Medina: “Não é uma geringonça, é uma coligação a sério”

O presidente da Câmara de Lisboa cumpriu o antevisto durante a campanha eleitoral: os acordos seriam à esquerda. E foi mesmo assim

Demorou, mas acabou por acontecer. O acordo do PS com o Bloco de Esquerda foi viabilizado e a maioria absoluta que Fernando Medina perdera no mês passado assim se recuperou. Ricardo Robles, o vereador eleito do BE, ficará com três pelouros no executivo camarário: Educação, Saúde, Direitos Sociais e Cidadania.

Não é coisa pouca e as exigências presentes no acordo entre socialistas e bloquistas também não. O i teve acesso ao documento final, que enumera conquistas como mil novas vagas em creches, 14 centros de saúde e 250 novos autocarros da Carris.

Medina, que em debates durante a campanha eleitoral admitira favorecer soluções à esquerda caso falhasse a maioria absoluta, acabou mesmo por cumprir: primeiro, estendendo o convite a todo o espetro além do seu partido – BE e PCP – e, depois, somente com o Bloco devido à recusa comunista.

Sobre o inevitável paralelo a estabelecer entre a sua aliança com o Bloco de Esquerda e a solução de governo nacional liderada por António Costa, Medina marcou as devidas distâncias. “A solução encontrada não é uma geringonça, é um acordo político formal, com a assunção de responsabilidades executivas, com o Bloco de Esquerda no executivo da câmara e com um acordo sólido sobre políticas.” O autarca anunciou também que o programa com que concorreu sofrerá mudanças em consequência do acordo com o BE e acrescentou que a porta se mantém aberta para o Partido Comunista.

“Este não é um acordo contra ninguém e as portas para o entendimento com o Partido Comunista estão abertas, sempre abertas para um diálogo, para aprofundarmos as nossas convergências, para aprofundarmos os nossos entendimentos e para podermos reforçar as nossas posições comuns sobre várias matérias”, disse Medina.

Além das medidas já enumeradas, destacam-se no acordo a gratuitidade dos manuais escolares na escolaridade obrigatória até ao 9.o ano e um centro de atendimento aberto 24 horas por dia a vítimas de violência doméstica.

Lisboa como campo de ensaio? Regressando à comparação, desmentida por Fernando Medina, entre a solução da esquerda na Assembleia da República e o seu acordo com a esquerda nos Paços do Concelho, é lembrar uma frase de António Costa no final do mês passado. “O PS e o Bloco ainda não formam uma maioria neste parlamento”, recordou o primeiro-ministro. É verdade. Mas na Câmara de Lisboa já formam. E vão governar juntos.