Putin e Tiago Brandão

Quando se celebra o 100.º aniversário da revolução russa de 1917, é impossível ignorar um dos mais marcantes acontecimentos do século XX, ao nível das duas guerras mundiais

Quando se celebra o 100.º aniversário da revolução russa de 1917, é impossível ignorar um dos mais marcantes acontecimentos do século XX, ao nível das duas guerras mundiais. 

Se uns, como Jerónimo de Sousa, cantam os méritos da revolução em artigos laudatórios – e há que reconhecer que muitos teve, sobretudo ao nível da saúde e educação de um vasto povo, não esquecendo o enorme esforço de desenvolver a investigação, como tão bem defende no seu artigo -, a verdade é que a História também refere trágicos momentos que se sucederam e assassinatos em série. 

Por estas ou outras razões, nem na Rússia estes méritos revolucionários são maioritariamente reconhecidos, conforme demonstram sondagens recentes em que apenas 48% viam este acontecimento como positivo. 

E se a isto acrescentarmos que existe uma clara evolução nas sondagens – passando de 38%, em 1984, para 48%, em 2016, os que acham que a revolução de 1917 trouxe «mais mal que bem» –, podemos inferir que as camadas jovens vão gradualmente assimilando ideias diferentes, sobretudo as transmitidas por Putin. Só assim se compreende que o Partido Comunista russo, vitorioso nas eleições de 1995 e 1999, registe apenas 13,3% em 2016! 

Contra estes factos, bem pode Jerónimo vir proclamar loas da revolução ao estilo de ‘pregar no deserto’. 

Putin percebeu há muito as novas ideias do seu povo, e nunca renegando as suas origens revolucionárias deu-lhes uma forte machadada ao admitir em discursos oficiais que porventura «uma evolução teria sido preferível a uma revolução», reconhecendo a ruína do destino de milhões e criticando a existência de diversas convulsões na Rússia no século passado. 

Se acrescentarmos que há cerca de 10 anos o Kremlin passou a proclamar o dia 4 de Novembro como o feriado comemorativo do Dia da Unidade Nacional, e que as celebrações do centenário da revolução na Rússia foram absolutamente discretas, creio que tudo fica dito. Putin e a sociedade russa querem esquecer um passado que não os orgulha, e contam com o tempo e com as mudanças que se registam na sociedade para reafirmar uma nova ideologia que Putin personaliza. Mudanças que incluem os novos valores disseminados por uma internet que tudo invade. 

Esta Rússia está claramente mais aberta a um exterior com capacidade de investimento, visando aumentos de PIB significativos e, consequentemente, assegurando a melhoria das condições da sua população, mantendo vivos os valores tradicionais de acesso à educação e saúde como padrões agregadores, reforçando apostas na energia, incluindo petróleo e gás, desde há muito a principal fonte de exportações. Assim, vai Putin aumentando a sua popularidade interna, fundamental para cimentar a predominância mundial que a Rússia sempre teve mas que ele quer claramente reforçar.

Mudemos a agulha para falar de outra revolução. Esta que o nosso ministro Tiago Brandão Rodrigues vai paulatinamente fazendo na Educação em Portugal, quer em alterações de programas de ensino – privilegiando matérias no meu tempo acessórias em detrimento do conhecimento científico (Matemática, etc.) – quer destruindo a pouco e pouco programas de avaliação de alunos que o anterior ministro Nuno Crato nos deixou, em continuidade de políticas de David Justino ou Maria de Lurdes Rodrigues, sobretudo esta, pelo tempo que esteve à frente do Ministério. 

Mas não contente com isso, vai continuando paulatinamente a fazer as vontades ao sindicalista Mário Nogueira, seja aumentar o número de professores nas escolas (pese embora a queda significativa do número de alunos), seja repor direitos suspensos há anos sem um critério de mérito (dado continuar a evitar os processos de avaliação de professores, que afastariam muitos incompetentes que sempre existem em todas as profissões). 

Como corolário recente, por incrível que pareça, bramou convictamente que se empenhará «radicalmente na luta no reconhecimento dos direitos dos professores e pessoal não docente»! Saudemos o sindicalismo ministerial como fator novo na política da Educação. Eu julgava que o Ministério da Educação estava acima das tricas políticas, sendo parte da solução dos problemas desta área em Portugal, mas enganei-me. 

P.S. 1 – Conhecem o robô Sophie da Web Summit? Foi quem proferiu uma frase terrível: que os robôs vão substituir os humanos nos empregos. A brincar vão-se dizendo coisas muito sérias!

P.S. 2 – Logo havia de aparecer num hospital público uma epidemia de legionela, novamente a pôr em causa a qualidade dos serviços públicos. Inaceitável, eu sei que é. Mas espero que o Ministério Público descubra a razão de mais esta desgraça, e que ela nada tenha a ver com políticas de poupanças ou cativações.