Medina não consegue imitar Costa

PS chamou toda a esquerda para um acordo. Comunistas rejeitaram logo na primeira conversa. João Ferreira lamenta que Medina tenha iniciado o mandato com «um ataque ao PCP»

Fernando Medina tentou fazer em Lisboa o mesmo que António Costa fez no país, mas não conseguiu. O PCP, que deu o primeiro passo para que a geringonça acontecesse, optou por ficar de fora. O Bloco de Esquerda, pelo contrário, está a negociar com o PS um acordo para os próximos quatro anos. 

Os comunistas foram dando sinais de que não estavam disponíveis para repetir a geringonça em Lisboa e bastou uma conversa para que o assunto ficasse arrumado. Preferiram, porém, que fosse Fernando Medina a anunciar, nesta quinta-feira, que, «infelizmente, o PCP não se mostrou disponível para um acordo permanente de governação da cidade». A intenção do PS era incluir toda a esquerda e, no dia em que tomou posse, Fernando Medina não escondeu o desagrado com o partido de Jerónimo de Sousa: «Creio que terá desiludido muitos dos eleitores que votaram no Partido Comunista, porque muitos ouviram da candidatura uma disponibilidade para o compromisso».

Os comunistas têm manifestado disponibilidade para acordos pontuais. Ao SOL, João Ferreira lamenta que o presidente da Câmara de Lisboa tenha optado por «iniciar o mandato com um ataque ao PCP». O vereador comunista reafirma que está disponível e «empenhado» em construir convergências. «Ao contrário, aparentemente, daquela que é a disponibilidade do presidente da Câmara de Lisboa que optou por iniciar o seu mandato com um ataque ao PCP». João Ferreira avisa que «começar por atacar quem tem este tipo de disposição não parece uma solução para a construção de convergências».

Medina negoceia com BE  desde o dia 5 de outubro

Com o PCP de fora, Fernando Medina aposta num acordo com o Bloco de Esquerda. Basta-lhe o apoio de Ricardo Robles para conseguir a maioria que perdeu no dia 1 de outubro. «O Bloco de Esquerda mostrou disponibilidade para conversar e discutir, é é isso que estamos a fazer». O autarca socialista pretende construir «uma plataforma mais permanente de entendimento e diálogo». 

Os dois partidos sentaram-se à mesa pela primeira vez  no dia 5 de outubro e desde essa data já se realizaram vários encontros. 

As delegações dos dois partidos vão continuar as negociações nos próximos dias, mas estão ainda por negociar alguns aspetos relacionados com as políticas de habitação e transportes, bem como o pelouro que será atribuído a Robles. O vereador bloquista disse, esta semana, que quer «chegar a 2021 e ter a convicção de que a cidade mudou nestes aspetos». 

A primeira reunião, uma semana após as eleições, foi tornada pública pelo Bloco. O partido de Catarina Martins  manifestou, em comunicado, disponibilidade para participar numa «viragem política» que deve incluir «a construção de creches municipais, o resgate da taxa de turismo, a recuperação dos transportes públicos ou a concretização de programas de habitação que protejam as famílias contra despejos abusivos e substituam a PPP prevista por um programa de habitação integralmente público».

Não é pouco e os bloquistas aguardam ainda a resposta do PS a algumas das exigências que colocaram com a perspetiva de que Fernando Medina vá mais longe nas «cedências». 

Se não houver entendimento, o PS terá de fazer acordos pontuais ao longo do mandato. Essa possibilidade também não foi afastada pelo presidente da Câmara de Lisboa. «Em algumas matérias virão dos partidos à esquerda, noutras poderão vir de partidos à direita», afirmou Medina, que confirmou ter almoçado esta semana com Teresa Leal Coelho. Está, porém, afastada a hipótese de fazer «acordos permanentes à direita».  

No discurso que fez, na tomada de posse, na Praça do Município, Fernando Medina prometeu que será «firme» nos compromissos que assumiu, mas abriu o mais possível a porta a um entendimento que lhe garanta estabilidade durante os quatro anos do mandato. «Seremos também, sempre, profundamente empenhados no compromisso. Porque o compromisso político tem um valor próprio no reforço da democracia e do sentido de comunidade. E porque Lisboa sempre se fez com todos, para lá das conjunturas». 

A possibilidade de atribuir pelouros a outras forças políticas, caso «haja essa vontade», foi admitida logo na noite eleitoral. 

30 novos elétricos a circular em Lisboa em 2018

Fernando Medina anunciou várias medidas para o início do próximo ano. No primeiro trimestre do próximo ano vai lançar «o concurso para a aquisição de 30 novos elétricos, tendo em vista a extensão do 15 a Santa Apolónia, a recuperação do 24 entre o Cais do Sodré e Campolide e o início de uma nova fase de expansão da rede na cidade». O autarca comprometeu-se também, num discurso que não ultrapassou os 20 minutos, com o lançamento, no início do próximo ano, de um «concurso para a construção dos primeiros seis centros de saúde de nova geração. Serão centros modernos, com meios de diagnóstico e terapia, capazes de assegurar qualidade a todos».