que é secundário e em tudo o que é relevante – reforma do Estado, da Segurança Social, Educação, Saúde, Justiça –, tudo isto que é indispensável para termos um país com menos desigualdades, maior justiça social, isso não é relevante”, lamentou Passos.

Ao final do dia, António Costa respondeu a Passos Coelho, dizendo que o seu antecessor “nada aprendeu e só quer repetir aquilo em que já falhou”.

“Ainda hoje, ao ouvir o líder da oposição a falar no encerramento daquela Universidade de Verão […] que mais parecia uma escola de maledicência que ocupou a semana” se verificou “que a receita é sempre a mesma”.